VII "Tenho apenas três coisas a ensinar:
Simplicidade, paciência e
compaixão. Este é o nosso maior
tesouro.
Simples em pensamentos e ações,
retornarás à Fonte do Ser”.
Lao-Tsé
- Bem.... Alguns dias, antes de
regressar ao Brasil, resolvi voltar à
Irlanda e Escócia. Já havia ido lá algumas vezes, mas são lugares muito
especiais para mim. Há algo nessa terra que me atrai. Irlanda e Escócia são lugares mágicos. Lá
sinto uma emoção diferente de qualquer
outro lugar. Creio que tem relação com
os contos que eram minha leitura favorita quando criança e adolescente.
Neste ponto do discurso de João Carlos, Clara levantou uma pálpebra
sinalizando que não havia entendido bem ou talvez pedindo mais clareza no
relato.
- Sempre gostei muito de ler. Lembro dos meus pais me contando histórias. Eles sempre incentivaram
os filhos no gosto da leitura. Quando tinha uns nove ou dez anos meu pai chegou
em casa com um livro : “Os
Cavaleiros da Távola Redonda”. Esse foi o primeiro de uma série
interminável de livros sobre o Rei Artur, Merlim, Lancelot, a busca do Santo
Graal...enfim as aventuras ou, se
preferir, a lenda do corajoso Rei Artur
de Pendragon e seus corajosos
cavaleiros.
- Passei bons anos da minha
vida lendo e relendo inúmeras versões
desse “mito” e sua luta para unir as
terras da Bretanha. Essas leituras
me acompanharam toda a adolescência e tornei-me um grande admirador da coragem
e idealismo desse Rei que liderou o seu
povo com justiça, na direção da
tão desejada liberdade.
- Clara, nem imagina quantas horas passei “viajando como escudeiro do meu Rei”.
Os olhos de João brilharam.
Parecia que havia voltado à
infância. Era a criança que
sonhava lutar ao lado de Artur.
- Li muito a respeito. Li tudo
que encontrei. Queria saber se essa história era ou verídica. Procurei bibliotecas onde podia encontrar
informações, relatos... li muitos livros e outros materiais de pesquisa. Busquei
a autenticidade dos fatos narrados
por tantos autores de diferentes países e épocas. Você deve convir que
são tantas as obras que falam sobre o Rei Artur, que algum fundo de verdade haveria de
ter.
- Quando criança, perguntei um
dia a meu pai se ele acreditava na
existência do Rei Artur. Ele me garantiu
que o meu Rei, como eu chamava, era real e não uma ficção. Garantiu-me que no momento certo eu teria acesso
a informações que provariam essa
verdade. Falava disso com aquele olhar de quem sabe mais do que diz, olhar que
lhe dava tanta credibilidade. Naturalmente,
eu acreditava plenamente nas suas
palavras. Talvez isto tenha sido
responsável pela minha busca.
- O que consegui?
- Tanto em obras de ficção como
em algumas esotéricas é falado que o
castelo de Artur, Camelot era uma espécie de cidade fortaleza na Escócia e não
na Inglaterra, como eu pensava. Camelot,
a cidade dos sonhos, como era conhecida,
era um forte onde os fracos
encontravam segurança, proteção e justiça. Povos dispersos e vulneráveis,
sem uma forte liderança, eram vítimas de
ataques dos bárbaros, por falta de quaisquer recursos para se defender de
pessoas sem qualquer valor, ou mesmo de
valores questionáveis. Em Camelot esses pobres homens podiam contar com justiça
e segurança.
Clara sorriu de modo estranho.
- Parece que não há qualquer dúvida a respeito da veracidade dos fatos.
Para você Camelot não é um mito. Estou
errada?
- Não. Está certa! Acredito
totalmente nisto. E mais, sei que Artur, o meu Rei, continua dando segurança,
proteção e levando justiça a quem acreditar nisso. A espada de Excalibur continua a serviço da
justiça, pode acreditar!
Clara apenas olhava, não sabia o que pensar.
- Depois das previsões de Mary, voltei mais uma vez, à Escócia, Queria me despedir de um determinado castelo que me
atrai muito especialmente. É um lugar lindo...não sei, mas é diferente. Lá sempre me sinto como se
estivesse em casa. Já na primeira visita
senti uma estranha energia circulando no lugar. Como se essa energia fosse
viva, tivesse consciência, entende?
- Percorri os vários salões,
corredores, escadas.....Tudo ali é mágico. Parei num determinado
aposento, um grande salão. Queria ainda uma vez
mais, admirar os escudos e armas
que lá estão expostas...
- De repente, foi como se estivesse sonhando, ou quem sabe, entrado em
transe... qualquer coisa parecida. Eu
via tudo com outras cores, com mais vida.
Não era eu, João Carlos, quem estava ali. Ou melhor, era eu, mas era
como se fosse um outro eu, diferente. Minha atenção estava voltada para um escudo que pertencera a um dos cavaleiros. Ele estava ali,
exposto na parede da sala e eu não conseguia desviar o olhar. Mas logo
em seguida eu me via na entrada de uma espécie de túnel. Lá no que parecia ser o final dessa
passagem, podia ver uma luz muito
brilhante. Uma força estranha me fez atravessar esse túnel o logo chegava onde
havia visto a luz. Mas ela não estava lá onde parecera estar. Ali começava uma escadaria que descia para
algum lugar. E lá no final, vi a luz. Desci os degraus que pareciam nunca
terminar, como se me levassem às profundezas da Terra. Uma coragem que surgiu
não sei de onde me dizia que era para ir até o fim.
- Ao chegar ao último degrau, estava num salão imenso. Uma grande
expectativa foi tomando conta de mim. Alguma coisa muito importante ia
acontecer pois sentia uma emoção e ansiedade estranhas. Não podia ver com
clareza devido a uma espécie de nuvem que preenchia o espaço. Mas sentia a
sensação e de algum modo meu coração sabia que o quer que fosse ocorrer
ali, era uma parte importante da minha
existência. Podia ver além daquela cortina de fumaça, um trono belíssimo e
vários cavaleiros que pareciam aguardar alguém. Foi quando uma figura majestosa
entrou pela grande porta lateral. No meu coração, eu o reconheci. Era Artur, O
Rei. Ele se dirigiu até o trono e
sentou-se. Eu precisei algum tempo para sair daquele estado meio
catatônico. Logo depois me vejo indo na
sua direção e ajoelhando-me à sua frente.
Então ele se levantou e aproximou-se de mim, dizendo algumas poucas
palavras que ainda hoje consigo ouvir: “Aproxime-se, meu Nobre Cavaleiro!” As
abençoadas palavras! As mais bonitas já ouvidas por um homem.
- Creio que e emoção foi muito forte porque me senti desfalecer ao ver
a cena. - Logo porém, surgiu na minha tela mental uma outra cena. Ele, com a sua espada, Excalibur, aquela espada
que desde criança aprendi a amar, tocou meus ombros e me consagrou seu
cavaleiro. Era emocionante rever aquelas cenas.
Surgiu mais uma e lá estava eu vestido como um cavaleiro, portando um
escudo exatamente igual àquele exposto na parede do castelo da Escócia. Uma Espada embainhada na
cintura.....Preparado para seguir o “meu Rei” em mais uma batalha pela
unificação da Bretanha. Descendo por corredores que pareciam túneis me
juntava a outros que já esperavam. Cavaleiros e escudeiros prontos, até mesmo
para dar a vida por seu amado líder.
- Diante dessa visão, meu coração deu
um salto, as batidas aceleraram assustadoramente. Isto me trouxe de
volta para o castelo que estava visitando.
Lágrimas corriam dos meus olhos, não pude evitar a emoção e saí dali para que ninguém visse meu choro.
Nesse ponto da narrativa, João Carlos se calou. Estava visivelmente
emocionado. Clara, por sua vez respeitou o momento do amigo e ficou em
silêncio. Na verdade nada havia a dizer.
Foi João quem reiniciou a conversa, muito tempo depois.
- Bem. Foi o que aconteceu de
mais importante em minha vida. Como vê
não posso ter dúvidas. Essa volta
ao passado foi um presente que a vida me deu. Alguns dias depois, já no Brasil,
contei ao meu pai o que aconteceu.
Ele me disse que já que eu
acredito em reencarnação, não há razão para surpresas.
- Lembro do seu o olhar
provocador ao perguntar: “O que
te impede de procurar mais conhecimentos
sobre tudo isso que tanto te atrai? O seu sorriso maroto enquanto me falava, piscando um olho: Se procurar
direito talvez descubra por onde andam Artur, Merlim e tantos outros seres que
viveram antes de nós.
- E foi o que fiz. Mergulhei nos livros de Espiritualismo, de Ocultismo, de esoterismo, magia....Descobri que Artur,
Merlim e outros que vieram antes de nós, ainda que em outro Plano, continuam
servindo a humanidade. Participo de
encontros, grupos de estudo e tudo mais onde possa encontrar as respostas que
procuro. E naturalmente, uso o tempo
disponível para levar adiante o que aprendo. É uma das maneiras que encontrei
para servir.
De repente, olhou para o relógio e deu um pulo na poltrona.
-
Duas horas da manhã! Clara, como conversamos.
- Não vi a hora passar. Foi tão
interessante a sua narrativa! Mais que interessante, foi lindo tudo que
você me falou. Como posso agradecer-lhe por
ter me confidenciado algo tão seu?
João abraçando a amiga se
dirigiu para a porta.
- Como disse, meu coração
ordenou que lhe falasse disso.
Abraçou a amiga e saiu.
Clara voltou para a mesma
poltrona onde ouvira o relato do amigo. As idéias passavam pela sua cabeça trazendo emoções que tentara disfarçar na
frente de João. Pensou em se deitar, mas sabia que não conseguiria dormir.
Estava impressionada principalmente com a história da visita ao castelo.
Aceitava bem a idéia da reencarnação.
Acreditava que só assim justificava tanta luta pela sobrevivência. Isso
de “morreu, acabou” não fazia qualquer sentido para ela já há muitos anos.
Ficou lá, encostada, relembrando
cada palavra que o amigo dissera. Não compreendia bem porque ele lhe contara
tudo aquilo. Afinal mal se conheciam. O que levava esse homem a confiar dessa
maneira nela? Realmente não entendia.
Mais uma vez, lembrou daquele sonho que se repetiu tantas vezes desde a
infância. Pensou no velhinho do sonho dizendo que ela sabia muitas coisas, mas
não sabia que sabia. E no velho do
bosque e do sinal que lhe dera. Juntou os dois dedos como ele ensinou e os
levou à testa. Ficou assim alguns
minutos. Só então percebeu que havia algo novo nesse seu gesto.
Não era por curiosidade, não queria apenas ver o que podia acontecer, como
anteriormente. Fazia isso com atenção, concentração, até mesmo respeito enquanto sustentava os dedos
na posição. Como se o velho estivesse em algum canto, vendo o que ela fazia. Uma
sensação de amor começou a fluir por todo o seu ser.
Um sentimento de gratidão
àquele velho sábio que demonstrou importar-se com ela, que se propôs
ensinar-lhe um caminho novo.
- Será que estou sensibilizada pela conversa com João? Pela história
que me contou ?
Já era Domingo. Mais de três horas da manhã e ainda não dormira.
Aceitou a idéia de não poder caminhar nesta manhã pela floresta. Afinal só levantaria lá pelo meio dia.
continua...
MCCA
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