Certa vez, num exame de Filosofia, foi colocada a seguinte questão: "O que é a liberdade?". Pense um pouco nisso... o que você responderia?
A resposta de alguém foi, tão somente: "Liberdade é o direito que tenho em não responder a esta questão." Conta a história que essa pessoa obteve nota máxima nessa resposta. Tão simples assim.Aliás, por que deveria ser mais complicado?
Essa liberdade, o direito natural de fazer as suas escolhas, é a raiz do desprendimento. Ser livre para se desprender de uma noção equivocada, uma falsa identidade, construída ao longo da vida e fundamentada nos atributos do corpo e da mente, que por estarem em constante mudança podem trazer insegurança e receios, é o objetivo de vida que o Yoga propõe.
Yoga e desprendimentoNo Yoga, o desprendimento tem, portanto, um lugar bem destacado. Em Sânscrito, língua-mãe do Yoga e da Índia, desprendimento pode ser traduzido por "moksha" - objetivo último desta tradição de ensinamento sobre autoconhecimento. Para o ser humano conhecer a sua verdadeira identidade, primeiro precisa desfazer o principal equívoco que o impede de desfrutar da plenitude que aspira: é preciso, então, começar por desprender-se da noção de insuficiência, carência e pequenez que pauta a sua vida. Esse entendimento é fundamental. Assim, torna-se possível terminar com a agitação mental que muitos bem conhecem (e nem sempre admitem).
Essa agitação mental traduz-se em confusão e inquietude, já que, longe de se identificar com algo maior, as pessoas geralmente identificam-se de uma forma muito relacionada à sua personalidade, tendo orgulho ou aversão ao corpo limitado e uma mente, ora imaginativa e fértil, capaz e equilibrada, ora insegura, triste e depressiva. Logo, vive com bastante intensidade os papeis que desempenha na família e na sociedade com alegrias, mas também com frustrações intermináveis e muito penosas. Sempre tentando, embora em vão, tornar-se algo que, em essência, já é - completo,totalmente aceitável, pleno.
"Você concorda comigo quando digo que é necessário fazer muita coisa para sermos aceitos mas muito pouco para aceitar o que somos?"
Basta aceitar e ser.
Depois de muita procura, também cheguei à maior descoberta do estudo de Yoga: eu vivo em busca do que já sou; a paz que desejo, o relaxamento que procuro e a grandeza que almejo estão em mim, nascem em mim, e, no fundo, sou eu mesmo, em essência, pois se assim não fosse eu estaria insatisfeito quando alguma dessas coisas que valorizo e estimo estivessem presentes, se manifestassem. A clareza mental, a visão do mim mesmo como um ser ilimitado, pleno, onde corpo e mente são apenas objetos relativos, com suas virtudes e limitações, é o maior ato de desprendimento. É a entrega da personalidade pequena, um "eu-menor", aos pés do universo, ao todo, à ordem, a uma inteligência infalível e a aceitação de um "eu-maior", ilimitado em paz, amor e compaixão, onde os papéis que desempenho e a personagem que vivo estão em harmonia com o destino e as ações que devem ser feitas para o bem comum.
Para este entendimento é necessário uma certa inquietação, uma procura inicial. Uma busca de perceber, compreender quem sou, o que é esse mundo e quem o criou. Isto exige um desejo de crescimento interior. É o caminho da espiritualidade que pode, naturalmente, um dia, surgir. Nesse dia, a tradição védica, que tem no Yoga o seu porta bandeira, dá a resposta. Descobrir quem realmente sou, termina com a minha busca. Sei que basta ser quem sou e estar comigo mesmo - eu me basto. Na família e na sociedade cumpro papeis e devo cumpri-los de forma adequada. É necessário estar consciente disso e estar presente em paz a cada momento. É vital colocar a ênfase num "eu" livre de qualquer limitação e saber desempenhar este personagem que traz consigo as suas características próprias. Preciso descobrir isso em mim, uma suficiência e ficar confortável com essa ideia.
Pense sobre isso e tente descobrir em você.
por Gustavo Cunha,
postada em "Portal arco Iris"
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