Na Terra, o homem é o primeiro animal capaz de servir-se de sons articulados. Ele é muito orgulhoso disso.
Aliás, se utiliza dessa capacidade sem medida nem discernimento.
O mundo está ensurdecido pelo ruído de suas palavras, mas às vezes se é tentado a lastimar o silêncio harmonioso do reino vegetal.
O constante zumbido das palavras parece o acompanhamento indispensável das tarefas cotidianas.
No entanto, logo que se procura reduzir o ruído ao mínimo, percebe-se que muitas coisas são feitas melhor e mais rápidas no silêncio, e que isso ajuda a manter a paz interior e a concentração.
Se você não é sozinho e vive com outros, adquira o hábito de não se exteriorizar constantemente em palavras pronunciadas em voz alta, e você perceberá que, pouco a pouco, uma compreensão interior se estabelece entre você e os outros; poderá então intercomunicar-se reduzindo as palavras ao mínimo, ou mesmo em palavra alguma.
Esse silêncio exterior é muito favorável à paz interior, e com boa vontade e constância na aspiração você poderá criar um ambiente harmonioso, muito propício ao progresso.
Na vida em comum, às palavras que dizem respeito à existência e às ocupações materiais virão juntar-se aquelas que exprimem as sensações, as emoções e os sentimentos.
É aqui que o hábito do silêncio exterior se revela como uma ajuda preciosa.
Pois quando somos invadidos por uma onda de sensações ou de sentimentos, esse silêncio habitual nos dá tempo de refletir, e, se for preciso, de nos retomarmos, antes de projetarmos em palavras a sensação ou o sentimento experimentado.
Quantas disputas podem assim ser evitadas!
Quantas vezes seremos salvos de uma dessas catástrofes psicológicas que são, na maioria das vezes, o resultado de uma incontinência verbal.
A menos que você seja responsável por certas pessoas, seja como guardião, instrutor ou chefe de serviço, você não tem nada a ver com o que elas fazem ou não fazem, e é preciso abster-se de falar deles, de dar sua opinião sobre eles e sobre o que fazem, ou mesmo de repetir o que os outros podem pensar e dizer deles.
Em todos os casos, e de uma maneira geral, quanto menos se fala dos outros, mesmo se for para elogiá-los, melhor.
Se já é tão difícil saber exatamente o que acontece em si mesmo, como saber, então, com certeza, o que acontece nos outros?
Abstenha-se, portanto, totalmente de pronunciar sobre uma pessoa um desses julgamentos definitivos que só podem ser uma tolice, se não uma maldade.
Ninguém conhece a verdade exata das coisas aqui, e cada um fala como se soubesse, mas ninguém sabe realmente.
Se, um dia, a verdade fosse desvelada a todos, a maioria das pessoas, aqui e em toda parte, ficaria apavorada pela enormidade de sua ignorância e de sua falsa interpretação.
Por isso, aconselho todos a ficarem em paz e a absterem-se de todo julgamento. Isso é o mais seguro.
(Mirra Alfassa (A Mãe) (Paris-1878./1973), que viria a ser a grande companheira de Sri Aurobindo e divulgadora de sua obra)
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