terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Atravessando o Portal do Tempo VII


VII      "Tenho apenas três coisas a ensinar:
                Simplicidade, paciência e compaixão.   Este é o nosso maior tesouro.
                Simples em pensamentos e ações, retornarás à Fonte do Ser”.                                                              
                                                                                                              Lao-Tsé

-  Bem.... Alguns dias, antes de regressar ao Brasil, resolvi  voltar à Irlanda e Escócia. Já havia ido lá algumas vezes, mas são lugares muito especiais para mim. Há algo nessa terra que me atrai.  Irlanda e Escócia são lugares mágicos. Lá sinto uma emoção  diferente de qualquer outro lugar.  Creio que tem relação com os contos que eram minha leitura favorita quando criança e adolescente.
Neste ponto do discurso de João Carlos, Clara levantou uma pálpebra sinalizando que não havia entendido bem ou talvez pedindo mais clareza no relato.
- Sempre gostei muito de ler. Lembro dos meus pais me  contando histórias. Eles sempre incentivaram os filhos no gosto da leitura. Quando tinha uns nove ou dez anos meu pai chegou em casa com  um livro :  “Os   Cavaleiros da Távola Redonda”. Esse foi o primeiro de uma série interminável de livros sobre o Rei Artur, Merlim, Lancelot, a busca do Santo Graal...enfim as  aventuras ou, se preferir, a lenda do corajoso  Rei Artur de Pendragon e seus  corajosos cavaleiros.
-   Passei bons anos da minha vida lendo e relendo inúmeras versões  desse “mito” e sua luta para unir as   terras da Bretanha.  Essas leituras me acompanharam toda a adolescência e tornei-me um grande admirador da coragem e idealismo desse Rei que liderou o seu  povo com  justiça, na direção da tão desejada liberdade.
- Clara, nem imagina quantas horas passei “viajando como escudeiro do  meu Rei”.
Os olhos de João brilharam.  Parecia que havia voltado à  infância.  Era a criança que sonhava lutar ao lado de Artur.
- Li muito a respeito.  Li tudo que encontrei. Queria saber se essa história era ou verídica.  Procurei bibliotecas onde podia encontrar informações, relatos... li muitos livros e outros materiais de pesquisa.  Busquei  a autenticidade dos fatos narrados  por tantos autores de diferentes países e épocas. Você deve convir que são tantas as obras que falam sobre o Rei Artur,  que algum fundo de verdade haveria de ter. 
- Quando criança,   perguntei um dia a meu pai se ele acreditava  na existência do Rei Artur. Ele  me garantiu que o meu Rei, como eu chamava, era real e não uma ficção.  Garantiu-me que no momento certo eu teria acesso a  informações que provariam essa verdade. Falava disso com aquele olhar de quem sabe mais do que diz, olhar que lhe dava tanta credibilidade. Naturalmente,  eu  acreditava plenamente nas suas palavras. Talvez  isto tenha sido responsável pela minha busca. 
- O que  consegui?
- Tanto em  obras de ficção como em algumas  esotéricas é falado que o castelo de Artur, Camelot era uma espécie de cidade fortaleza na Escócia e não na Inglaterra, como eu pensava.  Camelot, a cidade dos sonhos, como era conhecida,  era  um forte onde os fracos encontravam segurança, proteção e justiça. Povos dispersos e vulneráveis, sem  uma forte liderança, eram vítimas de ataques dos bárbaros, por falta de quaisquer recursos para se defender de pessoas  sem qualquer valor, ou mesmo de valores questionáveis. Em Camelot esses pobres homens podiam contar com justiça e segurança.
Clara sorriu de modo estranho.
- Parece que não há qualquer dúvida a respeito da veracidade dos fatos. Para você Camelot não é um mito.  Estou errada?
- Não.  Está certa! Acredito totalmente nisto. E mais, sei que Artur, o meu Rei, continua dando segurança, proteção e levando justiça a quem acreditar nisso.  A espada de Excalibur continua a serviço da justiça, pode acreditar!
Clara apenas olhava, não sabia o que pensar.
- Depois das previsões de Mary, voltei mais uma vez, à  Escócia, Queria  me despedir de um determinado castelo que me atrai muito especialmente. É um lugar lindo...não sei, mas é  diferente. Lá sempre me sinto como se estivesse em casa.  Já na primeira visita senti uma estranha energia circulando no lugar. Como se essa energia fosse viva, tivesse consciência, entende? 
- Percorri os vários salões,  corredores, escadas.....Tudo ali é mágico. Parei num determinado aposento, um grande salão. Queria ainda uma vez  mais, admirar os  escudos e armas que lá estão expostas...   
- De repente, foi como se estivesse sonhando, ou quem sabe, entrado em transe... qualquer coisa parecida.   Eu via tudo com outras cores, com mais vida.  Não era eu, João Carlos, quem estava ali. Ou melhor, era eu, mas era como se fosse um outro eu, diferente. Minha atenção estava voltada  para um escudo que pertencera a um  dos cavaleiros. Ele estava  ali,  exposto na parede da sala e eu não conseguia desviar o olhar. Mas logo em seguida eu me via na entrada de uma espécie de  túnel. Lá no que parecia ser o final dessa passagem,  podia ver uma luz muito brilhante. Uma força estranha me fez atravessar esse túnel o logo chegava onde havia visto a luz. Mas ela não estava lá onde parecera estar.  Ali começava uma escadaria que descia para algum lugar. E lá no final, vi a luz. Desci os degraus que pareciam nunca terminar, como se me levassem às profundezas da Terra. Uma coragem que surgiu não sei de onde me dizia que era para ir até o fim.
- Ao chegar ao último degrau, estava num salão imenso. Uma grande expectativa foi tomando conta de mim. Alguma coisa muito importante ia acontecer pois sentia uma emoção e ansiedade estranhas. Não podia ver com clareza devido a uma espécie de nuvem que preenchia o espaço. Mas sentia a sensação e de algum modo meu coração sabia que o quer que fosse ocorrer ali,  era uma parte importante da minha existência. Podia ver além daquela cortina de fumaça, um trono belíssimo e vários cavaleiros que pareciam aguardar alguém. Foi quando uma figura majestosa entrou pela grande porta lateral. No meu coração, eu o reconheci. Era Artur, O Rei.  Ele se dirigiu até o trono e sentou-se. Eu precisei algum tempo para sair daquele estado meio catatônico.  Logo depois me vejo indo na sua direção e ajoelhando-me à sua frente.  Então ele se levantou e aproximou-se de mim, dizendo algumas poucas palavras que ainda hoje consigo ouvir: “Aproxime-se, meu Nobre Cavaleiro!” As abençoadas palavras! As mais bonitas já ouvidas por um homem.
- Creio que e emoção foi muito forte porque me senti desfalecer ao ver a cena. - Logo porém, surgiu na minha tela mental uma outra cena. Ele,  com a sua espada, Excalibur, aquela espada que desde criança aprendi a amar, tocou meus ombros e me consagrou seu cavaleiro. Era emocionante rever aquelas cenas.
Surgiu mais uma e lá estava eu vestido como um cavaleiro, portando um escudo exatamente igual àquele exposto na parede do castelo da Escócia.  Uma Espada embainhada na cintura.....Preparado para seguir o “meu Rei” em mais uma batalha pela unificação da Bretanha. Descendo por corredores que pareciam túneis me juntava  a outros que já esperavam.  Cavaleiros e escudeiros prontos, até mesmo para dar  a vida por seu amado líder.
- Diante dessa visão, meu coração deu  um salto, as batidas aceleraram assustadoramente. Isto me trouxe de volta para o castelo que estava visitando.  Lágrimas corriam dos meus olhos, não pude evitar a emoção e  saí dali para que ninguém visse meu choro.

Nesse ponto da narrativa, João Carlos se calou. Estava visivelmente emocionado. Clara, por sua vez respeitou o momento do amigo e ficou em silêncio. Na verdade nada havia a dizer.
Foi João quem reiniciou a conversa, muito tempo depois.
- Bem.  Foi o que aconteceu de mais importante em minha vida. Como vê  não posso ter dúvidas.  Essa volta ao passado foi um presente que a vida me deu. Alguns dias depois, já no  Brasil,  contei ao meu pai o que aconteceu.  Ele me disse  que já que eu acredito em reencarnação, não há razão para surpresas.
- Lembro do seu  o olhar provocador ao  perguntar:  “O  que te impede de  procurar mais conhecimentos sobre tudo isso  que tanto te atrai?  O seu sorriso maroto enquanto  me falava, piscando um olho: Se procurar direito talvez descubra por  onde andam  Artur, Merlim e tantos outros seres que viveram antes de nós.
- E foi o que fiz. Mergulhei nos livros de  Espiritualismo, de Ocultismo, de  esoterismo, magia....Descobri que Artur, Merlim e outros que vieram antes de nós, ainda que em outro Plano, continuam servindo a humanidade.  Participo de encontros, grupos de estudo e tudo mais onde possa encontrar as respostas que procuro.  E naturalmente, uso o tempo disponível para levar adiante o que aprendo. É uma das maneiras que encontrei para servir.
De repente, olhou para o relógio e deu um pulo na poltrona.
-          Duas horas da manhã! Clara, como conversamos.
-  Não vi a hora passar.  Foi tão  interessante a sua narrativa! Mais que interessante, foi lindo tudo que você me falou. Como posso agradecer-lhe por  ter me confidenciado algo tão seu?
João  abraçando a amiga se dirigiu para a  porta.
- Como disse, meu  coração ordenou que lhe falasse disso.
Abraçou a amiga e saiu.
 Clara voltou para a mesma poltrona onde ouvira o relato do amigo. As idéias  passavam pela sua cabeça  trazendo emoções que tentara disfarçar na frente de João. Pensou em se deitar, mas sabia que não conseguiria dormir. Estava impressionada principalmente com a história da visita ao castelo. Aceitava bem a idéia da reencarnação.  Acreditava que só assim justificava tanta luta pela sobrevivência. Isso de “morreu, acabou” não fazia qualquer sentido para ela já há muitos anos.

Ficou lá, encostada,  relembrando cada palavra que o amigo dissera. Não compreendia bem porque ele lhe contara tudo aquilo. Afinal mal se conheciam. O que levava esse homem a confiar dessa maneira nela? Realmente não entendia.
Mais uma vez, lembrou daquele sonho que se repetiu tantas vezes desde a infância. Pensou no velhinho do sonho dizendo que ela sabia muitas coisas, mas não sabia que sabia.  E no velho do bosque e  do sinal que lhe dera.  Juntou os dois dedos como ele ensinou e os levou à testa.  Ficou assim alguns minutos. Só  então  percebeu que havia algo novo nesse seu gesto. Não era por curiosidade, não queria apenas ver o que podia acontecer, como anteriormente. Fazia isso com atenção, concentração, até  mesmo respeito enquanto sustentava os dedos na posição. Como se o velho estivesse em algum canto, vendo o que ela fazia. Uma sensação de amor começou a fluir por todo o seu ser.
Um sentimento de  gratidão àquele  velho sábio que demonstrou   importar-se com ela, que se propôs ensinar-lhe um caminho novo.
- Será que estou sensibilizada pela conversa com João? Pela história que me contou ?  

Já era Domingo. Mais de três horas da manhã e ainda não dormira. Aceitou a idéia de não poder caminhar nesta manhã pela floresta.  Afinal só levantaria lá pelo meio dia.
continua...

MCCA

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