“É melhor conhecer algumas das perguntas do que todas as respostas”.
James Thurler
É de manhã. O sol surge através da cortina, avisando a chegada de
um novo dia.
Clara levanta-se apressada enquanto olha o relógio..... dormiu demais e agora precisa correr para chegar à clínica onde trabalha pelas manhãs. Enquanto dirige pelas ruas congestionadas, reclama do trânsito e se lamenta por viver numa cidade grande onde as pessoas chegam a alcançar níveis de stress tão elevados.
Clara levanta-se apressada enquanto olha o relógio..... dormiu demais e agora precisa correr para chegar à clínica onde trabalha pelas manhãs. Enquanto dirige pelas ruas congestionadas, reclama do trânsito e se lamenta por viver numa cidade grande onde as pessoas chegam a alcançar níveis de stress tão elevados.
As lembranças do dia anterior chegam devagarinho como para não fazer
barulho.
- Isto não pode ter acontecido comigo! Devo ter sonhado.
Passou pela sala de espera
onde alguns pacientes já aguardavam a sua chegada e se preparou para as
consultas. A atendente entrou logo a
seguir perguntando se podia mandar entrar o primeiro. Felizmente era um
paciente antigo que vinha trazer os
resultados de exames que lhe havia pedido.
A manhã custou a passar. A cada
momento a imagem do “Irmão” surgia na sua mente. Finalmente terminou os
atendimentos e saiu aliviada para a rua.
O encontro com aquele velho a
deixou fora do seu centro. Sente-se como
tivesse realizado algum trabalho que
exigisse um grande esforço físico. Telefonou para a assistente e pediu que
desmarcasse as consultas da tarde. Não
tinha a menor condição de trabalhar, de ouvir as queixas dos doentes, de dar-lhes a devida atenção.
Sua mente estava ocupada com o que havia acontecido no dia anterior, não
conseguia colocar as idéias em ordem. Na verdade, não sabia mais se aquilo realmente aconteceu ou se era fruto da imaginação.
- Preciso conversar com alguém
mais experiente nesses assuntos. Que me ajude a pensar. Lúcia... ela é minha melhor amiga. É inteligente, sensata e vive lendo
livros de ocultismo, de magia, de fadas e bruxas, de ervas
medicinais.... É, ela capaz de me ouvir e ajudar a analisar toda essa história sem julgar que
estou ficando louca.
Dirigiu-se para casa de Lúcia, como fazia quando tinha um assunto
importante a resolver e queria trocar idéias a respeito.
- Ei! A que se deve esta
surpresa em plena segunda- feira? Já
sei! Conheceu alguém interessante no
final de semana... Um, pela cara, a coisa é
séria. Faltar ao consultório para
conversar.. assim, com toda essa urgência!.... Não faz o teu tipo! Estou
ficando preocupada. Vai, comece a contar!
- Você nem sequer pode imaginar o que me aconteceu ontem enquanto caminhava na floresta.- Nem me diga que encontrou alguém especial. Ah! conta logo!
- Bem, na verdade eu diria estranho... (falou deixando um clima
de suspense no ar), e completou rindo...mas não no sentido que você está
pensando.
E narrou tudo que havia acontecido em seus mínimos detalhes.
Enquanto falava o semblante da amiga, ia mudando de surpresa para
apreensão, até um olhar bastante sério.
- E aí Lúcia? Que me diz, não é
uma doideira? Você acredita no que lhe contei, não acredita? Garanto que estava
bem acordada, não foi um sonho!
- Calma , amiga! Claro que
acredito. Já ouvi casos semelhantes, mas com pessoas místicas. Acontecem até com bastante freqüência. Mas com você,
que prefere nem mesmo falar sobre esses
assuntos.....Realmente, não sei o que
dizer. O que me surpreende mais é saber que é você capaz de sair assim, seguindo alguém que não conhece, sem saber para onde
vai....Hoje, mais que nunca, há necessidade de
cuidado, você sabe! Além disso,
não sabemos as intenções desse homem. Há muito maluco por aí. Mas sem
dúvida, esse encontro pode significar
grandes mudanças para você, amiga. Talvez seja um amigo de outra vida, não
sei....
- Lúcia, nem dormi direito, meu sono foi povoado de imagens estranhas.
- Olha, Clarinha, tenho lido
muito a respeito desses assuntos.
Já tivemos oportunidade de conversar sobre isso. Existem livros fantásticos que falam desses
temas como algo natural e cotidiano. Também tenho ouvido relatos bem interessantes feitos por pessoas
que merecem toda a credibilidade. Homens e mulheres que contam experiências pessoais
ligadas à questão da paranormalidade, e mesmo até narrativas de contatos com
seres invisíveis....
- Tudo bem, que essas coisas aconteçam com você que está em contato
com pessoas ligadas aos assuntos
místicos. Mas eu?... .. Ai, amiga, não sei o que pensar, acontecer isso, logo comigo? Quando penso que saí assim, sem pensar nos
riscos...., pareço uma louca. Você me conhece, sabe que não sou assim, pelo
contrário, reconheço que sou muito
desconfiada. Algumas vezes sou até
cética demais!
- Clara! Só nos resta esperar
para ver o que vai acontecer. Imagino que no próximo domingo, você volta
lá. Mas fique alerta. A cada canto, surgem
todos os dias, mestres e gurus falando de mudanças, trazendo falsas
informações, jogando com a boa fé de pessoas que estão esperando a nova era,
buscando o conhecimento. Esses charlatões vendem um pedacinho de céu para os crédulos. Fazem uso do misticismo, e o dos mistérios ocultos para levar
vantagens.
- Esses infelizes desconhecem as Lei de Causa e Efeito. Esquecem que A
semeadura é livre mas a colheita é obrigatória. A Lei da Justiça cairá sobre
eles, com certeza.
Clara não sabia mais se queria voltar ao bosque. Vamos que o velho volte! Tinha receio de não
saber o que fazer caso ele olhasse daquele jeito. Parecia que ele a hipnotizara.
De repente, olhou para a amiga com mais atenção e disse:
- Lúcia você mudou tanto nos últimos tempos... Me faz bem conversar com
você. Me deixa mais tranqüila. Seu jeito
de falar me passa serenidade. Está até mais bonita!
- Acho que tem razão, estou-me sentindo bem. Parece que encontrei o meu
caminho. Abençoado aquele dia em que
conheci o esoterismo e o grupo ao qual pertenço agora. Lembra-se quando comecei? Logo depois de
fazer a regressão. Já não sabia mais o que fazer com as horríveis crises de
bronquite e resolvi procurar ajuda com uma Terapeuta de Vidas Passadas. Uma
professora da Faculdade me indicou a Marta, ela é ótima, e em duas sessões
encontrei a explicação da doença. Nem gosto de lembrar quanto sofrimento poderia
ter sido evitado se tivesse procurado
esse caminho mais cedo. Mas graças a
Deus, estou livre daquele tormento!
- Sim, Lúcia mas você deu sorte. Encontrou uma profissional competente, bem preparada. Há
cada coisa por aí... conheço um bom número de pessoas que leram sobre o assunto
e se dizem “Terapeutas de vida passada”.
É um risco!
- Isto é verdade, mas em todas as profissões há gente séria e os de má
fé. Não é só nesta área. É preciso
escolher bem, afinal é uma coisa muito séria, isso de fazer regressão com
qualquer um. Dei a maior sorte. Cheguei
até a origem de boa parte dos meus sofrimentos e dificuldades e ainda fui
convidada para o grupo espiritualista que Marta frequenta. Sou ou não sou uma
mulher de sorte?
Riram do jeitinho maroto de Lúcia falar.
- Clara, estou pensando em fazer
um curso de Especialização em vidas Passadas. Estou encantada com o resultado
que obtive e quero poder oferecer isto aos meus clientes. Vai enriquecer e
facilitar muito o meu trabalho de Psicóloga. Estou aguardando o início do próximo curso. Vamos?
- Não sei, Lúcia. Tenho que
pensar. Estava pensando em Acupuntura...
Prometo pensar com carinho. Esse assunto me atrai muito. De repente...
- Vamos sim, Clara... Você vai gostar! E pode ajudar melhor os seus
pacientes. Para mim foi ótimo, esse tratamento
foi o ponto de partida para a virada. Foi a partir daí que mudei o meu foco, passei a ver a vida como um grande
presente de Deus. Tudo mudou quando comecei a me conhecer. Depois disso também
encontrei o caminho espiritual.- Fui encaminhada por Ele para um espaço
esotérico muito bom. Já aprendi tantas coisas... conhecimentos que nem imaginava existir. Mas
o estudo é eterno, infinito. Quando começo a achar que sei muito, porque
entendi algo, vejo que nada sei. Sei que tenho muito que caminhar, mas o
importante é que o primeiro passo já foi dado. Se com esse pequeno passo, como
você mesmo percebeu, minha vida já mudou
tanto, imagine o que me espera.
Parou de falar por alguns minutos, ficou pensativa como se quisesse
arrumar a s idéias e continuou:
- Isso que me contou..., os sonhos, o encontro com esse velho...o que vem acontecendo com você, me parece que
são fatos perfeitamente normais . Vamos
esperar para ver o que vem por aí?
Neste ponto da conversa, Lúcia
dá uma sonora gargalhada.
- Lembra-se como eu era avoada?
Começava uma Faculdade e logo mudava. Tentava outra e outra.... nada me
agradava. Não sabia o que queria!
Você mesma dizia sempre que eu precisava
criar uma meta, descobrir onde queria chegar....Ter uma profissão, estabilidade
emocional, independência financeira... E você tinha razão. Sempre foi mais
centrada e equilibrada que eu. Sempre
quis fazer medicina e levou a sério todo o curso.
Só não entendi porque resolveu
deixar a cardiologia e resolver fazer clínica geral. Sempre disse que queria
ser médica do coração... Eu não. Não
agüento lidar com sofrimento o dia todo.
Deus me livre! Trabalhar em hospital, não dá!
- Você está certa, cada uma com sua aptidão. O que é bom para
mim, não tem que forçosamente ser bom
para você. Importante que esteja feliz. E isto não se pode negar, você gosta do
que faz. E faz bem!
- Gosto. Gosto muito. Faz-me bem ver a pessoa sair do consultório
aliviada, como se houvesse tirado um grande peso de cima dela. Fico tão feliz
saber que de alguma maneira estou ajudando as pessoas Não como você, que
receita um medicamento e pronto, já
alivia a dor. Mas de um modo diferente,
ouvindo a pessoa que vem se queixando de dores mais profundas....ajudando a
pensar, a clarear as idéias.
- Amiga, o trabalho do Terapeuta é esse: ouvir o relato do cliente,
pegar tudo que ele trás, colocar tudo em ordem,
e depois devolver esse material
para que ele o veja com novo significado. Olha, tive um Professor que insistia em dizer
que a escuta é ponto mais importante da terapia. Posso ver agora, o quanto ele
estava certo. É fundamental que o
terapeuta saiba escutar. O resto é consequência...., é um trabalho muito bonito. Olha, você nem
imagina o quanto isso me dá prazer! Realizar esse trabalho me faz sentir útil e satisfaz minhas
necessidades materiais, graças a Deus...
- É muito legal fazer o que gosto e ganhar o suficiente para viver
razoavelmente bem. Você sabe que detesto
depender de família, nunca gostei. Muito menos de homem! Mas também se
quisesse, ia ficar difícil, não aparece ninguém legal...Mas chega de falar de
mim... Voltamos ao encontro com o seu
amigo do bosque. Que pensa exatamente fazer?
- Ainda não sei. Preciso
pensar. E os tais gestos com os dedos?
Devo fazer, como ele falou?
- Nem sei responder, minha
amiga. Só mesmo você pode decidir.
As duas sabiam que esta decisão podia mudar o rumo de Clara, ela
mesma tinha que traçar seu caminho.
Ficaram em silêncio até que Lúcia se levantou e puxou a amiga pela mão.
- Que tal uma sopinha? A
conversa me deixou com fome. Vamos aquecer a sopa de legumes que está uma
delícia. Sei que não tem o hábito de
tomar sopa, mas é a alimentação
ideal para a noite.
- Até que gosto, mas dá muito
trabalho cortar e picar aquele montão de legumes e folhas, como você faz. A gente acostuma ao mais pratico e um hambúrguer e um copo de refrigerante é bem
mais prático. Mas estou querendo mudar
os hábitos alimentares.
- É impressionante como comemos mal, responde Lúcia. Nosso povo não
recebe nenhuma educação alimentar, vamos ao mais fácil, rápido e barato. Nem
imagina quanto custei para me adaptar
aos novos hábitos na alimentação.... Mas foi a primeira coisa que aprendi
quando comecei a freqüentar o grupo.
Nossa! Como isto mudou a minha vida. Até
meu humor, o temperamento....Agora quando faço as compras, tenho cuidado com a
qualidade, prefiro legumes e verduras sem agrotóxicos.....Mesmo sendo um
pouquinho mais caras, vale a pena. Prazo de validade? Antigamente nem olhava, agora é a primeira coisa que
procuro. Congelados agora não entram
aqui. Prefiro comida natural e bem
fresquinha.
- Quem te viu, quem te vê! Você
tendo todos esses cuidados! Mas é claro que você tem razão. Todos sabem
que inúmeras doenças estão relacionadas com maus hábitos alimentares. E o mau
humor também!
- Mas você disse que não
entendeu porque decidi pela clínica ao invés de cardiologia, mas na época te
falei mais ou menos a razão. Olha só:
Estava já decidida pela cardiologia, quando fui assistir a um Congresso
em São Paulo. Os novos rumos da medicina. No último dia, conheci
um médico muito simpático, Dr.
Rinalde. Postura muito séria e objetiva, gostei dele. Era Professor de uma conhecida
Faculdade. Almoçamos juntos e
trocamos opiniões a respeito do que
estavam apresentando lá. As colocações
dele, me tocaram de tal modo, que mudei
o rumo da minha vida.
- Veja que interessante: Ele é
dono de uma Clínica conhecida, muito bem sucedida e alguns anos atrás ele foi procurado por uma mulher que sofria
terrivelmente de enxaqueca. Ela já havia tentado outros médicos e ninguém a
curava. Depois de meses sem obter resultado satisfatório, e já ter esgotado
todos os recursos que a medicina convencional oferecia sem poder ajudá-la, ele
resolveu procurar um velho amigo, um conhecido homeopata para discutir o caso. Este lhe sugeriu que
procurasse um médico herborista que
vinha conseguindo excelente
resultados com a utilização de medicamentos feitos à base de
ervas. Ele aceitou a sugestão e fez contato com o tal médico, encaminhando
a cliente para ele. Ela iniciou o tratamento e em pouco tempo já
apresentava melhoras significativas, realmente foi um sucesso.
- O Doutor Rinalde ficou tão
impressionado que passou a se
interessar pelas pesquisas que
estavam sendo feitas nessa área e seguiu
ele também esse caminho, associando as Terapias Alternativas à Medicina Tradicional.
Algum tempo depois fez a especialização em homeopatia.
- Bem interessante! – respondeu Lúcia, sempre atenta ao relato da
amiga.
- Depois desse encontro, mudei minha perspectiva em relação às
possibilidades oferecidas pela medicina. Iniciei eu mesma uma pesquisa séria a
respeito da Medicina Alternativa e conheci pessoas muitos sérias nessa área de
atuação. Na verdade, passei a aceitar
uma metodologia que antes negava ser eficiente. E em vez de cuidar das doenças cardíacas, resolvi cuidar do
corpo todo. Estou pensando, mesmo, em
voltar ao Japão, agora para aprofundar os estudos e quem sabe, fazer
acupuntura.
- Parece que esse doutor Rinaldi fez-lhe muito bem.
- Parece que esse doutor Rinaldi fez-lhe muito bem.
- Sabe? Hoje está claro que essa idéia de ser cardiologista, estava
relacionada com a morte de minha mãe. Cresci ouvindo a vovó falar que seu
coraçãozinho não agüentou quando nasci, essas coisas... É muito fácil uma
criança registrar culpas, e mesmo num nível inconsciente, devo ter acreditado
ser a responsável pela morte de mamãe. Sei lá.. O Doutor Rinaldi conversou muito comigo e parece que lavou
minha alma. E mostrou algo que eu ainda
não havia percebido. Que a Medicina tradicional tem algumas falhas sérias. As
especializações médicas, pior ainda , porque levam em conta os detalhes, mas
perdem a totalidade, perdem de vista,
o homem como um todo. Veja, o
sintoma atrai a atenção do médico para determinada área do corpo, para
este ou aquele órgão. Mas essa dor pode estar mascarando inúmeras doenças mais
ou menos graves, como sabe. Dor no peito? Quantas vezes a razão está distante
do coração? Claro que o Especialista é
importante, mais que isso, é fundamental! Mas nesses casos podemos encaminhar o
paciente, conforme a sua necessidade. Esse profissional conhece melhor as partes e nós, os clínicos, tentamos conhecer
o homem como um todo.
- Na verdade, é o princípio da Homeopatia. O que Rinalde falou me fez perceber que não há
um fígado ou qualquer outro órgão doente, mas sim um ser em
desequilíbrio. Apenas isso. E ganhei um bom amigo, a quem posso recorrer em
situações que necessite de alguma orientação mais específica.
- Gostei tanto de conversar come ele, e seu discurso me tocou de tal
maneira, que na hora mudei meus planos.
E não me arrependi, pode estar certa.
Depois disso conheci outros
colegas que pensam de maneira bem
semelhante. Estou certa que é por aí mesmo. É preciso estar aberta para ouvir
as experiências e descobertas da
Medicina Chinesa, Indiana, ou de qualquer outra que nos ofereça mais
recursos.
- É verdade, Clara! Veja a acupuntura....está aí, com força total. Eu
mesma conheço muitos médicos de excelente reputação que aprenderam a técnica e
agora a estão adotando em seus consultórios.
- Isso mesmo! Eu mesma tenho casos de pessoas que não respondem aos
medicamentos de forma satisfatória e lhes
indico colegas que praticam
acupuntura. Os resultados são ótimos. É
isso que eu quero! Ajudar meus pacientes. Olha, todos os instrumentos devem ser
pesquisados e utilizados se for comprovado sua eficiência. Afinal o objetivo
da Medicina é aliviar a dor e os
sofrimentos do paciente, ou não?
Calou-se durante alguns minutos como se arrumasse as idéias enquanto a
amiga colocava os pratos sobre a mesa, e continuou como se falasse para si
mesma:
- A Medicina está sempre enfrentando desafios, isto faz com que evolua,
mas ainda há muito a fazer. Novas
doenças são descobertas todos os dias e outras que pensamos já haver
erradicado, voltam com força destruidora. Isso requer mais tecnologia e mais
recursos....
- Nós não mudamos? – falou com um
sorriso misterioso.
- É preciso acompanhar esse movimento, senão ficamos para trás. Mas vamos tomar a sopa, está deliciosa!
A conversa tomou novos rumos.
Lembranças da adolescência, de
amigos que se perderam no tempo, professores, e
da própria vida.
Quando entrou em casa, já
passava da meia noite. Era sempre assim quando encontrava a amiga. Ela sempre
foi uma pessoa divertida, alegre
mas, ultimamente, era mais que isso.
Parecia estar sempre de bem com a vida. Clara não. Era mais introvertida,
comedida...desde criança. Mesmo com as
pessoas mais íntimas, preferia mais ouvir do que falar. Mas isso não impedia demostrar a simpatia que
fazia dela uma pessoa querida e respeitada. Todos gostavam dela, apesar do
temperamento introspectivo.
Deu uma ajeitada nas almofadas sobre o sofá, trocou a água da jarra
sobre a mesinha do centro da sala, onde as rosas vermelhas se abriam,
mostrando sua beleza e toda a perfeição
da natureza. A casa está bem limpa e arrumada. Quando a avó morreu, Clara
manteve a empregada, Dona Nilza, que já trabalhava com elas à mais de dez anos.
Apenas reduziu sua vinda a quatro dias
na semana. Sozinha, não necessitava de seus serviços
diariamente. Raramente recebia visitas
e quase não parava em casa, da clínica para o consultório, de lá para cursos
de atualização. Um cineminha ou teatro de vez em quando... realmente não precisava
dela todos os dias. A casa estava sempre em ordem, roupa nos armários e
a comida pronta ou adiantada. Ainda
assim, Clara gosta de dar o seu toque no
ambiente. A casa dela tem que ter a cara dela, como costuma dizer.
Quando olhou ao redor e deu-se por satisfeita, foi à cozinha e pegou um
copo de água, dirigindo-se para o quarto de dormir.
Logo se acomodava debaixo do edredon macio, mas ainda se lembrou da
amiga recomendando, mais uma vez, máxima cautela com essa história do velho.
Acordou cedo, mas bem disposta.
- Bom dia, dia! Desde menina saudava o novo dia. Aprendeu com a avó. Ela dizia que era uma forma de agradecer a
Deus pelo novo dia. Nada como uma boa noite de sono!
Saiu para o trabalho sem sequer lembrar do velho do bosque.
Saiu para o trabalho sem sequer lembrar do velho do bosque.
Tantas coisas a fazer, algumas
visitas a clientes hospitalizados ...
O tempo que sobrava era todo para estudar. Havia muito a aprender, técnicas novas que queria conhecer melhor.
O tempo voou e assim, quando viu, a semana havia terminado.
Essa questão do tempo é bastante
interessante. Alguns dias voam enquanto outros se arrastam minuto por minuto.
Quando a lembrança do velho surgia, ela a afastava decidida a não pensar no
assunto. E naturalmente, não fez os gestos que lhe ensinou.
À noite ligou para a amiga Lúcia.
- Graças a Deus esta semana foi tranqüila. Fiquei preocupada com a
possibilidade de sonhar novamente com
aquelas figuras estranhas.
- Que bom! E ai? Resolveu se vai caminhar amanhã?
- Que bom! E ai? Resolveu se vai caminhar amanhã?
- Claro que vou. Não vou modificar meus hábitos por causa
dele. Além disso, quem me garante que
ele vai aparecer por lá?
- Se não tivesse compromisso, eu iria com você.
- Se não tivesse compromisso, eu iria com você.
- Não se preocupe, estou bem tranqüila. Pensei em chamá-la para andar
um pouco, mas lembrei que aos domingos você costuma ter aqueles
encontros com o grupo de estudos, não é isso? Olha! Uma hora dessas, se me convidar, vou
com você.
- Nem acredito! Você nunca quis me acompanhar, por mais que a
chamasse. Pensei até que tivesse algum tipo de preconceito em relação a esses
assuntos. Não insisti porque respeito a
filosofia e a religião de cada um. São assuntos que não se discutem. Mas se
está disposta a me acompanhar, vou consultar o grupo sobre isso. Tenho certeza
que vai gostar. E as pessoas são ótimas, tão amigas...
- Então fica combinado. Depois voltamos a falar sobre isso. De repente
vou gostar mesmo!
Esta noite custou a adormecer. Os pensamentos não paravam. E se ele
aparecer? Como se comportar?
- Se me chamar de novo para a gruta, não vou, mas não mesmo! Bom, já que ele pode ler meus pensamentos
vai saber que não fiz nada daquilo que me ensinou.
Lembrou-se do gesto. A curiosidade falou mais alto e encostou o dedo
indicador da mão direita no da esquerda. Só para ver o que acontece, pensou
meio sem graça. Nada. Prestou bastante atenção, ficou bem quieta para ver se acontecia alguma coisa. Nada, não
aconteceu absolutamente nada. Ficou decepcionada. Não teve coragem de levá-los
à testa. E se ele aparecesse ali?
Riu de si mesma, sentindo-se ridícula, quando esse pensamento
lhe passou pela cabeça.
continua...
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