Cativa de suas vivências internas, Patrícia permanecia mergulhada na própria amargura. Entre visões, sonhos e pesadelos, sua mente perdera o controle por completo. Intimamente até lutava para sair daquela situação, mas sentia que uma força oposta a puxava em direção ao mergulho cada vez mais profundo dentro de si mesma.
Um misto de tristeza, mágoa e desespero era o que irradiava se seu íntimo. Às vezes, sentia uma mão tocar-lhe ora a testa , ora os cabelos; notava ligeiramente que era aconchegada por alguém invisível. Novamente, as imagens de sua tormenta íntima venciam a resistência e ela regressava às camadas mais profundas dos arquivos mentais.
O inconsciente é o grande porão da mente humana. Nessa dimensão mental do psiquismo profundo, vivem perpetuadas imagens robustas de conteúdo emocional traumático, aguardando a hora certa de emergir. Em alguma momento, o ser terá de enfrentar-se, e essas imagens vivas do passado virão à tona, de maneira mais ou menos tormentosa , de modo qu sejam elaboradas, trabalhadas.
Muitas vezes, a pessoaa não se sente forte o suficiente para enfrentar as angústias e tormentas íntimas, preferindo refugiar-se em situações complexas que a levam ao isolamento ou a fugas e máscaras, que revelam como uma tentativa de encobrir-se, de maquiar a realidade interna. Nem sempre o ser sai ileso dessa tentativa.
Patrícia vivia essa realidade agora. Estava presa no coliseu mental, numa dimensão além-física, na qual se fizera expectadora de si mesma; entre emoções fortes, descontroladas, oscilantes e imagens vívidas de cores pulsantes, pintadas segundo a força de suas próprias sensações. Eram imagens que surgiam aqui e ali, no panorama íntimo, e deixavam marcas fundas em suas recordações, tornando as emoções cada vez mais desalinhadas, num círcilo vicioso.
Enquanto assistia intimamente ao desfilar das personagens, descobria que cada um daqueles seres fantasmagóricos se revelava como máscara de si mesma. Ela era a atriz e a expectadora daquele drama que se projetara, vivo, em sua tela mental. Facetas de sua própria personalidade ou de dramas vivenciados em algum momento de sua existência - ou, quem sabe, daquela existência que julgava ter terminado. Mas sempre algo ou alguém, um personagem da história que ela mesma forjara e vivenciara.
Enfim, sua vida era um grande teatro, e as imagens que via e vivia em seu íntimo eram o reflexo de um autorretrato, um desfilar de seus personagens ou subpersonalidades. Um filme de sua própria vida? Patricia não tinha condições de saber, responder, tampouco raciocinar a respeito. Ela apenas via e vivia, condenada à angústia e à melancolia.
Por um prodígio que não podia explicar, fora levada a rever cada detalhe daqueles 37 anos que vivera. Mergulhada num transe sutil e, ao mesmo tempo, profundo, ela não conseguia interferir no processo que ocorria nela e com ela.
As recordações a dominavam por completo, as emoções definiam seu estado a partir de então; era expectadora da própria existência.
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do livro "O Próximo Minuto" de Robson Pinheiro, pelo Espírito Àngelo Inácio
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