sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Atravessando o Portal do Tempo XVIII

XVIII       “As pessoas são como saquinhos de chá.
           Você descobre o quanto são fortes quando os coloca na água quente”.

Mais uma vez, Clara está recostada na confortável poltrona do consultório do amigo de Marta. Ele demonstra muita segurança no que faz e ela consegue  sentir-se bem à vontade diante dele..
A busca começara.  Estava explorando o passado e esta era mais uma sessão de  regressão a vivências passadas.
Agora já está ficando mais fácil. Logo após as primeiras palavras de indução, ela já sente que está se distanciando dali e do presente, sob a orientação segura do Terapeuta.

“Feche os olhos e sinta-se relaxando todo o corpo. Concentre sua atenção na respiração. Perceba seu coração pulsando. Você pode sentir a temperatura das mãos, os sons que chegam aos seus ouvidos, a respiração tornando-se mais calma e tranqüila Sinta seu corpo solto, relaxado... .e enquanto seu corpo relaxa.... você pode  perceber a paz e a tranqüilidade fluir...relaxar o corpo e relaxar a  mente....Seus olhos estão ficando pesados e a respiração calma...muito calma e tranqüila. E à medida que isso acontece, você pode sentir a sensação de paz crescer e se expandir ...pode sentir a parte física do seu ser  relaxando....relaxando mais e mais...
Quando o físico relaxa o Ser tem acesso a outras realidades...Perceba os olhos pesados, mais pesados,  as mãos mais pesadas....Mais calma, mais tranqüila, num estado alterado profundo....mais calma, relaxada...num estado de consciência alterado mais e mais profundo....mais profundo..........
Agora você está completamente relaxada...totalmente relaxada....e a mente suavemente....relaxada., tudo é paz, calma e tranqüilidade. Você sente-se segura e agradavelmente confortável... ...seu corpo adormece, a mente adormece e você sente-se bem, muito bem..
Agora você pode  imaginar que está num belo jardim, muito florido...o sol está se pondo e o céu  vai se tornando azul noite.. as estrelas vão aparecendo e você sente-se livre, totalmente livre para flutuar... voar...deslizar entre  as estrelas e seguir livre.......livre....”

Ele ainda falava e Clara já estava em outro tempo e espaço. Flutua sobre um  lugar desconhecido, parecendo ser uma espécie de  Feudo ou Povoado da Idade Média. Logo se vê entrando numa casa situada em meio a um grande prado. Era uma casa grande, de dois ou três andares. No andar de baixo um grande salão ricamente decorado. Na parece principal dois enormes quadros com  fotos de um homem e uma mulher ocupam quase todas parede. O homem, muito bonito,  está vestido com roupas ricas e parece ser um nobre. É moreno, de bigode e olhos negros e  profundos. Olhos de um homem forte, corajoso. Parece uma pessoa boa e franca.
A mulher, belíssima, aparentando aproximadamente vinte anos. Seus  cabelos soltos até a cintura eram  louros cor de mel.  Seus  olhos muito azuis dão- lhe um toque de pureza e jovialidade quase infantil. Veste uma roupa de cor  azul em tom pastel que realça mais a beleza do seu olhar. Sem dúvida,  essa foto  mostra uma mulher de rara beleza.
Olha ao redor e vê portas que dão para a cozinha e serviço.
Numa das paredes da sala,  uma escadaria larga leva ao andar superior. Clara sobe essa escada a chega a uma espécie de corredor, mas é muito largo, e parece que  dá acesso aos  vários  quartos e a uma grande varanda ao redor da casa.
Encostada em uma das colunas da varanda, está uma mulher.
Essa  mulher olha o imenso jardim bem cuidado e florido, onde um menino de uns quatro anos brinca. De vez em quando, ela  desvia a atenção  do filho, e olha para fora,  para algum lugar muito distante. Nesses momentos seu olhar mostra  tristeza e saudade. A jovem mulher parece esperar por alguém que partira há tempo atrás. Provavelmente, o homem moreno da foto.
Clara se esforça para  compreender aquilo que está vendo  com tanta clareza. Era capaz de sentir a dor  daquela mulher ali encostada. Sentia-se  como se  ela mesma  esperasse alguém que demorava a chegar.  O sentimento de  tristeza e solidão vai dando lugar a uma saudade que faz doer seu coração. Pergunta onde está  o cavalheiro da foto mas não obtém resposta. Quando insiste na pergunta, as imagens se apagam da sua mente e outra cena surge. 
A mesma mulher sentada numa cadeira de balanço na varanda. Tem sobre as pernas uma manta de lã quadriculada  Está envelhecida e seu olhar parece não esperar mais nada da vida. Clara se aproxima mais e vê que seu olhar já não tem vida, parece ter perdido a esperança.

As imagens se diluem e surge na tela mental de Clara outra cena. Agora ela está deitada e um jovem louro de  olhos negros segura a sua mão. A mulher está muito doente, parece estar se despedindo do filho e da vida. Seu rosto mostra serenidade e paz. A morte é um alívio para ela.  Na mão uma pequena foto do cavalheiro que esperara por tanto tempo.

Clara sente um misto de dor e alívio. Finalmente ela vai descansar. Talvez  possa  encontrar o seu amado em outro lugar, noutro tempo....

“........Agora vou contar de três até um e quando contar um, você estará aqui, completamente consciente, sentindo-se bem disposta, calma e tranqüila. Será capaz de lembrar-se de tudo que viu com muita clareza,  com riqueza de detalhes. Todo o passado vai ficando distante...Você sente o seu corpo calmo e tranqüilo. Pode desligar-se do passado e  vir ao encontro do presente. Liberte-se do passado, traga apenas o aprendizado e os recursos que esta viagem lhe proporcionou. Deixe-se vir.....livre, totalmente livre ...3, sinta-se bem....2, sinta-se muito tranqüila...1, desligue-se do passado e abra os olhos. Você  está aqui. Calma e tranqüila, muito bem e com seu poder criativo expandido. Mais forte...Capaz de exercer o seu poder pessoal, ser livre e feliz.”

Clara abriu os olhos. Olhou em volta para se localizar. Estava de volta ao presente. As imagens ainda estavam vivas na sua memória mas sentia-se livre da sensação de sofrimento e da solidão.  Lembrou-se daquela pobre mulher...Era ela, tinha certeza. Podia sentir sua dor e a saudade de alguém... como ela sentia. Era ela. E o homem da foto? Os olhos dele ainda estavam ali diante dela, olhando-a.
Mais uma situação de perda, tristeza e solidão. Como nas outras viagens que fez nas sessões anteriores,  também hoje encontrou uma parte dela que sofreu a dor do abandono. Queria ir para casa, ficar sozinha, pensar...

Logo que entrou, olhou para Haroldson e sorriu. Não estava com vontade de conversar. Sentia-se triste. Foi até o telefone e desligou a chave. Precisava ficar em paz, refletir.
Precisava recapitular cada detalhe, cada uma das cenas que haviam sido acessadas pela mente consciente em todas as regressões.
Trouxe mais uma vez à lembrança, cada uma das experiências e das imagens que a mente inconsciente deixou passar para que ela pudesse ver e compreender o presente através do conhecimento do passado.
Era triste descobrir que nas últimas existências, vivera momentos de tanta  dor, tantas  perdas. As imagens voltaram a ocupar  a sua mente.

Numa situação vivida por ela,  o seu marido era um cavaleiro que partia para defender as terras que haviam sido invadidas por bárbaros. Via diante dela a cena em que ele se despedia prometendo voltar. “Espere-me minha querida esposa. Não posso deixar de acompanhar o meu Rei, mas eu  volto”.  Ele não voltou. Ela recebeu algumas semanas depois, a espada e o escudo que lhe pertencera.
Em outra experiência, presenciou a armadilha que prepararam para ela e o homem amado. Era uma mulher bonita e cheia de esperança, como qualquer jovem da sua idade.  Apaixonada e feliz porque estava prestes a se casar com um rapaz de uma cidade vizinha. Aterrorizada pode ver quando o seu noivo foi preso e  assassinado por um rival, alguém que a desejava. Quando se viu  obrigada a casar-se com esse infeliz, preferiu morrer. Assim, poderia encontrar o seu amado em outros mundos.
Uma outra cena a que teve acesso, foi a que mostrava uma mulher, já de meia idade, que fugia por dentro de uma floresta, em meio a árvores e muitos buracos. Estava sendo perseguida por alguém que queria obrigá-la a dizer onde seu marido, um revolucionário idealista, se escondia. Foi alcançada pelos cães e morta de maneira muito dolorosa. Podia ver o corpo deixado lá,  servindo de alimento aos animais, e o que parecia ser um outro corpo dela, em pé ao lado do cadáver, observando tudo. Quem seria esse ser ali ao lado?
Clara tenta entender o que viu. Num dos livros que leu, aprendeu que temos vários corpos, e quando o físico morre, o corpo etérico pode ficar ainda, desde algumas horas até dois ou três dias, ao lado do que morreu, até  se desintegrar. Esse tempo de morte do corpo etérico dependeria da evolução de cada um. O etérico de uma pessoa mais evoluída, se desintegra em pouco tempo, ao contrário daqueles  que ainda não despertaram.
 Mas então aquele ser  poderia ser ela mesma, em outro corpo? 
 Então por que ter medo da  morte? Por que as pessoas temem tanto a morte como se fosse o fim de tudo? Está claro que não há morte. Agora ela não podia duvidar disso. Ela, Clara, está aqui, bem viva. Podendo até lembrar de situações que ela mesma viveu em outras existências. Isto significa que  não há porque ter medo de morrer.
Pensa na infância, lembra a avó  falando  da sua mãe e como ela morreu, falava disso como se fosse uma desgraça, ou um castigo e não como uma  coisa natural. Alimentou-se durante o resto da vida da recordação da filha e fez com que Clara crescesse sentindo-se uma criança má. Se sua avó tivesse tido a oportunidade de aprender o que ela estava agora aprendendo, sua infância poderia ter sido menos triste.
Quantas vezes se sentiu culpasse pela morte da mãe? Mesmo sem querer, a avó levou-a a acreditar que ela era a responsável pela morte da mãe. Do mesmo modo que o seu pai fez. Mas que culpa tem um bebê, se a mãe morre quando ele nasce? Como criar essa criança sem que ela carregue culpas que não são delas? Mas que culpa? Não há culpados!
É tão importante estudar, aprender....Saber como é articulado todo o  processo que envolve  encarnação e desencarnação. Conhecer a Lei do Carma e o Conselho Cármico que analisa as necessidades de cada ser para sua evolução. Aprender como a Vida se manifesta através do tempo e espaço. 
Enquanto elabora os pensamentos e coloca as idéias em ordem, Clara sente uma sensação de unidade com as figuras que conheceu nas visões que teve. Como se ela tivesse uma única vida, com inúmeras existências.  Cada uma em um corpo e num lugar diferente. Com experiências, dores e aprendizagens diferentes. Era muito estranho. Mas muito bonito também.
A experiência que mais a tocou foi a que lhe passou uma sensação de ser mais forte. Sentia que era uma mulher forte. Boa. Nela via-se andando descalça pela areia de uma praia ou ancoradouro, não estava muito claro. Tinha ao redor da cabeça, passando pela testa,  algo como se fosse uma fita ou coisa parecida. Os cabelos eram castanhos e iam até os ombros. Calçava sandálias com tiras finas  cruzadas até o meio das pernas, onde amarravam. Vestia uma roupa que chegava aos pés e era muito leve, quase transparente, como se fosse de crepe de seda num tom bege ou amarelo bem claro. Num dedo da  mão esquerda via um anel com uma pedra que parecia ser uma safira. Subia tranqüilamente por uma encosta e chegava a uma construção que parecia um templo,  convento ou monastério, não conseguia identificar. Parecia que ia encontrar alguém pois sentia-se emocionada e ansiosa. Clara viu quando ela chegou ao lugar e se dirigiu  para um grande salão onde se via uma  mesa com vidros, potes com o que parecia ser poções ou algo parecido e muitas folhas de ervas diferentes. Logo a  mulher mexia com tudo aquilo, parecendo manipular medicamentos naturais. Demonstrava ter muitos conhecimentos do que fazia. A segurança com que fazia as misturas impressionou Clara e levou-a a pensar se não seria naturalista ou talvez uma  curadora herborista.
 De repente, a mulher sorriu e seu olhar se iluminou. De trás de uma coluna, perto do que parecia ser um grande altar,  surgiu  um homem de uns trinta anos. Eles se olharam e Clara logo percebeu o quanto se amavam. Ele se aproximou e  ajoelhou-se  diante dela, fazendo um gesto de respeito.  Depois segurou suas mãos e beijou-as. O homem a amava, com certeza. Seu olhar, franco e direto, dizia isso. Clara estava emocionada. Sentiu vontade de chorar vendo aquele amor tão lindo e puro. Viu quando os  dois se abraçaram como se no mundo existissem apenas eles e seu amor. Foi quando apareceu um homem de barbas longas e olhar duro que a agarrou e arrastou para dentro de um aposento. A moça tentou em vão se libertar e ainda se voltou a tempo de ver um outro homem desferindo um golpe de espada que acabava com a vida do seu amor. Ela estava proibida de amar, era uma  Sacerdotisa, por isso foi trancada até a morte como  punição.
Quando Clara se perguntou que lugar era aquele, ouviu Atlântida, como resposta.
Que amor bonito! Clara ficou tão sensibilizada com as cenas que  não conseguia parar de chorar. Chorava pelos dois apaixonados ou  por ela?
Quantas vezes Clara viu e reviu  as mesmas cenas?
Não cansava de olhar cada detalhe. Os lugares, as roupas, os cabelos, tudo... Insistia principalmente em “ver de novo” os rostos dos homens que amara. Mais que os rostos, ela trazia a todo instante à lembrança, os seus olhos.. o modo de olhar. Ainda que fossem de cores diferentes, todos tinham uma coisa em comum:  o  modo de olhar. Sempre franco, direto...  os olhos de um forte.
Horas e horas Clara ficava relembrando as imagens que a mente consciente acessara.
Foi juntando as histórias, vendo o que tinham em comum e o podia ser aprendido com cada situação vivida.  Sim, porque só assim se explicaria tanto sofrimento. A necessidade de aprender, crescer, evoluir. Do contrário nada faria sentido. Sabia que estava repetindo algumas experiências que já havia vivido. Isto significava que ainda não aprendera o suficiente sobre determinados sentimentos e emoções. Seu coração lhe dizia que era preciso aprender principalmente sobre o desapego, e   se libertar dos medos.
Estava começando a compreender. Já entendia o porque do seu medo de amar. Estava claro! Não queria passar por novas perdas. Tinha medo de sofrer. Percebeu que nesta vida já passara pela mesma dor. Havia perdido todos a quem amara. A mãe, o pai e a avó. Que mais poderia perder? Isto era um padrão na vida dela? Não! precisava romper com isso. Ou seria o seu Carma?
Precisava de ajuda, orientação. Pensou em Lúcia. Era psicóloga, deveria saber lidar com essas coisas. Não. Era amiga dela. Queria alguém que não conhecesse detalhes da sua vida. Mas quem? E a essa hora?
Marta! É Psicóloga, tem várias Especializações.. Ela saberá como lidar com todo esse material que está me confundindo.
Já estava tarde, eram mais de dez horas da noite, mas precisava falar com Marta. Ela ia entender.
-          Marta, desculpe ligar a essa hora. Mas preciso de sua ajuda.
-          Claro, fique à vontade, costumo deitar tarde.
Contou sobre as experiências a que teve acesso, tudo que descobrira do passado e das  conclusões a que chegara. Muito acanhada, falou também sobre o medo de amar alguém e a possibilidade de perder esse amor.
Depois, ainda emocionada perguntou:
- Você, além de Terapeuta, sabe tanta coisa sobre a Espiritualidade e o psiquismo... diga sinceramente, estas perdas são um padrão que não pode ser rompido? Me ajuda, por favor!
-          Querida, calma! Como você está sofrendo....
- Marta, se por acaso eu gostasse de alguém... se eu amar alguém, é certo que o perderia? Ele pode sofrer algum risco? Eu  correria o risco de perder o homem que amo?
Marta ouvia o choro da amiga do outro lado do fio.
- Clara, está ouvindo? Fique calma..... Veja se entendi bem....você está dizendo que ama alguém e tem medo de  perder esse amor...
Clara não respondeu, o choro não deixou.
- Querida! Clara eu entendi direito? Você está amando, mas teme por esse amor. É isso? Mas você é tão corajosa! Tão forte!  Perder alguém é um risco que sempre corremos.  Mas isso é razão para fugirmos do amor e da felicidade?
Clara continuava soluçando...
- Pense, querida, que pode estar perdendo a oportunidade de  ser feliz. O medo faz parte da vida, mas não pode limitar nossa vida. Compreende? Veja só: Digamos que por sentir medo de sofrimento ou perda, você escolha ficar sozinha. Escolher é um direito seu. Mas será essa a melhor escolha? Claro que pode preferir  ficar só do que sofrer. Mas e o homem que  ama? Você está pensando nele ou apenas em você? Você tem o direito de condená-lo à infelicidade, a uma vida de solidão e vazio por medo de uma possível futura perda?
- Clara! Está ouvindo?  Minha querida, essa decisão é só sua. Ninguém pode ajudá-la a fazer as suas escolhas. Mas talvez fique mais fácil, se puder se fazer algumas perguntas. Experimente perguntar ao seu coração, se o medo é maior que o desejo de ser feliz, pergunte se o homem que ama vale a pena, como seria estar nos  braços dele e principalmente se você merece ser feliz. Ouça o coração. Deixe que ele a guie, ele sabe o que é melhor para você.
Clara continuava chorando compulsivamente do outro lado.
Marta se sentiu sensibilizada com sofrimento da amiga.
-          Marta! Será que eu mereço ser feliz?
- De onde tirou essa idéia? Claro que merece. Todos merecemos! Que absurdo o que disse, minha amiga! Seu sistema de crenças está limitando você. Precisamos ver isso. E é bem provável que o padrão de perdas tenha sido rompido.
-          Como assim?
 - Quando teve acesso às vivências passadas e compreendeu as  causas que estão por trás dos acontecimentos de hoje...aprendeu algo. Além disso, hoje sabe mais, faz tanta coisa para ajudar as pessoas.. Isto não é  evolução?
Clara começava a se acalmar. Talvez a amiga estivesse certa e ela tivesse se libertado desse tipo de sofrimento. Claro que poderia passar por outras situações, mas esta, específica, sentia que acabara. Sentia-se livre.
- Clara...  Lembra-se da Imperatriz do Tarô?  Vá em frente, mostre a força da mulher maravilhosa que é. Seja feliz, querida.

Quando  desligou o telefone, Clara ainda organizava as idéias. Fez uma oração e pediu orientação. Lembrou do seu Mestre tão amoroso. Sentia que ele estava ali, ao seu lado, quase podia sentir seu toque. Ouviu no coração a mensagem “eu quero, eu posso, eu faço”.
Eu quero, logo, eu posso...Então o que me impede de fazer?
Depois de algum tempo, foi à janela e olhou o céu repleto de estrelas. Ficou lá  pensando, avaliando a sua vida, os seus sentimentos, os desejos, os sonhos que ainda sonhava por mais que negasse.
Passado um tempo, foi até a jarra sobre a mesa,   tirou algumas pétalas de rosas e foi para o chuveiro. Banhou-se como se quisesse lavar a alma. Entregou á água que caía, toda  a insegurança e todos os medos, para que os levasse para as profundezas do mar. Deixou ir o que a fazia sofrer. Depois do banho, jogou sobre os cabelos e todo corpo, a água com a s rosas. Queria lavar-se de todas as energias negativas e limitadoras. Queria deixar a liberdade para ser feliz, queria simplesmente, ser livre. Poder escolher,  seguir o caminho que seu coração lhe mostrava. Queria Ser. Agora, finalmente estava pronta! Ia  abrir a porta ao novo, e deixá-lo entrar.
Depois do banho, era outra. Agora sentia-se preparada para enfrentar o que viesse. Já podia fazer a escolha entre ser feliz ou infeliz.
Vestiu um vestido branco de alças e penteou o cabelo molhado. Colocou  uma lavanda suave,  respirou bem fundo e pegou o telefone.
-          João Carlos, sou eu. Te acordei?
-          Querida o que aconteceu?  Algum problema?
 -  Não, estou bem, muito bem. Só quando disse isso percebeu o quanto estava bem A sensação de paz que a invadira. Sensação que nunca sentira.
-          Clara?
 - Estou bem, ótima! João, sabe aquela proposta...ficarmos juntos quando estivermos bem velhinhos, era de verdade? 

Quando o ouviu  rindo do outro lado, sua voz estremeceu.
-          Não era verdade? Você estava brincando?
-          Não estou entendendo, Clara.... o que aconteceu com você?
-          Queria só saber...se é verdade.
- É verdade! Quero você... ainda que tenha que esperar o resto da vida. Ou ficarmos bem velhinhos, se é assim que você prefere. Estou esperando você...Você sabe!
Clara chorava de alegria, João Carlos podia ouvir seus soluços.
-          Clara, o que ouve, o que está acontecendo? Não está bem?
-          Estou. Estou sim. Só queria saber...
-          Eu vou aí, você não está bem .
-          Não precisa, está tarde. Amanhã conversamos.
-          Espere, já estou indo!



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