Se a Ciência é a poesia da realidade, novas descobertas científicas são mais estrofes desvendadas aos versos. Há menos de um século, cientistas descobriram o que faz o nosso Sol brilhar em uma poesia unindo desde a gravidade, através da qual toda massa no Universo atrai a si mesma, até uma nova forma de energia, ordens de grandeza mais poderosa que o fogo, que pode ser liberada quando a atração gravitacional une partículas com tanta intensidade que leva à fusão de seus núcleos. Sem início nem fim, entender as estrelas como fornalhas nucleares também leva à compreensão de que elas respondem ainda pela origem dos elementos químicos que compõem o mundo em que vivemos. Foi há menos de um século que cientistas descobriram o verso de que, como declamou Carl Sagan, somos poeira de estrelas.
A beleza deste verso só foi descoberta há algumas décadas, e é profunda. “Todo átomo em seu corpo veio de uma estrela que explodiu. E os átomos em sua mão esquerda provavelmente vieram de uma estrela diferente daqueles em sua mão direita. É realmente a coisa mais poética que conheço sobre a física: Vocês são todos poeira de estrelas”, lembra o físico Lawrence Krauss. “Não poderíamos estar aqui se estrelas não tivessem explodido, porque os elementos – o carbono, nitrogênio, oxigênio, ferro e todas as coisas que importam para a evolução e a para a vida – não foram criados no início dos tempos. Eles foram criados nas fornalhas nucleares de estrelas, e a única forma deles formarem nosso corpo é se essas estrelas tiverem sido gentis o bastante para explodir. (…) Estrelas morreram para que você estivesse aqui hoje”.
E há belezas sem fim sendo descobertas pela ciência, em novos versos da poesia da realidade. Nesta coluna descobriremos um particularmente novo e belo, que envolve uma história um pouco mais longa para ser contada, mas com versos em cada estrofe.
Eclipses
Eclipses são fenômenos raros, uma vez que você apreende mesmo uma vaga noção de quanto espaço vazio há entre todos os corpos do sistema solar, que eles se alinhem para que, vistos da Terra, fiquem uns em frente aos outros, a beleza de trânsitos e eclipses adquire tons mais fortes. Mas este é um verso que já foi vislumbrado por astrônomos há milênios.O próximo passo para apreciar o novo verso da poesia da realidade está no eclipse solar, na forma como um corpo celeste, como um planeta passando em frente ao Sol pode obscurecê-lo.
Exoplanetas
E esse é grosso modo um dos principais meios usados para descobrir planetas além do sistema solar, os chamados exoplanetas. Há vinte anos o primeiro exoplaneta foi confirmado, e desde então a contagem só aumenta. Hoje, 5 de janeiro de 2013, já contamos 809 planetas confirmados além do sistema solar. O número deve aumentar ainda mais: o satélite espacial Kepler, usando exatamente o método de trânsito, observando o brilho de milhares e milhares de estrelas, detectou milhares de variações compatíveis com planetas. Planetas, além do sistema solar, passando em frente às estrelas que orbitam, provocando um tremeluzir bem específico.
Bem, agora estamos prontos para entender finalmente um dos mais novos e belos versos descobertos pela ciência.
Mundos sem Fim
Há pouco mais de vinte anos, cientistas não sabiam ao certo se havia planetas além do sistema solar. Sempre se desconfiou, mas eram apenas hipóteses. Hoje, já conhecemos os endereços certos de centenas de planetas, e logo a contagem será de milhares e milhares de mundos com características definidas, orbitando estrelas catalogadas. Não são mais fantasia. E o verso se completa com a revelação de que se você olhar para uma noite estrelada, com milhares de sóis distantes, com certeza alguns também estarão naquele exato momento experimentando o trânsito de planetas. Se o satélite Kepler em seu minúsculo naco de céu pôde observá-los, uma boa noite estrelada visível a olho nu seguramente contém muito mais deles.Observar o céu noturno e milhares de estrelas é observar, ainda que indiretamente, incontáveis mundos distantes transitando em frente aos seus sóis.
Não saberemos ao certo particularmente qual das estrelas do céu acabou de tremeluzir por causa de um planeta, daí porque são, a olho nu pelo menos, incontáveis. Apenas um telescópio de enorme precisão, de preferência no espaço, poderá confirmar tal vislumbre. Mas estes detalhes são sílabas poéticas. O mais novo verso da poesia da realidade é descobrir que para ver mundos sem fim pelo Universo, basta olhar para o céu noturno. O trânsito de Vênus em frente a nossa estrela pode ser raro, mas o trânsito de incontáveis planetas além do sistema solar é tão comum quanto uma noite estrelada.
Isso já seria belo como fantasia. Através da ciência, acabamos de descobrir ser realidade.
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