MATURIDADE E ESPIRITUALIDADE: DUAS REFLEXÕES ESPIRITUALISTAS
- Primeira Parte
INICIADOS?
Há ocultistas e iogues entoando mantras demais e vivendo de
menos. Tentam o despertar da Kundalini, mas não se preocupam tanto com o
despertar do coração. Elaboram rituais variados e seguem "cartilhas
iniciáticas". Contudo, enrolam-se no mais simples: Viver!
Trajam indumentárias iniciáticas ou mantos de renúncia, mas
não se vestem com a luz da modéstia. Mortificam o corpo físico, através da
repressão sexual, jejuns forçados ou perfurando-o com objetos exóticos. No
entanto, o corpo mental (morada da consciência, o eu real) e o corpo espiritual
(o verdadeiro corpo de luz), continuam obscurecidos pela falta de discernimento
e compaixão.
Praticam um misticismo exacerbado e costumam apresentar
credenciais e títulos iniciáticos, que, na verdade, não provam grau de
espiritualidade alguma, mas sim grande grau de vaidade.
Gostam de usar senhas esotéricas (herméticas), mas não notam
que a própria vida é amplamente exotérica (aberta, clara, explícita). Almejam o
samadhi,* mas o seu corpo físico lhes reclama a justa atenção: são obrigados a
ir ao banheiro todos os dias.
Falam muito em união espiritual e consciência cósmica. No
entanto, muitos são nacionalistas ferrenhos. Alguns, inclusive, são racistas.
Apesar desse absurdo, dizem que estão trilhando a senda da luz.
É por essas e outras que o meu amigo espiritual, Rama, disse
certa vez: "A grande iniciação não é realizada dentro de nenhum obscuro
templo esotérico, mas sim dentro do templo luminoso do coração, onde mora o
maior mestre de todos: o amor!"
- Wagner Borges - São Paulo, 08 de maio de 1995. * Samadhi
(do sânscrito): Expansão da consciência; Consciência cósmica.
- Segunda Parte
RELIGAR OU CONVERTER?
Geralmente o fanático religioso quer impor a sua doutrina a
ferro e fogo aos outros. Perante o seu olhar turvo de radicalismo, ele só vê
infiéis a serem convertidos. Não admite a liberdade de expressão do pensamento
alheio e, se precisar, é capaz até de brigar para impor o seu ponto de vista. O
fanatismo leva geralmente à intolerância, e esta, fatalmente ao combate.
O fanatismo nada tem a ver com Jesus, Krishna e Buda, pois
esses mestres ensinaram o "amai-vos uns aos outros" (Jesus), a
alegria de viver (Krishna) e o respeito pelos outros (Buda).
O fanático demonstra pela sua própria postura agressiva que
a compreensão não é o seu forte. Aliás, é curioso o estranho paradoxo em que
vive o fanático religioso: se por um lado ele prega a compaixão, a união, o
respeito e a religiosidade, por outro lado ele ameaça, ataca, excomunga e até
briga com aqueles que não partilham seu ponto de vista.
É de se perguntar
então: - Há algo em comum entre amor e excomunhão? Entre respeito e
intolerância? Entre liberdade de expressão e doutrinação repressiva? "Ide
e pregai", como ensinava o apóstolo, não significa "ide e
ameaçai", como faz o fanático. "Amai-vos uns aos outros" não
significa amai uns e não a outros.
Na etimologia do termo "religião", vemos que a sua
origem vem de "religar-se", que significa "religar" o homem
ao seu Criador. Em outras palavras, "Unir"! Infelizmente, parece que
o fanático não entende assim. O seu radicalismo o torna ácido, antipático e
chato ao extremo. Já não lhe importa tanto religar, ele quer mesmo é converter
o infiel, não importa o quanto isso custe.
É por essas e outras
que se diz por aí que o fanático não tem discernimento, pois se tivesse, não
seria fanático, mas sim um livre pensador. Ou seja, uma pessoa interessante e
criativa no mundo.
-Wagner Borges - São
Paulo, 08 de maio de 1995. - Nota (escrita em 11 de setembro de 2002): Esses
dois textos foram escritos em 1995 e inseridos numa apostila do curso
"Maturidade e Consciência".
Ainda agora, dando uma olhadinha no material desse curso,
fiquei pensando se esses escritos guardados há sete anos seriam interessantes para
reflexões ponderadas de outros estudantes espiritualistas. De todo modo, serve
como exercício de discernimento no estudo espiritual e também de alerta
consciencial sadio.
Inclusive, há um texto excelente da pesquisadora italiana
Angela Maria La Sala Batä que foi entregue aos alunos do curso citado como
correspondência do tema "Maturidade consciencial". Reproduzo-o logo
abaixo como excelente complemento dos temas aqui escritos.
Maturidade
"Ouvi dizer que
maturidade é o conhecimento, cada vez maior, de não sermos nem tão
extraordinários nem tão incapazes como antes acreditávamos".
"Maturidade significa saber conciliar aquilo que é com
aquilo que poderá ser".
"A maturidade não é uma meta, mas sim uma
estrada".
"O nível da maturidade de cada criatura é avaliado
pelos limites das possibilidades que ela apresenta no momento".
"O melhor método para se alcançar a maturidade ainda é
a espiritualização do homem".
"Um dos sinais fundamentais que distinguem o homem
maduro é que ele não é fixo, não é estático, mas continua a crescer, a caminhar
para frente, qualquer que seja a sua idade".
"Não se pode definir a maturidade porque ela não é um
ponto fixo, não é um ponto estático, mas é, antes de tudo, uma atitude
interior".
"Não se pode falar de homem maduro se ele é unilateral,
fechado num único setor da vida e falho sob alguns aspectos".
"Uma das maiores imaturidades do ser humano é a
presunção (ou senso crítico de superioridade) que nasce do fato, quase inevitável,
de que com o desenvolvimento do intelecto vem acentuar-se o senso do eu pessoal
e da auto-afirmação. O senso de superioridade também gera o criticismo e a
separatividade".
"Dar não significa ‘privar-se’ de qualquer coisa, mas
significa expandir-se, irradiar a própria energia, expressar a si mesmo, romper
o muro da separação e da solidão que circunda os outros seres, vivificando-os
com a força do próprio amor".
"Que coisa alguém dá quando ama? Dá a si mesmo, aquilo
que possui de mais precioso, dá uma parte de sua vida... Dá a própria alegria,
o seu próprio bom humor, a própria tristeza, todas as expressões e
manifestações daquilo que possui de mais vital".
- Ângela Maria La Sala Batä - (Texto extraído do livro "Maturidade
Psicológica"; Editora Pensamento)
Wagner Borges: Esse é um livro imperdível. É daquelas obras
profundas que leva o leitor a reflexões conscienciais, mas ao mesmo tempo, é
simples e direto, bem didático e leve, adaptado exatamente para o homem
moderno.
Esse é um livro que faz pensar e refletir sobre o grande
mistério que habita o interior do ser humano. Faz lembrar da grande missão de
todos nós aqui na Terra: "Conhecer-se a si mesmo"... e ser feliz.
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