quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Atravessando o Portal do Tempo XI


XI                 “O homem inteligente está sempre aberto a
          novas idéias. Na verdade ele as busca”.
                                                                               Provérbios 18:15

As semanas passavam rápido. Clara chegava do trabalho, tomava um banho, lanchava e sentava para ler. Havia muito a aprender.
Queria resgatar o tempo  perdido. Quando tinha alguma dúvida, ligava para Lúcia.  Algumas vezes, a amiga não tinha respostas para suas perguntas.
- Por que não liga para o João? Ele vai saber explicar melhor este assunto. Tem  conhecimentos muito profundos.
- Não. Fico sem graça. Prefiro que você me ajude. Vou  pesquisar mais.... em algum livro devo encontrar esse assunto numa linguagem mais fácil. É melhor.
-          Não quero procurar  João.  Fico sem graça de incomodá-lo.
 Não tinha um motivo claro, mas era melhor assim. Se encontrasse por acaso, tudo bem, mas ela não o procuraria.
Sua biblioteca estava crescendo a cada dia. Os livros se acumulavam nas mesas e na estante. Sentia como se estivesse adquirindo um tesouro quando saía de uma a Livraria com mais livros.
O gnomo Haroldson estava lá na mesinha, falava com ele como se fosse um amigo. Ao chegar do trabalho ia diretamente até a mesinha e perguntava:
-          Então, Haroldson? Cuidou bem da casa?
Sente-se bem disposta e alegre. A casa está mais bonita, arejada, com outra energia.
No Sábado anterior, acordou com uma necessidade de renovação. Sem saber exatamente porque, resolveu fazer uma limpeza em todos os armários e gavetas. Quantas coisas vem guardando, algumas desde criança, que não tem qualquer utilidade?  Sem falar numa infinidade de objetos  que pertenceram à avó e estão em caixas e mais caixas esperando  sabe-se lá o que.
Nunca havia tido vontade de se livrar de todo esse material inútil. Agora, de repente, chegou a hora! Começou pelas próprias roupas que não tem usado, sapatos, bolsas...coisas que algum tempo não saem dos armários. E a operação limpeza se espalhou por todos os cômodos da casa.
-          Que beleza! Quanto espaço disponível para coisas novas.
Olha ao redor e percebe que a casa estava entulhada e ela nem havia notado. Só agora com espaço sobrando podia ver como ocupava seu  mundo com tanto lixo. Felizmente percebera a tempo.- Pensa Clara.
Agora vai cuidar com um carinho especial da ametista,  que está logo na entrada da sala e das plantas que ornamentam agora toda a casa. Logo de manhã, a primeira coisa que faz é  abrir a cortina para deixar o sol entrar e  iluminar toda a casa.
Vem mudando seus hábitos pouco a pouco, à medida que lê e aprende tudo que pode sobre energia, matéria  e os assuntos afins.
- Agora a energia pode fluir. Não tenho nada por aí, bloqueando seu fluxo. 
Depois de cuidar da casa vai se cuidar. À medida que foi adquirindo mais conhecimento sobre os cristais, comprou vários,  de nomes e cores diferentes. Gosta de ficar quietinha com  uma Sodalita sobre a testa, pensando....Às vezes uma calcita para ativar a área da memória. Outras vezes deita-se com quartzo rosa sobre o coração. Pouco a pouco vai  percebendo o mundo infinitamente rico de possibilidades que as pedras oferecem.
Quando chega ao  consultório olha para os cristais sobre a mesa. Enquanto se arruma para iniciar o atendimento, dá um sorriso na direção da ametista, da esmeralda e para a turmalina negra. Estão ali para proteger de energias negativas.  E vários cristais em uma grande taça com água.
Perto do telefone, coloca sempre um copo com água. Deixa-a ali como se fosse para beber, mas ela fica lá até a manhã seguinte, quando retorna para novas consultas e renova a água. Depois que adotou esse cuidado,  percebeu que fica menos cansada e desvitalizada.  Aprendeu que enquanto conversa,  é possível atrair a energia de quem está do outro lado do fio. Infelizmente, nem sempre a energia é positiva, então por via das dúvidas.....
 No início considerava tudo isto uma coisa de místicos fanáticos. Mas depois de ler tantos autores e  ouvir pessoas sérias narrar alguns casos, passou a acreditar e se cuidar.

Já estava saindo quando o telefone tocou. Era  Lúcia.
- Querida amiga! que bom te ouvir! Estou com saudade .. Tenho uma porção de coisas para contar.
Era sempre bom conversar com a amiga. Ela queria sua ajuda profissional . Um dos seus clientes estava queixando-se de uma dor estranha no peito. Já havia procurado vários médicos mas não melhorava. Além disso, há anos sentia também um pigarro que persistia apesar do  tratamento.
-          Quem sabe você pode ajudá-lo?
Clara  prometeu atendê-lo no dia seguinte,  no final dos consultas.
-          Sabia que você daria um jeitinho. E ai, o que tem feito de bom?
Clara mostrava seu  entusiasmo enquanto contava as pequenas coisas que para ela faziam tanta diferença. 
- Estou mudando minha vida. Até comprando roupas novas... E estudando mil coisas,  tanta coisa, tantas mudanças!
-          Mas a que se deve essas mudanças radicais? Novo amor?
- Meu Deus, Lúcia! Claro que não. Não me preocupo com essas coisas.  Você já devia saber disso. É por mim mesma. Estou gostando mais de mim! Gostando mais, dando-me mais atenção, que antes não dava. Apenas isso! Por que é preciso estar namorando para querer se cuidar?
- Não, claro que não! Mas quantas vezes falei isso e você dizia que estava bom dessa maneira? Fico feliz com a mudança. Acredite!
-          Acredito. Não tenho dúvidas quanto à sua amizade.
- Clara! Deixe-me contar sobre a mulher que atendi ontem. A infeliz está  vivendo perdas significativas por manter uma postura rígida diante da vida. Sabe que precisa mudar, mas não quer. E não tem qualquer interesse em se arrumar, renovar, essas coisas...Sem qualquer motivação, está sem energia para mudar, mas precisa fazer alguma coisa, fazer diferente. Sabe como é?
-          E o que você fez? Pode ajudá-la?
-  Levei-a  a alguns questionamentos.. Ela saiu mexida. Vamos ver se volta para a terapia, ou prefere deixar como está. Às vezes mudar é complicado, principalmente quando os valores são muito rígidos.
-          Quais questões foram levantadas?
- As perguntas básicas: “Em que áreas da sua vida você está insatisfeita? Qual é o comportamento que sabe que precisa mudar? Quais são os aspectos limitadores da sua personalidade? Em que situações gostaria de ter mais escolhas? Qual é o comportamento que vem trazendo problemas e você não consegue modificar? Que partes suas não conhece mas gostaria de conhecer? O que a está impedindo de crescer? E a que considero fundamental para qualquer processo terapêutico. Você acredita que tem direito a poder fazer as suas próprias escolhas e decidir sua vida”?
- É muito interessante, Lúcia. Um bom princípio para qualquer tomada de decisão, ainda que seja decidir não querer mudar. Deixar tudo como está.
- É verdade. E respeito a escolha de cada um, mas é  triste ver uma pessoa chegar à conclusão que é hora de mudar, que é preciso mudar, sob pena de ser infeliz, e não ter coragem ou determinação...
- Aquela frase que todos conhecem, cabe bem aqui: “Se continuar fazendo as coisas do jeito que vem fazendo, vai continuar obtendo os resultados que vem obtendo”. Se quer diferente, faça diferente!
- Clara.. e você? Já se perguntou sobre suas limitações e seu medo? Já pensou como pode abrir caminho até a sua Essência? Já se perguntou?  Queria que tomasse consciência que à medida que vão se revelando alguns aspectos seus, pode ampliar a consciência e transformar seus limites em recursos poderosos. Sair dos extremos e  caminhar o caminho do meio, do equilíbrio, sem se preocupar com dualidades, com os conceitos de certo e errado. Você merece! Faça isso por você!
- Ei!  Senhora psicóloga, a senhora está querendo me submeter a uma terapia via telefone?
Era assim que Clara fazia. Cortava a conversa quando ela tomava o rumo das suas questões mais íntimas. Conversaram mais uns minutos e despediram-se.


Conforme prometera, Clara atendeu o cliente de Lúcia.
Quando chegou em casa, ligou para a amiga.
-          Lúcia! Vi seu cliente. Ele não está bem.
-          Você está falando de câncer?
- Não posso assegurar, mas até pode ser. Pedi exames para fazer um diagnóstico mais preciso, mas o caso é preocupante. Já se trata há muito tempo e o organismo não vem reagindo  aos medicamentos.
- Clara, não sei o que você vai pensar, mas desde que o conheci, senti uma coisa estranha...sabe o que me parece? Algo relacionado a um bloqueio de energia. Ou quem sabe uma doença de ajuste  cármico....
- Também tive essa mesma  impressão. Senti um arrepio quando o examinei. Os chacras laríngeo e o cardíaco estão totalmente bloqueados. Isso explicaria o pigarro e a dor. Olhe, se ainda não está  instalado, já está no campo energético. Mas como falar disto com ele? Será que ele acreditaria?
- Não sei. Quando voltar para a terapia, vou sondar. Depois nos falamos.
Clara sabia que ele estava predisposto a um  de câncer. Ouviu aquela voz interna quando ele entrou. Mas precisava dos exames. Não podia justificar os seus diagnósticos baseada em intuição.  Podia até bastar  para ela, mas não para os pacientes. Também não queria falar claramente com Lúcia.  Estava apenas começando a caminhar por esse mundo fantástico da Energia. Ainda se sentia insegura para assegurar alguma coisa.
            E ele como reagiria  quando soubesse da gravidade.? E o organismo? Reagiria bem ao tratamento? Só o tempo poderia lhe  responder.
Pegou na mesa dois livros que abordam a questão do  Carma.
            Os autores citam casos de doenças que têm sua origem no passado.
Uma pessoa que sofria desde criança de sérios problemas gástricos. Cansada de fazer tratamentos sem obter alívio da gastrite que trazia dores e dietas desagradáveis. Depois de passar por inúmeros médicos resolveu procurar  um especialista em Terapia de vidas Passadas. Logo encontrou a causa da doença:   Havia sido envenenada em uma outra vida.
            Outro caso. uma mulher que sofria de terríveis crises de bronquite, que se repetiam duas ou três vezes ao ano, desde bebê.  Em estado alterado de  consciência,  viu quando em outra vida, um pedaço de laje caiu sobre ela, levando-a à morte por asfixia.
            O livro contava inúmeros casos interessantes que  mostram que muitos males têm a sua origem em tempos distantes do presente.
            Pessoas que foram viciadas em drogas e bebida de alto teor alcoólico e hoje têm seu Sistema Nervoso Central deficiente. E alguns casos de suicídio, outros de enforcamento.... Clara estava impressionada com o que lia.
            Quem sabe o cliente de Lúcia poderia ficar bom se procurasse ajuda também fora da medicina?  Ela sentiu uma energia estranha quando o atendeu e viu uma mancha escura em seu pescoço. Sem dúvida alguma, ali havia um problema que transcendia a questão puramente física.
            Olhou para a mesa e pegou um livro de Barbara Ann Brennan, que estava a um canto. Pegou-o e leu  na contra capa:  “Este livro se dirige aos que estão procurando a autocompreensão dos seus processos físicos e  emocionais que extrapolam a estrutura da medicina clássica. Concentra-se na arte de curar por meios físicos e metafísicos.
 ........nosso corpo existe dentro de  um “corpo” mais amplo de energia humana ou aura, através do qual criamos nossa experiência da realidade, inclusive a saúde e a  doença. É através desse campo que temos o poder de curar a nós mesmos........
Esse corpo energético – pelo qual a ciência só ultimamente vem se interessando, mas que há muito é do conhecimento de curadores e místicos – é o ponto inicial de qualquer doença.  Nele ocorrem as nossas mais fortes e profundas interações, nas  quais podemos localizar o início e  fim de nossos distúrbios psicológicos e emocionais........”
- Quanto tempo perdido, meus Deus! Sinto como se tivesse passado anos de minha vida dormindo e só agora despertei. Tantos conhecimentos à minha disposição........Que trabalho bonito essas  pessoas  estão fazendo.
            Clara continuava estudando... livros  sobre cura energética,   cristais, centros energéticos, seres da natureza, e tudo que vinha às suas mãos. A leitura tomava todo o tempo disponível. Saía  de casa apenas para trabalhar Nenhum programa.....não havia tempo a perder.. A exceção eram as caminhadas na floresta. Ainda assim, levava um livro para ler embaixo de uma árvore.
Era outra pessoa. Alegre e bem disposta, alto astral,  como dizia a secretária.
            Diariamente, ao acordar e antes de dormir, fazia o sinal que o Irmão lhe ensinou. Se emocionava quando sentia  que a testa se aquecia ou formigava depois de fazer esse gesto.   Desistiu de encontrá-lo no bosque. Mas ele estava na maior parte dos seus sonhos. Estes  continuavam e tinham se tornado uma oportunidade de adquirir muitos conhecimentos. Ao acordar, lembrava com clareza cada detalhe das experiências vivenciadas nos sonhos.
           
            Fazia tempo que não via João Carlos. Sentia saudade das conversas com ele. Do seu jeito de falar olhando bem dentro do seus olhos.  Da energia que lhe passava. Ele não ligara mais. Estava claro que esperava que ela ligasse. Mas não ligaria.
            - Que homem interessante!  Mas deixa ele lá, na vida dele. Quanto menos intimidade, melhor. Já falei demais, ele  sabe coisas de mim, que não contei a ninguém! É melhor manter uma distância razoável. 
            Mas a saudade crescia e a vontade de vê-lo também. Chegou a pegar o telefone para conversar um pouco, mas desistiu.
- Ele sabe que quero participar do grupo. Disse isso a ele. Quando achar que é hora, vai me ligar.
O tempo continua passando e João não liga, nem a procura.
A cada dia sente-se mais intuitiva e sensitiva, desenvolvendo sua paranormalidade. Fica feliz com cada um dos progressos que faz.. Já percebe claramente o estado dos chacras e quando estão sofrendo algum bloqueio ou desequilíbrio. Isto facilita muito o diagnóstico das doenças. Aprendeu a avaliar quando a  temperatura é fria ou quente em  cada vórtice e a diagnosticar se o mal é do corpo físico ou um desequilíbrio energético.
Sente-se  realizada quando descobre um maneira nova de  poder melhor ajudar os pacientes, sem dúvida alguma,  está  mais  competente,  e mais segura, naturalmente.
Percebe que suas emoções estão mais fácil de controlar. Ou pelo menos avaliar. Antes não conhecia nem o seu lado emocional. Parecia não ter desejos, emoções e até mesmo as suas sensações eram desconhecidas.
-          Parece que as minhas partes inconscientes estão em paz.
Estava percorrendo  o caminho do auto-conhecimento.

-          Doutora Clara, posso mandar entrar o último paciente?
Finalmente o dia estava terminando. Estava cansada. O cliente de Lúcia havia trazido o resultado dos exames. Ela estava certa. Era um câncer em formação. Como poderiam ajudá-lo? Precisava conversar com a amiga.
-          João Carlos! Que faz aqui?
-          Sou seu último paciente.  Como vai?
Ele estava  ali, à sua frente, o mesmo sorriso e mesmo olhar....A surpresa a deixou sem ação, não podia imaginar essa cena. Levantou-se para abraçar o  amigo.
-          Como está?
Foram as únicas palavras que pronunciou enquanto sentia o abraço carinhoso. João ficou parado diante dela segurando suas mãos  e olhando como sempre bem dentro dos seus olhos. Isto a deixava sem ar.
- Que bom ver você. Espero que não esteja precisando dos meus cuidados profissionais....
- Não. Felizmente estou bem. Senti saudade e já que não me ligou, resolvi aparecer por aqui.  Quem sabe podemos sair por aí...
- Estava  pensando em ir direto para casa. Mas não deixa de ser uma  boa idéia!  Se esperar um pouco....só o tempo de pegar as minhas coisas.
Enquanto o amigo esperava na sala de espera, Clara sentia-se como uma adolescente. Ansiosa como se estivesse se preparando para um  encontro com o primeiro  namorado.
Ajeitou a blusa por dentro da saia. Depois retocou o batom e pegou a bolsa.  Olhou o espelho. Resolveu soltar os cabelos e deu uma boa escovada.
- Estou razoável! Que sorte vir com essa roupa, ficou bem em mim!
Quando saiu João Carlos parou de ler a  revista.
-          Nossa! Você está linda!
Levantou  e segurou a mão de Clara dando-lhe  passagem.

Resolveram que ele a acompanharia  até casa para deixar o carro e depois sairiam no dele. Seria mais prático.
Clara guardou o carro na garagem e logo entrava no carro de João Carlos.
-          Onde quer ir?
-          Clara riu da pergunta dele.
-          E eu sei? Você me pegou de surpresa. Você escolhe.
-          Gostaria de andar um pouco? Depois jantamos!
Pouco tempo depois, ele parou o carro em frente a uma edifício defronte para  a praia e segurou a  mão de Clara para atravessar a avenida.
- Gosto daqui. Venho sempre caminhar nesta praia. Esta área é bem policiada e o lugar é agradável.  À frente, o mar iluminado pela lua cheia era um espetáculo à parte. 
-          Por que não me ligou?
A pergunta pegou Clara de surpresa. Parecia uma crítica
-   Ah, não quis incomodá-lo. Já abusei demais, fazendo perguntas e mais perguntas.... Você me ajudou muito. Sem você eu não teria conseguido nada. Suas explicações foram a base que  me permitiram continuar os estudos sozinha. E quando sinto dificuldades para entender e não consigo prosseguir, recorro a Lúcia para tirar algumas dúvidas. Você trabalha até tarde...não me parece certo  ligar para sua casa à noite.
-          Eu disse que não me sentiria incomodado. Pedi que  ligasse...
-          É como disse. Não quero incomodá-lo. Só isso.
-          E então que tem feito?
Caminhavam pelo calçadão enquanto conversavam. Clara falou das suas experiências, das novas propostas, de quantas coisas novas que só agora estava descobrindo,  dos livros que estava lendo...., falou dos cristais e dos novos hábitos que adquiriu.
João Carlos olhava com aprovação enquanto ela falava.
-          Fico feliz por você, sabia que  iria se descobrir.....
O celular de João Carlos tocou.  Quando viu o número no visor, seu olhar se iluminou.
-          Você se importa?
Clara sorriu e voltou o olhar para o mar, querendo deixá-lo mais à vontade.
-          Querida! Mas já voltou? Como você está? Senti saudade....
            Clara ouvia perfeitamente o que ele dizia. Sentia-se como se invadisse a sua privacidade, mas não podia  deixar de ouvir.
- E então o curso valeu a pena? Claro que quero que  me conte tudo. Você não disse que depois do curso daria uma esticada até o Canadá? Trouxe? Que ótimo. É um presente para uma amiga, depois pego com você.    Não,  agora não posso. Quem sabe mais tarde....
Ouviu quando ele se despediu  carinhosamente.
-  Desculpe, não podia deixar de atender.
- Claro, fique á vontade.
            - Mas como estava dizendo, tenho certeza que agora você não pára mais.  Como disse, esse é um caminho sem volta. Felizmente, poucas pessoas o abandonam depois de conhecer as suas possibilidades de crescimento.  Se bem que no nosso grupo mesmo, alguns dos participantes desistiram no meio do caminho. Mas a semente está lançada e em algum lugar e tempo, haverá de germinar. Tenho certeza que uma vez tenham ouvido a mensagem, nunca a esquecerão. 
            Clara ouvia ouvia o amigo e concordava com ele. Mas alguma coisa a incomodava. Não sabia porque, mas sentia-se estranhamente mal. Deveria ser o cansaço. O dia havia sido pesado. Alguns casos sérios. Além disso alguns pacientes estavam com suas energias  altamente desequilibradas, talvez ela não tivesse protegido suficientemente o seu campo. Seja como for, estava desconfortável.
            - O que você  pensaria se eu tirasse os sapatos e caminhasse um pouco na água? Seria loucura?
-          Adoraria fazer o mesmo. Vamos?

Logo eles caminhavam com os pés na água refrescante do mar segurando os  sapatos nas mãos.
- Precisava me energizar. Hoje foi um dia cansativo. O mar me faz muito bem. E descarrego as energias negativas.
- Legal! Faço isso sempre que posso. Quando o dia é daqueles que mais parecem uma batalha, passo numa praia antes de voltar para casa. Sempre que quiser companhia pode ligar, creia que terei o maior prazer em acompanhá-la. Qualquer dia  ou hora...me liga, tá?
Outra vez, o mesmo olhar. Que ele quer dizer? Não tem ninguém?
-          Adoro o mar, a praia, principalmente à noite, ao luar..
-  Você está certo, é muito bonito. Mas voltando ao assunto que falávamos...Estou  aprendendo coisas muito interessantes. E na medida do possível, vou colocando em prática tudo que posso.
- Isso é ótimo. A Espiritualidade não é algo teórico como muitos pensam.  Não basta ler, meditar, freqüentar igrejas, templos, ou algo semelhante....Espiritualidade é prática. Ação! Dedicação, eu diria.

A conversa seguiu esse rumo como não poderia deixar de ser. João Carlos via a desenvoltura com que Clara falava e sorria.
- Parece que estas semanas frutificaram. Vejo que tem estudado muito. Mas não precisa correr.... Tem todo o tempo do mundo para adquirir  conhecimentos.  Tem saído, feito algum programa? Como está o lazer?
-          Não.  Nada de lazer. Quero recuperar o tempo  perdido.
-  Mas você não perdeu tempo enquanto fazia Faculdade, cursos, ou cuidava  da casa. Tudo é preciso e cada coisa a seu tempo. Há hora para tudo.  Se esta é melhor hora de despertar para Espiritualidade, antes você tinha outras tarefas e atividades prioritárias, porque aquilo  também era necessário para sua  evolução. No trabalho, quando cuida com amor dos pacientes, você também está vivendo sua espiritualidade. Aliás,  costumo dizer que ser médico é mais que uma profissão, uma missão.
Clara gostava de ouvir João Carlos falar. Ele colocava força no que dizia. Passava tanta credibilidade! Bebia cada palavra que ele dizia sobre as coisas relacionadas com o misticismo e a Espiritualidade.
De repente a olhou de um modo provocador:
- Clara, gostaria que conhecesse uma pessoa. Mora aqui perto, vamos até lá?
-          Como assim? Agora?
- E por que não? Vai gostar dela. É uma pessoa muito bonita e vocês vão poder trocar muitas experiências. Acabou de chegar viagem. Ficou algumas semanas na Califórnia participando de  Cursos e  Especialização na área da Medicina Energética e Neurolingüística. Você vai gostar de conversar com ela. É  altamente espiritualizada e muito interessante.
            Clara via no olhar do amigo o carinho e  admiração com que falava dessa mulher. Seus pensamentos voavam. Estava curiosa Ele a convidou para sair e agora quer ver a tal mulher interessante. Mas por que não? Se conhecê-la pode trazer mais conhecimentos, por que não? 
-          Mas não vamos incomodar? São quase nove horas, não  é tarde?
-  Não.  Fique tranqüila, Marta vai gostar se formos até lá. Foi quem ligou à pouco. Está com saudade e eu quero que conheça você.  Passamos lá e depois podemos ir a um restaurante.  Fica bem para você?
Clara concordou e em poucos minutos estavam em casa de Marta.
“ Essa é  a mulher com quem ele falou ao celular”. Bonita! – pensou.
Pode perceber o carinho, e  amor que sentiam pelo outro, enquanto se abraçavam. João Carlos continuou com o braço sobre o ombro de Marta enquanto se voltava  para  a amiga.
continua

MCCA

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