Você descobre
o quanto são fortes quando os coloca na água quente”.
Mais uma vez, Clara está recostada na confortável poltrona do
consultório do amigo de Marta. Ele demonstra muita segurança no que faz e ela
consegue sentir-se bem à vontade diante
dele..
A busca começara. Estava
explorando o passado e esta era mais uma sessão de regressão a vivências passadas.
Agora já está ficando mais fácil. Logo após as primeiras palavras de
indução, ela já sente que está se distanciando dali e do presente, sob a
orientação segura do Terapeuta.
“Feche os olhos e sinta-se relaxando todo o corpo. Concentre sua
atenção na respiração. Perceba seu coração pulsando. Você pode sentir a
temperatura das mãos, os sons que chegam aos seus ouvidos, a respiração
tornando-se mais calma e tranqüila Sinta seu corpo solto, relaxado... .e
enquanto seu corpo relaxa.... você pode
perceber a paz e a tranqüilidade fluir...relaxar o corpo e relaxar
a mente....Seus olhos estão ficando
pesados e a respiração calma...muito calma e tranqüila. E à medida que isso
acontece, você pode sentir a sensação de paz crescer e se expandir ...pode
sentir a parte física do seu ser
relaxando....relaxando mais e mais...
Quando o físico relaxa o Ser tem acesso a outras realidades...Perceba
os olhos pesados, mais pesados, as mãos
mais pesadas....Mais calma, mais tranqüila, num estado alterado
profundo....mais calma, relaxada...num estado de consciência alterado mais e
mais profundo....mais profundo..........
Agora você está completamente relaxada...totalmente relaxada....e a
mente suavemente....relaxada., tudo é paz, calma e tranqüilidade. Você sente-se
segura e agradavelmente confortável... ...seu corpo adormece, a mente adormece
e você sente-se bem, muito bem..
Agora você pode imaginar que
está num belo jardim, muito florido...o sol está se pondo e o céu vai se tornando azul noite.. as estrelas vão
aparecendo e você sente-se livre, totalmente livre para flutuar...
voar...deslizar entre as estrelas e
seguir livre.......livre....”
Ele ainda falava e Clara já estava em outro tempo e espaço. Flutua
sobre um lugar desconhecido, parecendo
ser uma espécie de Feudo ou Povoado da
Idade Média. Logo se vê entrando numa casa situada em meio a um grande prado.
Era uma casa grande, de dois ou três andares. No andar de baixo um grande salão
ricamente decorado. Na parece principal dois enormes quadros com fotos de um homem e uma mulher ocupam quase
todas parede. O homem, muito bonito,
está vestido com roupas ricas e parece ser um nobre. É moreno, de bigode
e olhos negros e profundos. Olhos de um
homem forte, corajoso. Parece uma pessoa boa e franca.
A mulher, belíssima, aparentando aproximadamente vinte anos. Seus cabelos soltos até a cintura eram louros cor de mel. Seus
olhos muito azuis dão- lhe um toque de pureza e jovialidade quase
infantil. Veste uma roupa de cor azul em
tom pastel que realça mais a beleza do seu olhar. Sem dúvida, essa foto
mostra uma mulher de rara beleza.
Olha ao redor e vê portas que dão para a cozinha e serviço.
Numa das paredes da sala, uma
escadaria larga leva ao andar superior. Clara sobe essa escada a chega a uma
espécie de corredor, mas é muito largo, e parece que dá acesso aos
vários quartos e a uma grande
varanda ao redor da casa.
Encostada em uma das colunas da varanda, está uma mulher.
Essa mulher olha o imenso jardim
bem cuidado e florido, onde um menino de uns quatro anos brinca. De vez em
quando, ela desvia a atenção do filho, e olha para fora, para algum lugar muito distante. Nesses
momentos seu olhar mostra tristeza e
saudade. A jovem mulher parece esperar por alguém que partira há tempo atrás.
Provavelmente, o homem moreno da foto.
Clara se esforça para
compreender aquilo que está vendo
com tanta clareza. Era capaz de sentir a dor daquela mulher ali encostada. Sentia-se como se
ela mesma esperasse alguém que
demorava a chegar. O sentimento de tristeza e solidão vai dando lugar a uma
saudade que faz doer seu coração. Pergunta onde está o cavalheiro da foto mas não obtém resposta.
Quando insiste na pergunta, as imagens se apagam da sua mente e outra cena
surge.
A mesma mulher sentada numa cadeira de balanço na varanda. Tem sobre as
pernas uma manta de lã quadriculada Está
envelhecida e seu olhar parece não esperar mais nada da vida. Clara se aproxima
mais e vê que seu olhar já não tem vida, parece ter perdido a esperança.
As imagens se diluem e surge na tela mental de Clara outra cena. Agora
ela está deitada e um jovem louro de
olhos negros segura a sua mão. A mulher está muito doente, parece estar
se despedindo do filho e da vida. Seu rosto mostra serenidade e paz. A morte é
um alívio para ela. Na mão uma pequena
foto do cavalheiro que esperara por tanto tempo.
Clara sente um misto de dor e alívio. Finalmente ela vai descansar.
Talvez possa encontrar o seu amado em outro lugar, noutro
tempo....
“........Agora vou contar de três até um e quando contar um, você
estará aqui, completamente consciente, sentindo-se bem disposta, calma e
tranqüila. Será capaz de lembrar-se de tudo que viu com muita clareza, com riqueza de detalhes. Todo o passado vai
ficando distante...Você sente o seu corpo calmo e tranqüilo. Pode desligar-se
do passado e vir ao encontro do
presente. Liberte-se do passado, traga apenas o aprendizado e os recursos que
esta viagem lhe proporcionou. Deixe-se vir.....livre, totalmente livre ...3,
sinta-se bem....2, sinta-se muito tranqüila...1, desligue-se do passado e abra
os olhos. Você está aqui. Calma e
tranqüila, muito bem e com seu poder criativo expandido. Mais forte...Capaz de
exercer o seu poder pessoal, ser livre e feliz.”
Clara abriu os olhos. Olhou em volta para se localizar. Estava de volta
ao presente. As imagens ainda estavam vivas na sua memória mas sentia-se livre
da sensação de sofrimento e da solidão.
Lembrou-se daquela pobre mulher...Era ela, tinha certeza. Podia sentir
sua dor e a saudade de alguém... como ela sentia. Era ela. E o homem da foto?
Os olhos dele ainda estavam ali diante dela, olhando-a.
Mais uma situação de perda, tristeza e solidão. Como nas outras viagens
que fez nas sessões anteriores, também
hoje encontrou uma parte dela que sofreu a dor do abandono. Queria ir para
casa, ficar sozinha, pensar...
Logo que entrou, olhou para Haroldson e sorriu. Não estava com vontade
de conversar. Sentia-se triste. Foi até o telefone e desligou a chave.
Precisava ficar em paz, refletir.
Precisava recapitular cada detalhe, cada uma das cenas que haviam sido
acessadas pela mente consciente em todas as regressões.
Trouxe mais uma vez à lembrança, cada uma das experiências e das
imagens que a mente inconsciente deixou passar para que ela pudesse ver e
compreender o presente através do conhecimento do passado.
Era triste descobrir que nas últimas existências, vivera momentos de
tanta dor, tantas perdas. As imagens voltaram a ocupar a sua mente.
Numa situação vivida por ela, o
seu marido era um cavaleiro que partia para defender as terras que haviam sido
invadidas por bárbaros. Via diante dela a cena em que ele se despedia
prometendo voltar. “Espere-me minha querida esposa. Não posso deixar de
acompanhar o meu Rei, mas eu
volto”. Ele não voltou. Ela
recebeu algumas semanas depois, a espada e o escudo que lhe pertencera.
Em outra experiência, presenciou a armadilha que prepararam para ela e
o homem amado. Era uma mulher bonita e cheia de esperança, como qualquer jovem
da sua idade. Apaixonada e feliz porque
estava prestes a se casar com um rapaz de uma cidade vizinha. Aterrorizada pode
ver quando o seu noivo foi preso e
assassinado por um rival, alguém que a desejava. Quando se viu obrigada a casar-se com esse infeliz,
preferiu morrer. Assim, poderia encontrar o seu amado em outros mundos.
Uma outra cena a que teve acesso, foi a que mostrava uma mulher, já de
meia idade, que fugia por dentro de uma floresta, em meio a árvores e muitos
buracos. Estava sendo perseguida por alguém que queria obrigá-la a dizer onde
seu marido, um revolucionário idealista, se escondia. Foi alcançada pelos cães
e morta de maneira muito dolorosa. Podia ver o corpo deixado lá, servindo de alimento aos animais, e o que
parecia ser um outro corpo dela, em pé ao lado do cadáver, observando tudo.
Quem seria esse ser ali ao lado?
Clara tenta entender o que viu. Num dos livros que leu, aprendeu que
temos vários corpos, e quando o físico morre, o corpo etérico pode ficar ainda,
desde algumas horas até dois ou três dias, ao lado do que morreu, até se desintegrar. Esse tempo de morte do corpo
etérico dependeria da evolução de cada um. O etérico de uma pessoa mais
evoluída, se desintegra em pouco tempo, ao contrário daqueles que ainda não despertaram.
Mas então aquele ser poderia ser ela mesma, em outro corpo?
Então por que ter medo da morte? Por que as pessoas temem tanto a morte
como se fosse o fim de tudo? Está claro que não há morte. Agora ela não podia
duvidar disso. Ela, Clara, está aqui, bem viva. Podendo até lembrar de
situações que ela mesma viveu em outras existências. Isto significa que não há porque ter medo de morrer.
Pensa na infância, lembra a avó
falando da sua mãe e como ela
morreu, falava disso como se fosse uma desgraça, ou um castigo e não como
uma coisa natural. Alimentou-se durante
o resto da vida da recordação da filha e fez com que Clara crescesse
sentindo-se uma criança má. Se sua avó tivesse tido a oportunidade de aprender
o que ela estava agora aprendendo, sua infância poderia ter sido menos triste.
Quantas vezes se sentiu culpasse pela morte da mãe? Mesmo sem querer, a
avó levou-a a acreditar que ela era a responsável pela morte da mãe. Do mesmo
modo que o seu pai fez. Mas que culpa tem um bebê, se a mãe morre quando ele
nasce? Como criar essa criança sem que ela carregue culpas que não são delas?
Mas que culpa? Não há culpados!
É tão importante estudar, aprender....Saber como é articulado todo
o processo que envolve encarnação e desencarnação. Conhecer a Lei do
Carma e o Conselho Cármico que analisa as necessidades de cada ser para sua
evolução. Aprender como a Vida se manifesta através do tempo e espaço.
Enquanto elabora os pensamentos e coloca as idéias em ordem, Clara
sente uma sensação de unidade com as figuras que conheceu nas visões que teve.
Como se ela tivesse uma única vida, com inúmeras existências. Cada uma em um corpo e num lugar diferente.
Com experiências, dores e aprendizagens diferentes. Era muito estranho. Mas
muito bonito também.
A experiência que mais a tocou foi a que lhe passou uma sensação de ser
mais forte. Sentia que era uma mulher forte. Boa. Nela via-se andando descalça
pela areia de uma praia ou ancoradouro, não estava muito claro. Tinha ao redor
da cabeça, passando pela testa, algo
como se fosse uma fita ou coisa parecida. Os cabelos eram castanhos e iam até
os ombros. Calçava sandálias com tiras finas
cruzadas até o meio das pernas, onde amarravam. Vestia uma roupa que
chegava aos pés e era muito leve, quase transparente, como se fosse de crepe de
seda num tom bege ou amarelo bem claro. Num dedo da mão esquerda via um anel com uma pedra que
parecia ser uma safira. Subia tranqüilamente por uma encosta e chegava a uma
construção que parecia um templo,
convento ou monastério, não conseguia identificar. Parecia que ia
encontrar alguém pois sentia-se emocionada e ansiosa. Clara viu quando ela
chegou ao lugar e se dirigiu para um
grande salão onde se via uma mesa com
vidros, potes com o que parecia ser poções ou algo parecido e muitas folhas de
ervas diferentes. Logo a mulher mexia
com tudo aquilo, parecendo manipular medicamentos naturais. Demonstrava ter
muitos conhecimentos do que fazia. A segurança com que fazia as misturas
impressionou Clara e levou-a a pensar se não seria naturalista ou talvez
uma curadora herborista.
De repente, a mulher sorriu e
seu olhar se iluminou. De trás de uma coluna, perto do que parecia ser um
grande altar, surgiu um homem de uns trinta anos. Eles se olharam
e Clara logo percebeu o quanto se amavam. Ele se aproximou e ajoelhou-se
diante dela, fazendo um gesto de respeito. Depois segurou suas mãos e beijou-as. O homem
a amava, com certeza. Seu olhar, franco e direto, dizia isso. Clara estava emocionada.
Sentiu vontade de chorar vendo aquele amor tão lindo e puro. Viu quando os dois se abraçaram como se no mundo existissem
apenas eles e seu amor. Foi quando apareceu um homem de barbas longas e olhar
duro que a agarrou e arrastou para dentro de um aposento. A moça tentou em vão
se libertar e ainda se voltou a tempo de ver um outro homem desferindo um golpe
de espada que acabava com a vida do seu amor. Ela estava proibida de amar, era
uma Sacerdotisa, por isso foi trancada
até a morte como punição.
Quando Clara se perguntou que lugar era aquele, ouviu Atlântida, como
resposta.
Que amor bonito! Clara ficou tão sensibilizada com as cenas que não conseguia parar de chorar. Chorava pelos
dois apaixonados ou por ela?
Quantas vezes Clara viu e reviu
as mesmas cenas?
Não cansava de olhar cada detalhe. Os lugares, as roupas, os cabelos,
tudo... Insistia principalmente em “ver de novo” os rostos dos homens que
amara. Mais que os rostos, ela trazia a todo instante à lembrança, os seus
olhos.. o modo de olhar. Ainda que fossem de cores diferentes, todos tinham uma
coisa em comum: o modo de olhar. Sempre franco, direto... os olhos de um forte.
Horas e horas Clara ficava relembrando as imagens que a mente
consciente acessara.
Foi juntando as histórias, vendo o que tinham em comum e o podia ser
aprendido com cada situação vivida. Sim,
porque só assim se explicaria tanto sofrimento. A necessidade de aprender,
crescer, evoluir. Do contrário nada faria sentido. Sabia que estava repetindo
algumas experiências que já havia vivido. Isto significava que ainda não
aprendera o suficiente sobre determinados sentimentos e emoções. Seu coração
lhe dizia que era preciso aprender principalmente sobre o desapego, e se libertar dos medos.
Estava começando a compreender. Já entendia o porque do seu medo de
amar. Estava claro! Não queria passar por novas perdas. Tinha medo de sofrer.
Percebeu que nesta vida já passara pela mesma dor. Havia perdido todos a quem
amara. A mãe, o pai e a avó. Que mais poderia perder? Isto era um padrão na
vida dela? Não! precisava romper com isso. Ou seria o seu Carma?
Precisava de ajuda, orientação. Pensou em Lúcia. Era psicóloga, deveria
saber lidar com essas coisas. Não. Era amiga dela. Queria alguém que não
conhecesse detalhes da sua vida. Mas quem? E a essa hora?
Marta! É Psicóloga, tem várias Especializações.. Ela saberá como lidar
com todo esse material que está me confundindo.
Já estava tarde, eram mais de dez horas da noite, mas precisava falar
com Marta. Ela ia entender.
-
Marta, desculpe ligar a essa hora. Mas preciso de sua ajuda.
-
Claro, fique à vontade, costumo deitar tarde.
Contou sobre as experiências a que teve acesso, tudo que descobrira do
passado e das conclusões a que chegara.
Muito acanhada, falou também sobre o medo de amar alguém e a possibilidade de
perder esse amor.
Depois, ainda emocionada perguntou:
- Você, além de Terapeuta, sabe tanta coisa sobre a Espiritualidade e o
psiquismo... diga sinceramente, estas perdas são um padrão que não pode ser
rompido? Me ajuda, por favor!
-
Querida, calma! Como você está sofrendo....
- Marta, se por acaso eu gostasse de alguém... se eu amar alguém, é
certo que o perderia? Ele pode sofrer algum risco? Eu correria o risco de perder o homem que amo?
Marta ouvia o choro da amiga do outro lado do fio.
- Clara, está ouvindo? Fique calma..... Veja se entendi bem....você
está dizendo que ama alguém e tem medo de
perder esse amor...
Clara não respondeu, o choro não deixou.
- Querida! Clara eu entendi direito? Você está amando, mas teme por
esse amor. É isso? Mas você é tão corajosa! Tão forte! Perder alguém é um risco que sempre
corremos. Mas isso é razão para fugirmos
do amor e da felicidade?
Clara continuava soluçando...
- Pense, querida, que pode estar perdendo a oportunidade de ser feliz. O medo faz parte da vida, mas não
pode limitar nossa vida. Compreende? Veja só: Digamos que por sentir medo de
sofrimento ou perda, você escolha ficar sozinha. Escolher é um direito seu. Mas
será essa a melhor escolha? Claro que pode preferir ficar só do que sofrer. Mas e o homem que ama? Você está pensando nele ou apenas em você?
Você tem o direito de condená-lo à infelicidade, a uma vida de solidão e vazio
por medo de uma possível futura perda?
- Clara! Está ouvindo? Minha
querida, essa decisão é só sua. Ninguém pode ajudá-la a fazer as suas escolhas.
Mas talvez fique mais fácil, se puder se fazer algumas perguntas. Experimente
perguntar ao seu coração, se o medo é maior que o desejo de ser feliz, pergunte
se o homem que ama vale a pena, como seria estar nos braços dele e principalmente se você merece
ser feliz. Ouça o coração. Deixe que ele a guie, ele sabe o que é melhor para
você.
Clara continuava chorando compulsivamente do outro lado.
Marta se sentiu sensibilizada com sofrimento da amiga.
-
Marta! Será que eu mereço ser feliz?
- De onde tirou essa idéia? Claro que merece. Todos merecemos! Que
absurdo o que disse, minha amiga! Seu sistema de crenças está limitando você.
Precisamos ver isso. E é bem provável que o padrão de perdas tenha sido
rompido.
-
Como assim?
- Quando teve acesso às
vivências passadas e compreendeu as causas
que estão por trás dos acontecimentos de hoje...aprendeu algo. Além disso, hoje
sabe mais, faz tanta coisa para ajudar as pessoas.. Isto não é evolução?
Clara começava a se acalmar. Talvez a amiga estivesse certa e ela
tivesse se libertado desse tipo de sofrimento. Claro que poderia passar por
outras situações, mas esta, específica, sentia que acabara. Sentia-se livre.
- Clara... Lembra-se da
Imperatriz do Tarô? Vá em frente, mostre
a força da mulher maravilhosa que é. Seja feliz, querida.
Quando desligou o telefone,
Clara ainda organizava as idéias. Fez uma oração e pediu orientação. Lembrou do
seu Mestre tão amoroso. Sentia que ele estava ali, ao seu lado, quase podia
sentir seu toque. Ouviu no coração a mensagem “eu quero, eu posso, eu faço”.
Eu quero, logo, eu posso...Então o que me impede de fazer?
Depois de algum tempo, foi à janela e olhou o céu repleto de estrelas.
Ficou lá pensando, avaliando a sua vida,
os seus sentimentos, os desejos, os sonhos que ainda sonhava por mais que
negasse.
Passado um tempo, foi até a jarra sobre a mesa, tirou algumas pétalas de rosas e foi para o
chuveiro. Banhou-se como se quisesse lavar a alma. Entregou á água que caía,
toda a insegurança e todos os medos,
para que os levasse para as profundezas do mar. Deixou ir o que a fazia sofrer.
Depois do banho, jogou sobre os cabelos e todo corpo, a água com a s rosas.
Queria lavar-se de todas as energias negativas e limitadoras. Queria deixar a
liberdade para ser feliz, queria simplesmente, ser livre. Poder escolher, seguir o caminho que seu coração lhe
mostrava. Queria Ser. Agora, finalmente estava pronta! Ia abrir a porta ao novo, e deixá-lo entrar.
Depois do banho, era outra. Agora sentia-se preparada para enfrentar o
que viesse. Já podia fazer a escolha entre ser feliz ou infeliz.
Vestiu um vestido branco de alças e penteou o cabelo molhado.
Colocou uma lavanda suave, respirou bem fundo e pegou o telefone.
-
João Carlos, sou eu. Te acordei?
-
Querida o que aconteceu? Algum
problema?
- Não, estou bem, muito bem. Só quando disse
isso percebeu o quanto estava bem A sensação de paz que a invadira. Sensação
que nunca sentira.
-
Clara?
- Estou bem, ótima! João, sabe
aquela proposta...ficarmos juntos quando estivermos bem velhinhos, era de
verdade?
Quando o ouviu rindo do outro
lado, sua voz estremeceu.
-
Não era verdade? Você estava brincando?
-
Não estou entendendo, Clara.... o que aconteceu com você?
-
Queria só saber...se é verdade.
- É verdade! Quero você... ainda que tenha que esperar o resto da vida.
Ou ficarmos bem velhinhos, se é assim que você prefere. Estou esperando
você...Você sabe!
Clara chorava de alegria, João Carlos podia ouvir seus soluços.
-
Clara, o que ouve, o que está acontecendo? Não está bem?
-
Estou. Estou sim. Só queria saber...
-
Eu vou aí, você não está bem .
-
Não precisa, está tarde. Amanhã conversamos.
-
Espere, já estou indo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário