XI “O homem inteligente está sempre
aberto a
novas idéias. Na verdade ele as
busca”.
Provérbios 18:15
As semanas passavam rápido. Clara chegava do trabalho, tomava um banho,
lanchava e sentava para ler. Havia muito a aprender.
Queria resgatar o tempo perdido.
Quando tinha alguma dúvida, ligava para Lúcia.
Algumas vezes, a amiga não tinha respostas para suas perguntas.
- Por que não liga para o João? Ele vai saber explicar melhor este
assunto. Tem conhecimentos muito
profundos.
- Não. Fico sem graça. Prefiro que você me ajude. Vou pesquisar mais.... em algum livro devo
encontrar esse assunto numa linguagem mais fácil. É melhor.
-
Não quero procurar João. Fico sem graça de incomodá-lo.
Não tinha um motivo claro, mas
era melhor assim. Se encontrasse por acaso, tudo bem, mas ela não o procuraria.
Sua biblioteca estava crescendo a cada dia. Os livros se acumulavam nas
mesas e na estante. Sentia como se estivesse adquirindo um tesouro quando saía
de uma a Livraria com mais livros.
O gnomo Haroldson estava lá na mesinha, falava com ele como se fosse um
amigo. Ao chegar do trabalho ia diretamente até a mesinha e perguntava:
-
Então, Haroldson? Cuidou bem da casa?
Sente-se bem disposta e alegre. A casa está mais bonita, arejada, com
outra energia.
No Sábado anterior, acordou com uma necessidade de renovação. Sem saber
exatamente porque, resolveu fazer uma limpeza em todos os armários e gavetas.
Quantas coisas vem guardando, algumas desde criança, que não tem qualquer
utilidade? Sem falar numa infinidade de
objetos que pertenceram à avó e estão em
caixas e mais caixas esperando sabe-se
lá o que.
Nunca havia tido vontade de se livrar de todo esse material inútil.
Agora, de repente, chegou a hora! Começou pelas próprias roupas que não tem
usado, sapatos, bolsas...coisas que algum tempo não saem dos armários. E a
operação limpeza se espalhou por todos os cômodos da casa.
-
Que beleza! Quanto espaço disponível para coisas novas.
Olha ao redor e percebe que a casa estava entulhada e ela nem havia
notado. Só agora com espaço sobrando podia ver como ocupava seu mundo com tanto lixo. Felizmente percebera a
tempo.- Pensa Clara.
Agora vai cuidar com um carinho especial da ametista, que está logo na entrada da sala e das
plantas que ornamentam agora toda a casa. Logo de manhã, a primeira coisa que
faz é abrir a cortina para deixar o sol
entrar e iluminar toda a casa.
Vem mudando seus hábitos pouco a pouco, à medida que lê e aprende tudo
que pode sobre energia, matéria e os
assuntos afins.
- Agora a energia pode fluir. Não tenho nada por aí, bloqueando seu
fluxo.
Depois de cuidar da casa vai se cuidar. À medida que foi adquirindo
mais conhecimento sobre os cristais, comprou vários, de nomes e cores diferentes. Gosta de ficar
quietinha com uma Sodalita sobre a
testa, pensando....Às vezes uma calcita para ativar a área da memória. Outras vezes
deita-se com quartzo rosa sobre o coração. Pouco a pouco vai percebendo o mundo infinitamente rico de
possibilidades que as pedras oferecem.
Quando chega ao consultório olha
para os cristais sobre a mesa. Enquanto se arruma para iniciar o atendimento,
dá um sorriso na direção da ametista, da esmeralda e para a turmalina negra.
Estão ali para proteger de energias negativas.
E vários cristais em uma grande taça com água.
Perto do telefone, coloca sempre um copo com água. Deixa-a ali como se
fosse para beber, mas ela fica lá até a manhã seguinte, quando retorna para
novas consultas e renova a água. Depois que adotou esse cuidado, percebeu que fica menos cansada e
desvitalizada. Aprendeu que enquanto
conversa, é possível atrair a energia de
quem está do outro lado do fio. Infelizmente, nem sempre a energia é positiva,
então por via das dúvidas.....
No início considerava tudo isto
uma coisa de místicos fanáticos. Mas depois de ler tantos autores e ouvir pessoas sérias narrar alguns casos,
passou a acreditar e se cuidar.
Já estava saindo quando o telefone tocou. Era Lúcia.
- Querida amiga! que bom te ouvir! Estou com saudade .. Tenho uma
porção de coisas para contar.
Era sempre bom conversar com a amiga. Ela queria sua ajuda profissional
. Um dos seus clientes estava queixando-se de uma dor estranha no peito. Já
havia procurado vários médicos mas não melhorava. Além disso, há anos sentia
também um pigarro que persistia apesar do
tratamento.
-
Quem sabe você pode ajudá-lo?
Clara prometeu atendê-lo no dia
seguinte, no final dos consultas.
-
Sabia que você daria um jeitinho. E ai, o que tem feito de bom?
Clara mostrava seu entusiasmo
enquanto contava as pequenas coisas que para ela faziam tanta diferença.
- Estou mudando minha vida. Até comprando roupas novas... E estudando
mil coisas, tanta coisa, tantas
mudanças!
-
Mas a que se deve essas mudanças radicais? Novo amor?
- Meu Deus, Lúcia! Claro que não. Não me preocupo com essas
coisas. Você já devia saber disso. É por
mim mesma. Estou gostando mais de mim! Gostando mais, dando-me mais atenção,
que antes não dava. Apenas isso! Por que é preciso estar namorando para querer
se cuidar?
- Não, claro que não! Mas quantas vezes falei isso e você dizia que
estava bom dessa maneira? Fico feliz com a mudança. Acredite!
-
Acredito. Não tenho dúvidas quanto à sua amizade.
- Clara! Deixe-me contar sobre a mulher que atendi ontem. A infeliz
está vivendo perdas significativas por
manter uma postura rígida diante da vida. Sabe que precisa mudar, mas não quer.
E não tem qualquer interesse em se arrumar, renovar, essas coisas...Sem
qualquer motivação, está sem energia para mudar, mas precisa fazer alguma
coisa, fazer diferente. Sabe como é?
-
E o que você fez? Pode ajudá-la?
- Levei-a a alguns questionamentos.. Ela saiu mexida.
Vamos ver se volta para a terapia, ou prefere deixar como está. Às vezes mudar
é complicado, principalmente quando os valores são muito rígidos.
-
Quais questões foram levantadas?
- As perguntas básicas: “Em que áreas da sua vida você está
insatisfeita? Qual é o comportamento que sabe que precisa mudar? Quais são os
aspectos limitadores da sua personalidade? Em que situações gostaria de ter
mais escolhas? Qual é o comportamento que vem trazendo problemas e você não
consegue modificar? Que partes suas não conhece mas gostaria de conhecer? O que
a está impedindo de crescer? E a que considero fundamental para qualquer
processo terapêutico. Você acredita que tem direito a poder fazer as suas
próprias escolhas e decidir sua vida”?
- É muito interessante, Lúcia. Um bom princípio para qualquer tomada de
decisão, ainda que seja decidir não querer mudar. Deixar tudo como está.
- É verdade. E respeito a escolha de cada um, mas é triste ver uma pessoa chegar à conclusão que
é hora de mudar, que é preciso mudar, sob pena de ser infeliz, e não ter
coragem ou determinação...
- Aquela frase que todos conhecem, cabe bem aqui: “Se continuar fazendo
as coisas do jeito que vem fazendo, vai continuar obtendo os resultados que vem
obtendo”. Se quer diferente, faça diferente!
- Clara.. e você? Já se perguntou sobre suas limitações e seu medo? Já
pensou como pode abrir caminho até a sua Essência? Já se perguntou? Queria que tomasse consciência que à medida
que vão se revelando alguns aspectos seus, pode ampliar a consciência e
transformar seus limites em recursos poderosos. Sair dos extremos e caminhar o caminho do meio, do equilíbrio,
sem se preocupar com dualidades, com os conceitos de certo e errado. Você
merece! Faça isso por você!
- Ei! Senhora psicóloga, a
senhora está querendo me submeter a uma terapia via telefone?
Era assim que Clara fazia. Cortava a conversa quando ela tomava o rumo
das suas questões mais íntimas. Conversaram mais uns minutos e despediram-se.
Conforme prometera, Clara atendeu o cliente de Lúcia.
Quando chegou em casa, ligou para a amiga.
-
Lúcia! Vi seu cliente. Ele não está bem.
-
Você está falando de câncer?
- Não posso assegurar, mas até pode ser. Pedi exames para fazer um
diagnóstico mais preciso, mas o caso é preocupante. Já se trata há muito tempo
e o organismo não vem reagindo aos
medicamentos.
- Clara, não sei o que você vai pensar, mas desde que o conheci, senti
uma coisa estranha...sabe o que me parece? Algo relacionado a um bloqueio de
energia. Ou quem sabe uma doença de ajuste
cármico....
- Também tive essa mesma
impressão. Senti um arrepio quando o examinei. Os chacras laríngeo e o
cardíaco estão totalmente bloqueados. Isso explicaria o pigarro e a dor. Olhe,
se ainda não está instalado, já está no
campo energético. Mas como falar disto com ele? Será que ele acreditaria?
- Não sei. Quando voltar para a terapia, vou sondar. Depois nos
falamos.
Clara sabia que ele estava predisposto a um de câncer. Ouviu aquela voz interna quando
ele entrou. Mas precisava dos exames. Não podia justificar os seus diagnósticos
baseada em intuição. Podia até
bastar para ela, mas não para os
pacientes. Também não queria falar claramente com Lúcia. Estava apenas começando a caminhar por esse
mundo fantástico da Energia. Ainda se sentia insegura para assegurar alguma
coisa.
E
ele como reagiria quando soubesse da
gravidade.? E o organismo? Reagiria bem ao tratamento? Só o tempo poderia
lhe responder.
Pegou na mesa dois livros que abordam a questão do Carma.
Os
autores citam casos de doenças que têm sua origem no passado.
Uma pessoa que sofria desde criança de sérios problemas gástricos.
Cansada de fazer tratamentos sem obter alívio da gastrite que trazia dores e
dietas desagradáveis. Depois de passar por inúmeros médicos resolveu
procurar um especialista em Terapia de
vidas Passadas. Logo encontrou a causa da doença: Havia sido envenenada em uma outra vida.
Outro
caso. uma mulher que sofria de terríveis crises de bronquite, que se repetiam
duas ou três vezes ao ano, desde bebê.
Em estado alterado de
consciência, viu quando em outra
vida, um pedaço de laje caiu sobre ela, levando-a à morte por asfixia.
O
livro contava inúmeros casos interessantes que
mostram que muitos males têm a sua origem em tempos distantes do
presente.
Pessoas
que foram viciadas em drogas e bebida de alto teor alcoólico e hoje têm seu
Sistema Nervoso Central deficiente. E alguns casos de suicídio, outros de
enforcamento.... Clara estava impressionada com o que lia.
Quem
sabe o cliente de Lúcia poderia ficar bom se procurasse ajuda também fora da
medicina? Ela sentiu uma energia
estranha quando o atendeu e viu uma mancha escura em seu pescoço. Sem dúvida
alguma, ali havia um problema que transcendia a questão puramente física.
Olhou
para a mesa e pegou um livro de Barbara Ann Brennan, que estava a um canto.
Pegou-o e leu na contra capa: “Este livro se dirige aos que estão
procurando a autocompreensão dos seus processos físicos e emocionais que extrapolam a estrutura da
medicina clássica. Concentra-se na arte de curar por meios físicos e
metafísicos.
........nosso corpo existe
dentro de um “corpo” mais amplo de
energia humana ou aura, através do qual criamos nossa experiência da realidade,
inclusive a saúde e a doença. É através
desse campo que temos o poder de curar a nós mesmos........
Esse corpo energético – pelo qual a ciência só
ultimamente vem se interessando, mas que há muito é do conhecimento de
curadores e místicos – é o ponto inicial de qualquer doença. Nele ocorrem as nossas mais fortes e
profundas interações, nas quais podemos
localizar o início e fim de nossos
distúrbios psicológicos e emocionais........”
- Quanto tempo perdido, meus Deus! Sinto como se tivesse passado anos
de minha vida dormindo e só agora despertei. Tantos conhecimentos à minha
disposição........Que trabalho bonito essas
pessoas estão fazendo.
Clara
continuava estudando... livros sobre
cura energética, cristais, centros
energéticos, seres da natureza, e tudo que vinha às suas mãos. A leitura tomava
todo o tempo disponível. Saía de casa
apenas para trabalhar Nenhum programa.....não havia tempo a perder.. A exceção
eram as caminhadas na floresta. Ainda assim, levava um livro para ler embaixo
de uma árvore.
Era outra pessoa. Alegre e bem disposta, alto astral, como dizia a secretária.
Diariamente, ao acordar e antes de
dormir, fazia o sinal que o Irmão lhe ensinou. Se emocionava quando sentia que a testa se aquecia ou formigava depois de
fazer esse gesto. Desistiu de
encontrá-lo no bosque. Mas ele estava na maior parte dos seus sonhos.
Estes continuavam e tinham se tornado
uma oportunidade de adquirir muitos conhecimentos. Ao acordar, lembrava com
clareza cada detalhe das experiências vivenciadas nos sonhos.
Fazia
tempo que não via João Carlos. Sentia saudade das conversas com ele. Do seu
jeito de falar olhando bem dentro do seus olhos. Da energia que lhe passava. Ele não ligara
mais. Estava claro que esperava que ela ligasse. Mas não ligaria.
-
Que homem interessante! Mas deixa ele
lá, na vida dele. Quanto menos intimidade, melhor. Já falei demais, ele sabe coisas de mim, que não contei a ninguém!
É melhor manter uma distância razoável.
Mas
a saudade crescia e a vontade de vê-lo também. Chegou a pegar o telefone para
conversar um pouco, mas desistiu.
- Ele sabe que quero participar do grupo. Disse isso a ele. Quando
achar que é hora, vai me ligar.
O tempo continua passando e João não liga, nem a procura.
A cada dia sente-se mais intuitiva e sensitiva, desenvolvendo sua
paranormalidade. Fica feliz com cada um dos progressos que faz.. Já percebe
claramente o estado dos chacras e quando estão sofrendo algum bloqueio ou
desequilíbrio. Isto facilita muito o diagnóstico das doenças. Aprendeu a
avaliar quando a temperatura é fria ou
quente em cada vórtice e a diagnosticar
se o mal é do corpo físico ou um desequilíbrio energético.
Sente-se realizada quando
descobre um maneira nova de poder melhor
ajudar os pacientes, sem dúvida alguma,
está mais competente,
e mais segura, naturalmente.
Percebe que suas emoções estão mais fácil de controlar. Ou pelo menos
avaliar. Antes não conhecia nem o seu lado emocional. Parecia não ter desejos,
emoções e até mesmo as suas sensações eram desconhecidas.
-
Parece que as minhas partes inconscientes estão em paz.
Estava percorrendo o caminho do
auto-conhecimento.
-
Doutora Clara, posso mandar entrar o último paciente?
Finalmente o dia estava terminando. Estava cansada. O cliente de Lúcia
havia trazido o resultado dos exames. Ela estava certa. Era um câncer em
formação. Como poderiam ajudá-lo? Precisava conversar com a amiga.
-
João Carlos! Que faz aqui?
-
Sou seu último paciente. Como
vai?
Ele estava ali, à sua frente, o
mesmo sorriso e mesmo olhar....A surpresa a deixou sem ação, não podia imaginar
essa cena. Levantou-se para abraçar o
amigo.
-
Como está?
Foram as únicas palavras que pronunciou enquanto sentia o abraço
carinhoso. João ficou parado diante dela segurando suas mãos e olhando como sempre bem dentro dos seus
olhos. Isto a deixava sem ar.
- Que bom ver você. Espero que não esteja precisando dos meus cuidados
profissionais....
- Não. Felizmente estou bem. Senti saudade e já que não me ligou,
resolvi aparecer por aqui. Quem sabe
podemos sair por aí...
- Estava pensando em ir direto
para casa. Mas não deixa de ser uma boa
idéia! Se esperar um pouco....só o tempo
de pegar as minhas coisas.
Enquanto o amigo esperava na sala de espera, Clara sentia-se como uma
adolescente. Ansiosa como se estivesse se preparando para um encontro com o primeiro namorado.
Ajeitou a blusa por dentro da saia. Depois retocou o batom e pegou a
bolsa. Olhou o espelho. Resolveu soltar
os cabelos e deu uma boa escovada.
- Estou razoável! Que sorte vir com essa roupa, ficou bem em mim!
Quando saiu João Carlos parou de ler a
revista.
-
Nossa! Você está linda!
Levantou e segurou a mão de
Clara dando-lhe passagem.
Resolveram que ele a acompanharia
até casa para deixar o carro e depois sairiam no dele. Seria mais
prático.
Clara guardou o carro na garagem e logo entrava no carro de João
Carlos.
-
Onde quer ir?
-
Clara riu da pergunta dele.
-
E eu sei? Você me pegou de surpresa. Você escolhe.
-
Gostaria de andar um pouco? Depois jantamos!
Pouco tempo depois, ele parou o carro em frente a uma edifício defronte
para a praia e segurou a mão de Clara para atravessar a avenida.
- Gosto daqui. Venho sempre caminhar nesta praia. Esta área é bem
policiada e o lugar é agradável. À
frente, o mar iluminado pela lua cheia era um espetáculo à parte.
-
Por que não me ligou?
A pergunta pegou Clara de surpresa. Parecia uma crítica
- Ah, não quis incomodá-lo. Já
abusei demais, fazendo perguntas e mais perguntas.... Você me ajudou muito. Sem
você eu não teria conseguido nada. Suas explicações foram a base que me permitiram continuar os estudos sozinha. E
quando sinto dificuldades para entender e não consigo prosseguir, recorro a
Lúcia para tirar algumas dúvidas. Você trabalha até tarde...não me parece
certo ligar para sua casa à noite.
-
Eu disse que não me sentiria incomodado. Pedi que ligasse...
-
É como disse. Não quero incomodá-lo. Só isso.
-
E então que tem feito?
Caminhavam pelo calçadão enquanto conversavam. Clara falou das suas
experiências, das novas propostas, de quantas coisas novas que só agora estava
descobrindo, dos livros que estava
lendo...., falou dos cristais e dos novos hábitos que adquiriu.
João Carlos olhava com aprovação enquanto ela falava.
-
Fico feliz por você, sabia que
iria se descobrir.....
O celular de João Carlos tocou.
Quando viu o número no visor, seu olhar se iluminou.
-
Você se importa?
Clara sorriu e voltou o olhar para o mar, querendo deixá-lo mais à
vontade.
-
Querida! Mas já voltou? Como você está? Senti saudade....
Clara
ouvia perfeitamente o que ele dizia. Sentia-se como se invadisse a sua
privacidade, mas não podia deixar de
ouvir.
- E então o curso valeu a pena? Claro que quero que me conte tudo. Você não disse que depois do
curso daria uma esticada até o Canadá? Trouxe? Que ótimo. É um presente para
uma amiga, depois pego com você.
Não, agora não posso. Quem sabe
mais tarde....
Ouviu quando ele se despediu
carinhosamente.
- Desculpe, não podia deixar de
atender.
- Claro, fique á vontade.
-
Mas como estava dizendo, tenho certeza que agora você não pára mais. Como disse, esse é um caminho sem volta.
Felizmente, poucas pessoas o abandonam depois de conhecer as suas
possibilidades de crescimento. Se bem
que no nosso grupo mesmo, alguns dos participantes desistiram no meio do
caminho. Mas a semente está lançada e em algum lugar e tempo, haverá de
germinar. Tenho certeza que uma vez tenham ouvido a mensagem, nunca a
esquecerão.
Clara
ouvia ouvia o amigo e concordava com ele. Mas alguma coisa a incomodava. Não
sabia porque, mas sentia-se estranhamente mal. Deveria ser o cansaço. O dia
havia sido pesado. Alguns casos sérios. Além disso alguns pacientes estavam com
suas energias altamente desequilibradas,
talvez ela não tivesse protegido suficientemente o seu campo. Seja como for,
estava desconfortável.
- O
que você pensaria se eu tirasse os
sapatos e caminhasse um pouco na água? Seria loucura?
-
Adoraria fazer o mesmo. Vamos?
Logo eles caminhavam com os pés na água refrescante do mar segurando
os sapatos nas mãos.
- Precisava me energizar. Hoje foi um dia cansativo. O mar me faz muito
bem. E descarrego as energias negativas.
- Legal! Faço isso sempre que posso. Quando o dia é daqueles que mais
parecem uma batalha, passo numa praia antes de voltar para casa. Sempre que
quiser companhia pode ligar, creia que terei o maior prazer em acompanhá-la.
Qualquer dia ou hora...me liga, tá?
Outra vez, o mesmo olhar. Que ele quer dizer? Não tem ninguém?
-
Adoro o mar, a praia, principalmente à noite, ao luar..
- Você está certo, é muito
bonito. Mas voltando ao assunto que falávamos...Estou aprendendo coisas muito interessantes. E na
medida do possível, vou colocando em prática tudo que posso.
- Isso é ótimo. A Espiritualidade não é algo teórico como muitos
pensam. Não basta ler, meditar,
freqüentar igrejas, templos, ou algo semelhante....Espiritualidade é prática.
Ação! Dedicação, eu diria.
A conversa seguiu esse rumo como não poderia deixar de ser. João Carlos
via a desenvoltura com que Clara falava e sorria.
- Parece que estas semanas frutificaram. Vejo que tem estudado muito.
Mas não precisa correr.... Tem todo o tempo do mundo para adquirir conhecimentos. Tem saído, feito algum programa? Como está o
lazer?
-
Não. Nada de lazer. Quero
recuperar o tempo perdido.
- Mas você não perdeu tempo
enquanto fazia Faculdade, cursos, ou cuidava
da casa. Tudo é preciso e cada coisa a seu tempo. Há hora para
tudo. Se esta é melhor hora de despertar
para Espiritualidade, antes você tinha outras tarefas e atividades
prioritárias, porque aquilo também era
necessário para sua evolução. No
trabalho, quando cuida com amor dos pacientes, você também está vivendo sua
espiritualidade. Aliás, costumo dizer
que ser médico é mais que uma profissão, uma missão.
Clara gostava de ouvir João Carlos falar. Ele colocava força no que
dizia. Passava tanta credibilidade! Bebia cada palavra que ele dizia sobre as
coisas relacionadas com o misticismo e a Espiritualidade.
De repente a olhou de um modo provocador:
- Clara, gostaria que conhecesse uma pessoa. Mora aqui perto, vamos até
lá?
-
Como assim? Agora?
- E por que não? Vai gostar dela. É uma pessoa muito bonita e vocês vão
poder trocar muitas experiências. Acabou de chegar viagem. Ficou algumas
semanas na Califórnia participando de
Cursos e Especialização na área
da Medicina Energética e Neurolingüística. Você vai gostar de conversar com
ela. É altamente espiritualizada e muito
interessante.
Clara via no olhar do amigo o carinho
e admiração com que falava dessa mulher.
Seus pensamentos voavam. Estava curiosa Ele a convidou para sair e agora quer
ver a tal mulher interessante. Mas por que não? Se conhecê-la pode trazer mais
conhecimentos, por que não?
-
Mas não vamos incomodar? São quase nove horas, não é tarde?
- Não. Fique tranqüila, Marta vai gostar se formos
até lá. Foi quem ligou à pouco. Está com saudade e eu quero que conheça
você. Passamos lá e depois podemos ir a
um restaurante. Fica bem para você?
Clara concordou e em poucos minutos estavam em casa de Marta.
“ Essa é a mulher com quem ele
falou ao celular”. Bonita! – pensou.
Pode perceber o carinho, e amor
que sentiam pelo outro, enquanto se abraçavam. João Carlos continuou com o
braço sobre o ombro de Marta enquanto se voltava para a
amiga.
continua
MCCA
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