quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Atravessando o Portal do Tempo XIII

XIII        “  O  amor é o processo  através do qual somos conduzidos delicadamente,  de volta a nós mesmos”
                                                                                                                     Saint-Exupéry 

 Estava diante daquela gruta que conhecera, levada pelo Irmão. Subiu os degraus compostos de pedra bruta e parou na entrada.
Não parecia ter ninguém ali. Deu alguns passos e olhou ao redor. Era muito  pequena e não tinha  qualquer objeto. Estava escuro, apenas uma leve penumbra que deixava Clara ver que no canto de uma parede, havia uma porta, ou melhor, uma espécie de abertura. Mais nada.
Clara foi até a porta e viu que dava passagem para uma escada que descia para algum lugar. A escada  não parecia ter muitos degraus e a pouca luminosidade  era suficiente para  descer  sem tropeçar. Ela ia  ver o que tinha lá embaixo. Não havia razão para ter medo. Já chegara até ali. O que poderia acontecer se fosse adiante? Afinal era a gruta do Irmão. Que poderia ter ali de assustador?  Além disso  ele provavelmente estava lá embaixo. Ela queria tanto vê-lo! Ia descer, sim!
Mal havia descido alguns degraus, já podia avistar um longo corredor embaixo. Ao chegar ao último degrau deparou-se com uma grande ametista. Estava estrategicamente localizada entre a escada e o corredor. Aproximou-se da ametista e a tocou. Sua mão atravessou  a pedra que parecia ser de um material permeável e gelatinoso. Esticou o braço e logo todo corpo atravessava a ametista. Chegou ao corredor como se flutuasse. Viu que haviam várias portas nos dois lados do corredor.  Cada uma tinha uma plaquinha com um nome. Parou diante de uma com seu nome. Clara!

Empurrou levemente a porta. Estava apenas encostada, fácil de abrir. Entrou e mesmo na  penumbra viu uma sala vazia com vários  quadros nas paredes. Uma delas era totalmente ocupada por um imenso  espelho. Apenas isso e uma grande poltrona colocada no centro do espaço. Mais nada.
Então ouviu aquela vozinha interior que já conhecia bem, dizendo que se sentasse.
Obedeceu à voz e sentou. Voltou a atenção para os  quadros das paredes.  Eram retratos de  homens e mulheres vestidos com roupas à moda antiga, como personagens de filmes de época.
Ficou um tempo com os olhos fixos nas imagens das paredes diante dela. Parecia que aquelas figuras a hipnotizavam. Não conseguia afastar os olhos delas. Com esforço virou-se para ver o espelho. Mas elas também  estavam lá.  Agora pareciam estar vivas, com se aquele espelho fosse uma tela onde estavam sendo projetadas cenas  de situações muito estranhas.  Não conseguia compreender o que via. Nada parecia fazer sentido.
Via cenas de guerras, de mortes, crianças sendo arrancadas dos braços da mãe. Mulheres desesperadas vendo seus homens partindo para não mais voltar ou sendo assassinados ....Alguns homens poderosos que faziam uso desse poder,  dos modos mais estranhos; desde o uso da violência sexual até assassinatos cruéis. Algumas mulheres que usavam a sensualidade para obter vantagens....
Clara via as cenas se desenrolarem  naquela tela em que se transformara o grande espelho.
Estava impressionada e aflita por não entender o significado do que via. Por mais que se esforçasse  continuava sem entender nada. Perguntava o que queria dizer aquilo que estava sendo mostrado a ela. Mas nenhuma resposta. A aflição foi aumentando e quando já era insuportável, acordou.

Meus Deus! O que é isso? Quem são essas pessoas? O que querem que eu saiba?
Lembrou-se de uma mensagem que lera, “ Acredite que suas ações de hoje vão determinar o futuro, bom ou mau. É a Lei de causa e efeito se manifestando”.
Sabia que estava tendo acesso a informações do passado. Sentia isso. Mais uma vez, atravessara o portal do Tempo. Eram  cenas já vividas. 
Seria a mente inconsciente  liberando imagens guardadas? E agora, ela estaria  pronta para decifrar estas mensagens? Provavelmente não. Apesar de sua sensibilidade, ainda não se via capaz de compreender a voz do inconsciente. Qual daquelas figuras seria ela? Precisava descobrir quem era ela em meio a tantos personagens que passaram por sua tela mental....Sabia que tanto podia ser uma vítima quanto o algoz..
Talvez se fizesse uma terapia ou uma regressão ao passado, conseguisse compreender. Pensaria nessa possibilidade.

Foi  à cozinha fazer um chá. Sentia-se mal. Parecia que a  aflição que viu na tela, a angústia do passado, veio com ela. Fez uma oração  pedindo que o Mestre Jesus tirasse aquela sensação de dentro dela. As imagens  passeavam por sua mente, não conseguia afastá-las.
Pensou na Luz Violeta e pediu aos Anjos Mensageiros que a iluminassem com a Luz da transmutação. Começou a fazer um exercício respiratório e imaginando uma luz violeta sobre a cabeça, mas não conseguia vê-la com clareza. Estava tensa e continuava com as  imagens à sua frente. Resolveu concentra-se na respiração até que conseguiu diminuir o ritmo respiratório, pouco a pouco. Percebeu que à medida que se acalmava, a luz violeta ia tornando-se clara e bonita, brilhante. Dentro de  alguns minutos a luz estava iluminando a cabeça e descia pelos chacras coronário para a testa. Deixou que a luz limpasse todas as imagens e afastasse as formas pensamentos que havia criado ao se deparar com aquelas cenas. Depois imaginou a luz fluindo por todo  corpo e viu quando descia pelo pescoço e iluminava  o peito, a cintura , o abdomem, as coxas, as pernas e os pés.  Estava mergulhada numa bela aura de Luz. A sensação agora era de paz, tranqüilidade, e harmonia.
Logo depois, Clara adormecia.

Acordou bem disposta e sentindo-se em equilíbrio. Enquanto se arrumava, pensava no significado das cenas que vira na noite anterior. O seu coração lhe dizia que recebera um grande oportunidade de crescer. De abrir-se para outras verdades maiores. De algum modo, sabia  que o fato de poder ter acesso àquela porta, por si só já significava estar sendo levada ao auto-conhecimento. Era tudo que ela mais queria: Conhecer  o seu passado. Acreditava que dessa maneira poderia, ao menos,  tentar  entender algumas coisas do presente. Principalmente o medo de constituir a sua própria família. Isso era algo que precisava compreender. Mas o que viu naquela sala não a ajudou nesse sentido. Que  significavam aquelas cenas?

No final da tarde, Clara ligou para Lúcia.  Precisava conversar com ela sobre o cliente que lhe mandara. Discutiram o diagnóstico e as possibilidades do paciente obter resultados favoráveis com um trabalho energético.
- Talvez ele pudesse ir a algum lugar onde  sejam aplicados passes magnéticos, o que acha? Depois faria um tratamento com irradiação de energia de cura. Foi o que pensei.
- Clara, minha amiga.  Estou tão feliz ouvindo  você falar assim. Que bom que você descobriu o valor da Medicina Vibracional. Conversei com ele e mostrei que pelo menos neste momento, a psicoterapia não é o tratamento mais adequado, para aliviar seus sintomas. Muito sutilmente sugeri que tentasse uma ajuda espiritual, disse-lhe que em alguns casos o resultado obtido é bom.
-          E aí, aceitou a sugestão?
-  Sabe o que ele me respondeu? Que me procurou porque alguém lhe  indicou o meu nome como sendo de uma boa psicóloga. E  era só isso que estava buscando, não  procurando uma Espírita. Disse que é  Cristão e a religião dele tem horror ao Espiritismo. Levantou-se zangado e foi embora sem me deixar terminar de falar. E aí, o que  fazer nesses casos?
- Parece que não há nada a fazer. Ele fez a sua escolha. Simplesmente, está fazendo uso do Livre Arbítrio. Ou não? Não podemos impor nossas crenças a ninguém, ainda que seja para salvar a sua vida.
-          De qualquer modo, valeu a intenção.
Quando desligou, Clara ficou pensando nas pessoas que se negam receber ajuda espiritual  por questões religiosas e em outras que deixam de procurar um médico por acreditar que essa ajuda basta. São os extremos do fanatismo. 

Sua mente não parava, os pensamentos iam e vinham.  Lembrou-se das palavras de Marta e a previsão que fizera. Que mudanças seriam essas que ela viu no Tarô? Bom, ela disse que trariam alegria. Isso era bom.
E o Irmão? Era o seu Mestre, não tinha  dúvida.
Pensou  mais uma vez em João Carlos. Sempre que pensava nele, era o seu sorriso que via `a sua frente. E o olhar direto, franco, bonito.
Começou a  ficar apreensiva.
- O que é isso Clara? O que está pensando? Ele é teu amigo! Apenas isso!
Lúcia tinha razão. Fugia de qualquer sentimento mais forte. Desde criança dizia que nunca se casaria. Quando terminou a Faculdade a avó pensou que logo a veria casada. Ela chegou a conhecer alguns colegas que não escondiam o sentimento a respeito da sua neta.  Mas isso não fazia parte dos planos de Clara. Queria ser independente, continuar fazendo o seu trabalho... casar não. Para que? Não queria casar por casar. Estava bem assim. Dificilmente encontraria alguém que a compreendesse e respeitasse, que fosse forte, mas romântico...alguém muito especial, aí sim, quem sabe?
Passou as mãos pelo rosto. Não queria pensar nisso.
Mas pouco a pouco essa idéia passou a perturbá-la. De onde veio essa certeza de não querer casar? Será que foi na infância, por ouvir os comentários negativos da avó sobre o seu pai que a abandonou? Ou talvez a causa esteja em fatos anteriores que não é capaz de lembrar?
O Irmão a ensinou a fazer a Chama Trina. Estava na hora de exercitar. Começou a fazer a visualização como Ele lhe ensinara. Quando terminou, ficou com os olhos fechados, quieta, absorvendo a energia que fluía no seu peito. A luz rosa, azul e amarela a iluminavam.

O telefone chamou. Pensou em não atender, mas podia ser algum paciente precisando dela.
-          Clara, João! Como está?
-          Oi, João. Está  tudo ótimo.
-  Pensei que talvez quisesse conversar um pouco. Estou saindo, quer dar uma andada?
-          Agradeço João, mas estou tão cansada! Pensei em deitar cedo.
Conversaram alguns minutos e quando desligou, Clara se perguntou se não fizera uma tremenda bobagem.  Seria bom poder vê-lo, conversar....Não,  ela não queria envolvimento ou uma intimidade maior. Passou a mão pelo rosto para afastar as idéias que a perturbavam. Tinha muito a aprender.... pegou a apostila e o Tarô  e sentou-se  para estudar.
No Sábado quem ligou foi Lúcia.
- Querida, estou tão contente!  Você está convidada para conhecer os trabalhos espirituais do grupo. Pode  ser amanhã?
-          Quem falou? João Carlos?
-  Ele ligou para me propor um  trabalho na Empresa e perguntou sobre você. Depois, como eu havia sugerido a sua entrada no grupo, ele achou que me devia uma resposta. Mas não falou com você? O que está havendo?
- Nada que eu saiba. De repente não me localizou. Mas não há nada.
            - Nada mesmo? Tive a impressão que vocês haviam se tornado amigos. Ou aconteceu alguma coisa que não posso saber?
-          Lúcia! O que poderia ter havido? Que idéia!
- Está bem, não precisa ficar zangada. Esquece o que disse. Olha que tal fazer um curso comigo? Não é bem um curso, são vivências que promovem o descobrimento de nossas potencialidades. Estou querendo fazer já há algum tempo. Quer ir? Aproveita para descansar um pouco. Vamos!
-          Vou pensar e amanhã conversamos. Obrigada, amiga!
-          Tudo bem. Então nos vemos amanhã
Clara pegou o endereço e combinaram encontrar-se lá. Finalmente ia conhecer os trabalhos que Lúcia fala tanto.
Já estava deitada quando João Carlos ligou. Convidou-a  e disse que  Marta e ele estariam lá, esperando por ela.  Falou  rapidamente, como se tivesse pressa.
Estranhou o tom de voz dele. Talvez tivesse ficado magoado com ela.  Não queria que isso acontecesse.
 Estava perturbada com  as emoções e sensações que desconhecia ser capaz de sentir.
Nessa noite sua meditação foi mais longa. Precisou um tempo maior para se conectar com o Plano Superior. O tom de voz de João Carlos mexeu com ela. A todo instante isso vinha à sua mente. E se ele estivesse mesmo zangado? Mas ela não havia feito nada mais, do que tentar  evitar problemas!

continua...

MCCA


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