Não
importa a razão: quando nos sentimos desajustados em nós mesmos,
tornamo-nos reféns de nossa própria autocrítica. Muitas vezes, quando
passamos alguma vergonha (seja por algum motivo relevante ou não)
ficamos presos a um estado interno que nos coloca cada vez mais para
baixo. O mesmo pode ocorrer quando somos agredidos ou simplesmente fomos
mal atendidos.
Quando o desconforto próprio ou alheio entra
dentro de nós, só nos resta cuidar deste mal-estar. Se os outros (ou nós
mesmos) nos tratam mal, ainda assim, podemos nos tratar bem! A alavanca
para mudar este sistema é saber nos auto-acolher.
Auto-acolhimento é estar disponível para nós mesmos: abrir espaço
interior para nos recebermos. Mas, se nossa linguagem interna soar
hostil, não iremos querer nos auto-escutar. Naturalmente, se nos
sentirmos desconfortáveis, vamos querer cair fora, mas para onde ir
quando o mal-estar está instalado em nosso íntimo?
A primeira
coisa a fazer é parar de nos colocar para baixo. Dizer a nós mesmos
repetidas vezes: "Ok, isso de fato ocorreu, agora cabe a mim diluir esse
impacto, escolho me auto-acolher". Quando agimos assim, acionamos nossa
base interna de segurança, pois, passamos a estar disponíveis para nos
receber ao invés de nos criticarmos ainda mais.
Auto-acolher-se
não quer dizer ser condescendente com os próprios erros. Mas, sim,
tratar a nós mesmos com gentileza à medida em que admitimos nossas
falhas.
Auto-acolher-se não quer dizer justificar nossa
fraqueza como vítimas de consequências injustas. Mas, sim, dar a nós
mesmos a chance de nos levantarmos assim que caímos.
Quando
pararmos de nos rejeitar, conseguiremos nos aproximar de nós mesmos a
ponto de escutar nossas reais necessidades internas. A questão é que
muitas vezes estamos tão sobrecarregados pela sensação de não nos
sentirmos atendidos, que sequer conseguimos escutar nossos pedidos
internos. Mas, à medida em que permanecemos ao nosso lado, mesmo que
inconformados com o ocorrido, passamos a nos escutar.
Validar
nossas necessidades é outra forma de nos auto-acolher. Depois que
reconhecemos o direito de nos darmos algo, agora precisamos agir de modo
coerente para recebê-lo. Se quisermos ser respeitados em nossos
limites, precisaremos inicialmente ser sinceros para reconhecê-los.
Por exemplo, muitas vezes dizemos sim, quando na realidade queríamos
dizer não, simplesmente porque não levamos a sério nossos limites e
necessidades. Isso ocorre porque não aprendemos a escutá-los. O medo de
lidar com a decepção alheia é um reflexo da incapacidade de nos
auto-acolhermos diante de nossos próprios limites!
Portanto,
podemos sempre ampliar nossas possibilidades internas na medida em que
nos mantivermos em contato com nossa base interior. Esta não é uma
atitude egocentrada, na qual o outro não é levado em consideração. Mas
simplesmente parte do processo diário do desenvolvimento interior.
Sabermos nos respeitar é uma forma saudável de liberarmos o outro de
nossas expectativas exageradas.
Quando nos auto-acolhemos,
podemos ser quem somos. Livres da pressão interna de corresponder a
expectativas que ainda não estamos prontos para cumprir, podemos relaxar
e gradualmente gerar novas forças para seguir adiante. Uma vez
confortáveis com nossa base interior, podemos nos preparar para receber
melhor o outro, seja em sua alegria ou desconforto...
Bel Cesar - psicóloga e pratica a psicoterapia
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