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— Fico impressionado ao ver quão longe vão os companheiros encarnados em suas
fantasias. Poderiam ser muito mais úteis caso mantivessem os pés no chão.
Diante
de tantas coisas que aprendi naquele curto espaço de tempo junto aos guardiões,
comecei a pensar sobre outra das minhas inquietações, também relacionada ao
intercâmbio entre habitantes das esferas física e extrafísica. Intrigam-me a
complexidade e as inúmeras nuances e sutilezas dos fenômenos agrupados sob o
nome de obsessão. Os guardiões, pelo que sei, têm o assunto em alta conta.
Consideram-no de máxima importância, reclamando um acompanhamento mais detalhado
da parte dos estudiosos da ciência do espírito. Apresentei a ambos minha
curiosidade a respeito da diversidade de fenômenos envolvendo o processo
obsessivo. Anton se dispôs a falar um pouco enquanto nos aproximávamos da
atmosfera lunar.
— Sabe, Ângelo, nós, os guardiões,
acreditamos que sejam necessários estudos mais aprofundados acerca da
personalidade dos chamados obsessores.
Em
grande parte, são casos crônicos, que merecem atenção maior do que aquela
oferecida em alguns poucos minutos de uma reunião mediúnica. Em nossos estudos,
temos visto obsessores se utilizarem do produto de emoções, pensamentos e
idéias dos seres encarnados para incrementar o assédio a suas vítimas dos dois
lados da vida, até mesmo usando animais e habitantes subumanos da esfera
extrafísica. As especialidades dos obsessores e os artifícios de que lançam mão
variam largamente, conforme o escopo de seu planejamento infeliz. Essa
importante realidade precisa ser considerada, e a única maneira de atuar de
modo eficaz a partir dessa informação é manter-se aberto para detectar o
emprego de novos métodos e ao mesmo tempo guardar o bom senso e a cautela que
caracterizavam Allan Kardec. Aceitar toda percepção sem questionar é render-se
ao domínio do fantástico e do maravilhoso; rejeitar sistematicamente o
ineditismo, cedendo sempre à desconfiança, ainda que a pretexto de resguardar
o trabalho é condená-lo à mesmice e à obsolescência da terapêutica
desobsessiva.
"Alguns
obsessores procuram apenas influenciar os encarnados, sem maiores recursos
técnicos ou conhecimento do que fazem. Do lado de cá a realidade não é tão
diversa da que se vê no plano físico: há uma massa de seres preguiçosos, que
não investem tempo nem esforços nem sequer para atingir os próprios objetivos
— nesse caso, obter energias de suas vítimas. Enquanto isso, no entanto, especialistas
do astral pesquisam inúmeros recursos, que vão desde os conhecidos aparelhos
parasitas até alterações bioquímicas levadas a efeito nos corpos físicos de
seus alvos encarnados, vampirizando-os de acordo com mudanças hormonais e outras
flutuações da dinâmica interna de seu organismo. Procuram elementos que lhes
possam suprir as deficiências inerentes à sua condição espiritual e, para
tanto, sentem-se à vontade para fazer experimentos no universo de seres
desprovidos de qualquer preocupação com a preservação e a segurança íntimas,
ou seja, que não oferecem barreira à sua ação criminosa. Ainda no campo
fisiológico, adulteram, por exemplo, a produção de adrenalina, endorfinas e
outras substâncias para fabricar venenos desenvolvidos em seus laboratórios
sombrios. Outros exploram o medo, o pavor e outros traços delicados do p si
quis mo enfermiço de humanos encarnados. Há verdadeiras escolas de psicologia
no mundo inferior, que oferecem 'carreiras' atraentes a um sem-número de
indivíduos desavisados, ignorantes da causa hedionda na qual militam, cegos
que estão devido às pretensões que alimentam."
O
orgulho é arma indispensável na economia das sombras, e seus legítimos representantes
sabem manipulá-lo com maestria - acrescentou Jamar.
Há
também especialistas das trevas que aproveitam encontros de grupos com reles
intenções — prosseguiu Anton. — Orgias, gangues e determinados clubes são
alvos propícios para se fixarem e extraírem as emanações tóxicas dos que ali se
reúnem. Ao examinar tudo isso, não há como se furtar à conclusão, ainda que
pesarosa, de que a base dos assédios energéticos e espirituais é mesmo a pessoa
que se diz vítima. Ou seja, ela própria é quem alimenta no obsessor a sede de
materiais e elementos psicofísicos para a satisfação de seus desejos e
instintos. Até que ponto um obseda outro ou, na verdade, ambos se influenciam
mutuamente, mantendo-se presos a um círculo vicioso de comportamentos arraigados?
As
palavras de Anton repercutiam em mim como um vendaval, pois já acompanhara
alguns processos obsessivos de variada complexidade. Houve ocasiões em que me
debrucei sobre o assunto, entretanto deparava agora com quanto ainda há por
aprender, estudar e refletir.
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do livro "Os Senhores da Escuridão", de Robson Pinheiro, ditado por Ângelo Inácio
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