sábado, 9 de fevereiro de 2013

Atravessando o Portal do Tempo XX

XX       "Luz e sombra são opostos.  No entanto, uma  depende da outra como  o                                                     passo da perna direita depende  do passo da perna esquerda."                                                                                                                                               Doutrina Zen

 Os dias passavam rápido e logo chegaria o filho tão esperado. A casa estava preparada para recebê-lo. Tudo muito bem estruturado. Clara pretendia se afastar algum tempo do consultório  para se dedicar inteiramente ao filho. Felizmente a situação financeiramente deles permitia isso.
            Clara pensava com tristeza, nas mulheres que não podiam cuidar dos filhos por necessidade de logo voltar ao trabalho.  Logo depois do casamento, pediu ao marido para oferecer mais oportunidade de emprego para  mulheres com filhos pequenos, e aumentar a capacidade da creche da Empresa. Era uma maneira de promover maior tranqüilidade às mulheres que trabalham.
            Clara e João Carlos saíram para escolher o berço e ver alguma coisa de última hora. Provavelmente era a última saída antes do parto.
Tudo resolvido, e Clara andava tranqüila pelo  Shopping, com o marido ao seu lado. Estava feliz. Que bercinho bonito o do seu bebê! O quarto ia ficar lindo. Não via a hora dele chegar. Nos últimos meses da gravidez, o tempo parece não passar e estava sentindo-se muito cansada e indisposta com o peso da barriga.
Quando saía de uma Livraria, viu quando   uma mulher segurando uma criança pela mão, veio se aproximando do local onde estavam. Os olhos de Clara se fixaram no menino.
Sempre gostou de crianças. Principalmente as que estão aprendendo a caminhar. É difícil deixar de parar para brincar ou fazer um carinho. Ela sorriu piscando um olho para o menino e este logo se soltou da mãe e veio na sua direção.  Quando o menino se aproximou, ela viu que aparentava três ou quatro anos e era portadora da síndrome de Down.  Clara se abaixou e abraçou, ou melhor deixou-se abraçar pela criança. Ficou alguns segundos ali recebendo o carinho daquele pequeno ser, que de uma forma tão amorosa, a acariciava. Quanto amor naquele olhar infantil!  Depois de um beijo, a criança se afastou com a mãe, mas ainda se voltou alguma vezes para abanar as pequenas mãosinhas, e acenar para Clara.  Depois que ele se afastou, o sorriso desapareceu do  rosto de Clara.  João Carlos percebeu a mudança no seu olhar e sorriu, amorosamente.
- Que bonita missão  a dessa mulher! Não é fácil receber um bebê portador de qualquer deficiência. 
- É verdade.  Todas as famílias estão preparadas para a chegada de um filho lindo e sadio. Durante a gravidez fazem planos, sonham com  o bebê   forte e saudável, que lhes dará muita  alegria e orgulho. No entanto, Deus na sua Sabedoria lhes envia um ser que necessita passar por determinadas experiências para continuar sua evolução. E aí? O que fazer? Se os homens compreendessem as Leis Cósmicas, poderia aceitar todas as situações difíceis sem tanto sofrimento.
            - Amor, você acredita que ter um filho deficiente é sempre um  resgate cármico?
- Não. Algumas vezes, sim, mas não sempre. Mas com certeza, esta  família está tendo uma grande oportunidade de evoluir e aprender.  Sabemos que para receber uma criança assim, que requer cuidados especiais para viver,  e tanta dedicação, é preciso uma maior disponibilidade de amar.
- Conheço muitos pais que  rejeitam os filhos que apresentam qualquer deficiência, principalmente, a Down. Alguns nem chegam a perceber essa rejeição, mas ela fica clara, se observarmos o comportamento de muitos pais que chegam a esconder os filhos com vergonha das suas limitações. Outros para não ter que enfrentar a situação,  começam a sair  de casa com mais freqüência, chegam a inventar algo a fazer fora de casa. Para eles é difícil lidar com um filho que foge ao padrão do bebê perfeito.  Esquecem que é seu filho.
- Você tem razão. Conheço alguns casos de pais que  chegaram a abandonar o lar. As mães, ficam sozinhas com toda a responsabilidade de cuidar do filho. Isto sim, é covardia e falta de responsabilidade. Não há dúvida que as mulheres estão mil anos luz adiante do homem, quanto à capacidade de amar e se entregar a uma tarefa tão bonita.
- Se essas pessoas conhecessem as Leis de Carma e Dharma, com certeza, agiriam diferente, e agradeceriam ao Pai, a possibilidade de dar um salto evolutivo e  acelerar a caminhada. Por falta de conhecimento das Leis, perdem a oportunidade de crescer e aprender muito. Sem falar que em muitos casos, esse filho pode ter sido uma vítima sua, alguém a quem podem ter feito muito mal no passado. Se agora, pudessem dedicar-lhe o seu amor e cuidados, poderiam pagar suas dívidas antigas, que  continuarão a existir até ser totalmente pagas.
- É verdade. O homem tem direito à Lei do Livre arbítrio. Pode fazer a sua escolha e seguir o caminho que deseja,  mas depois  dessa Lei vem a Lei da Responsabilidade que  cobra pelos nossos atos. Causa e efeito.
-  Mas, e se não for Carma? Se não houver dívida a resgatar?
- Nesse caso, talvez seja o Dharma se manifestando. A mãe ou o pai, pode ter aceitado essa tarefa como uma missão. Podem ter sido velhos  amigos ou, quem sabe até  pais desse ser, em outra encarnação. Em alguns casos, são espíritos evoluídos que,  sabedores das dificuldades que esse ente querido tem que passar nesta etapa da sua evolução, podem ter pedido a oportunidade de estar junto para aliviar o seu sofrimento. Que doação de  amor!
 Agora se calavam como se arrumassem as idéias. Clara fixou os olhos no marido e o pegou de surpresa quando perguntou como seria se o bebê fosse uma criança com alguma deficiência. Ele sorriu e beijou a mão da mulher.
-  Por quê  essa pergunta?  Você sabe a resposta.
-  É claro. Você é tão especial que essa pergunta só teria uma resposta.
-  Não, pelo contrário creio que até gostaria. Se pudesse ajudar alguém a enfrentar a sua provação, gostaria. Mas estarei  preparada para essa tarefa? Isso é sério. Não sei se estou pronta para tal prova de amor. Será que estou evoluída para levar uma missão desse nível a bom cabo?  Se me fosse dada a oportunidade de escolher, creio que pediria para receber em meu lar uma criança que precise de muito amor para vencer as suas provas. Ter uma experiência assim, servir, contribuindo com o Plano divino, seria uma boa forma de agradecer tudo de bom que Deus me deu.  E estar de novo com você! Mas estarei pronta para servir assim?
- Tenho certeza que está preparada. Vamos entregar a Deus. Ele sabe o que é melhor para que nossa caminhada se tornar mais frutífera. Seja como for, estou pronto para receber e amar do mesmo modo, nosso filho, seja ele uma criança saudável ou carente de cuidados. É o nosso filho de qualquer maneira.
- Que bom que você é assim, tão bondoso. Eu te amo  muito.   
João Carlos apertou suavemente a mão da mulher. Ela entendeu a mensagem, Sabia que ele também a amava do mesmo jeito. Com o físico e com o Espírito.
Antes de  adormecer lembrou do menino que encontrou no Shopping. Do jeito amoroso com que a olhou e beijou. Passou as mãos pela barriga, enviando uma mensagem para o filhinho. Fazia sempre isso, desde que soube que estava grávida. Gostava de conversar com o bebê, contar-lhe coisas. Falou mais uma vez, que era um filho muito querido, que estava sendo esperado pelos seus pais e por todos da família  com muito, muito amor. “Pode vir tranqüilo, meu querido bebê. Você está sendo aguardado com  muito carinho. Vem, estou te esperando, meu filhinho querido”.
Mudou de posição e olhando o rosto do marido, falou:
-          Amor, você preferia saber  o sexo do neném?
-          Quero o que você quiser. Se você prefere não saber, eu concordo.
-  Quero viver a surpresa. Ver a carinha dele ou dela. Quando chegar a hora, com você do meu lado, vou  saber se é menino ou menina. Você não acha melhor?    Vai ser lindo! 
O marido a beijou sorrindo. Claro que ele concordava. Só queria vê-la feliz.
- Durma, querida. Durma com os anjos.

Clara adormeceu nos braços de João Carlos. E, como ele disse, sonhou com    anjos.
Estava num prado enorme onde crianças e pequenos animais brincavam. O verde ali era mais verde e o céu mais azul. Havia  crianças de todas  as  idades. Desde bebês até aproximadamente dez a doze anos. Os mais velhos cuidavam dos pequeninos. Tudo ali era harmonia e felicidade. Clara tentou se aproximar de um grupo de crianças menores, mas foi impedida por algo que parecia um campo de energia ao redor do lugar. A alguma distância, uma menina de mais ou menos dez, onze anos olhava tudo. Parecia ser sua, a responsabilidade de manter tudo em ordem. Clara a olhava com admiração. Tão calma e segura enquanto acalmava uns, ajudava outros, estimulava outros a brincar e a cooperar com os amiguinhos, a compartilhar as brincadeiras e os brinquedos.  “ Talvez seja a  dirigente do grupo. Que menina bonita. Que  olhar  esperto e quanta bondade passa na maneira de falar. Mas que lugar é esse? ”
Como se lesse seus pensamentos, a menina veio na sua direção. Olhou para a barriga de Clara e sorriu. Que sorriso!  O sorriso da menina era capaz de iluminar tudo ao redor. Sem qualquer dúvida, era um Ser de muita  luminosidade. Seus olhos pareciam dois sóis, de tanto brilho.  Aproximou-se de Clara, e sem dizer qualquer palavra,  tocou sua barriga com as duas mãos. Uma sensação  estranha    inundou Clara. Era um misto de paz e felicidade máxima. Clara olhou para as mãos da menina na sua barriga e viu que uma luz saía das mãosinhas e a inundava, deixando ver  o feto também iluminado. A menina sorria com olhar travesso. Pegou a mão de Clara, que agora parecia flutuar com tanta emoção, e a levou para o outro lado, atravessando o campo energético.
Agora Clara estava no que parecia um jardim encantado das crianças.  Podia vê-las de perto e até tocá-las. A menina ao seu lado, iluminava todo o ambiente. Seus cabelos dourados chegavam até as costas e os olhos eram de uma pureza difícil de  descrever.  Então fez um sinal para que Clara se sentasse, e fez o mesmo. Logo muitas crianças vieram sentar ao redor delas. Só então Clara pode perceber que havia ali algumas crianças que pareciam frágeis e até doentes, e outras mostravam ser portadoras de diferentes deficiências. Algumas eram cegas, outras surdas, mudas, aleijadas... enfim, nem todas as crianças eram saudáveis, mas todas pareciam estar felizes. Quando se perguntava que lugar era aquele,  ouviu a voz da menina.
-          Aqui, estamos esperando a hora de encarnar. Não eu. Elas!
Clara se encanta com a menina:  Que jeito puro e natural de  falar! Que olhar lindo enquanto fala. Clara estava gostando de estar  ali.
- Eu ajudo as crianças a se preparar enquanto esperam a hora. As que vão nascer num berço bom, não me preocupam, mas e as outras? Sabe como é, muitas vão enfrentar algumas dificuldades quando chegarem lá, no novo lar. Muitas mamães e muitos papais não sabem o que fazer quando seus filhinhos nascem doentes. Nós compreendemos. É mesmo muito difícil cuidar de crianças que requerem cuidados especiais. Isto dá muito mais trabalho que atender as necessidades de um menino com saúde perfeita. Mas que fazer, se às vezes os filhos e outras vezes os pais precisam passar por essas lições? A vida também tem momentos difíceis, não é? Quando isso acontece as “minhas crianças” sofrem muito. Sentem-se rejeitadas e intrusas numa família que não as deseja. Isto está certo? Você acha certo magoar as minhas crianças, só porque elas estão precisando de um pouquinho mais amor e de compreensão?   E nem é por tanto tempo assim! O tempo passa tão rápido na Terra. Não concorda comigo?
A fala da menina deixa passar um pouco de tristeza, mas muita compreensão e  Clara se emociona.  Sorri sem saber o que responder. Nesse momento, algumas crianças  que brincavam a uma certa distância, vieram sentar perto da menina. Um dos meninos  se aproximou mais de Clara e tocou o seu rosto, e a acariciou. Logo depois, sentou-se no seu colo e aninhou-se.   Clara se enterneceu com o carinho e o aconchegou mais no colo, enquanto fazia-lhe carinhos.  A menina sorriu e continuou, docemente:
- Sei que concorda, futura mamãe. Você não magoaria meus meninos
 e minhas meninas. Por isso deixei você passar para este lado do jardim. Vê-se logo que tem um coração bonito. O seu filhinho vai ser muito feliz no seu lar. Por isso está esperando ansioso, para ser colocado no seu colo e mamar o seu leitinho. Você vai dar o seu mamá  para ele, não vai? Claro que vai! Você ama seu filhinho! Sabe que muitas mamães não dão o mamá só  porque não querem perder o tempo e a beleza? É! Algumas mulheres acham até que vão ficar feias de corpo, se derem o seu leitinho aos filhinhos. Não acredita no que estou dizendo? Mas é verdade!     Imagine se alimentar um filhinho pode deixar uma mulher feia!      Não é um absurdo? Diga! Não é um absurdo?
Clara apenas ouvia a menina que falava sem parar e demonstrava tanta emoção nas suas palavras. Na sua pureza ela não podia conceber que uma mulher pudesse deixar de  alimentar seu filho. Continuava aninhando o menino que parecia estar gostando de estar ali.
- Até os animaizinhos fêmeas amamentam suas crias. E elas não sabem pensar. Não entendem de sentimentos. Como então uma mamãe pode fazer isso com sua criancinha? Não entendo, não posso entender. Você entende?
Naturalmente Clara entendia as razões das mulheres, que optam por não amamentar. Não concordava, mas respeitava os motivos de cada uma.  Lamentava as que sacrificavam seu papel de mãe por razões tão tolas. E principalmente lamentava pelas crianças, que perdiam tanto com isso. Essas crianças eram lesadas, tanto na questão da saúde, como no aspecto do equilíbrio emocional.
Não falava, apenas ouvia o que a menina dizia e sorria. E imaginava quantas experiências ela teria passado para chegar a esse estado de evolução.  Porque estava claro, que essas eram palavras de um ser bem  evoluído, ainda que  se manifestasse na forma de uma criança.
Depois de algum tempo, a menina começou a cantar e logo depois era acompanhada por todas as crianças. Suas vozes ecoavam longe. “Um coro de anjos”, pensou Clara.  Quando pararam de cantar, ela fez um sinal e cada um foi brincar do seu modo preferido. O menino no seu colo relutou em sair dali, mas a um sinal da menina levantou-se e saiu na direção das outras crianças, olhando para trás, onde elas estavam. As pequenas mãos acenavam para Clara. Ela jogou um beijo e perguntou à menina:
-          Esse menino está aqui há muito tempo?
-  Não. Chegou há poucos dias e já vai embora. Ele já viveu muitas encarnações e aprendeu muito. Está só se preparando, sabe como? Para fazer a transição...  ele vai para outra dimensão...a terceira, você sabe.  Mas ele não nos preocupa, vai ficar muito bem! Tem uma missão, sabe? Tem um trabalho a fazer com crianças e jovens. Muito bom!
Enquanto conversavam, caminhavam pelo imenso espaço florido.  Andaram por todo o jardim até pararem diante de uma bela construção.
-          Como é o seu nome?
-           Eu? Você quer saber o meu nome? Que gentil! É bondade sua se
interessar por mim. Meu nome é Maria. Mas as minhas crianças e meu Mestre me chamam de Mariazinha. Pode-me chamar assim, se gostar. Eu gosto mais.
-  Mariazinha. É muito bonito.  
  Eu também acho!  Gosto muito mesmo. 
- E quem é o seu Mestre?
 - Isso não posso lhe dizer. É segredo. Só Ele pode dizer seu nome. Entende? Não me cabe falar algo assim, segredo de outro. É por respeito!
 Clara estava absolutamente encantada com o modo dela falar. Tamanha era  a sua pureza e ingenuidade, a sua autenticidade.  Um anjo em forma de criança.
A menina ficou alguns momentos em silêncio. Parecia estar em concentração ou fazendo contato telepático. Depois segurou a mão de Clara e falou:
- Veja que  lugar lindo! Quer entrar aí? É muito lindo lá dentro.
 Dizendo isso, começou a subir os degraus até a grande porta, Clara segurou firmemente a mão que a menina lhe estendia e a seguiu. Ao chegarem diante da grande porta, parou.
-  Não quer entrar? 
-  Mas não é certo entrar sem ser convidada. Não fica bem.
 - Não! Não é assim. A pessoa se aproxima mais e se a porta abrir é porque a pessoa pode entrar. Entendeu? A porta abre sozinha quando a  pessoa está pronta. Quer tentar?
Como Clara podia deixar de fazer o que a menina pedia? Aproximou-se e mais até tocar a porta.  Imediatamente  ela se abriu, como por encanto.
- Viu como foi fácil? Eu sabia que ia abrir! Pode entrar. Eu vou com você. Cofie em mim.  Vem!
  Clara deu mais alguns passos e já se viu num espaço de grande beleza. Um grande salão com muitas cadeiras formando um meio círculo. E lá adiante, no centro, uma mesa com outras doze cadeiras que mais pareciam tronos. Tudo muito bonito e iluminado.  Estava num Templo, com certeza!
  - Não é lindo aqui? Sabia que ia gostar! Mas entrar não é fácil, só poucas pessoas vêem aqui. Eu entro, porque me comporto muito bem e trabalho com amor. Gosto de ajudar e ensinar às crianças tudo que  aprendi. Está vendo aquela porta lá em frente? Passar por ela é muito mais difícil. Só quando somos chamados por Ele. Ali é mesmo um Portal. Difícil passar! 
-   Ele? Quem é Ele? Seu Mestre?
-  Não!  O Mestre deste Templo. Aqui é uma Escola Iniciática. Só os que Ele chama de Discípulos podem atravessar aquela porta. Ele a chama de Portal.   Não é porta. Portal é mais importante
-   Então, eu não posso passar para o outro lado. – falou sorrindo. 
-    Isso não sei! Experimente. Vamos até lá. Vamos ver.
Clara sabia que não passaria pela porta. Mas o jeitinho da menina...não podia decepcioná-la. Acompanhou-a até a porta que se mantinha fechada.
Diante da porta, a menina parou.  Sorriu amorosa e falou:
-  Agora dê um empurrãozinho.. e tente abrir. Quem sabe, Ele deixa você entrar? Nunca se sabe.
Clara estava gostando da experiência. A menina, Mariazinha, parecia desafiar a sua coragem. Chegou mais perto da menina e beijou-a carinhosamente.
- Você é muito querida e especial. Seu coração transborda de bondade. Não importa que não passe pelo Portal, obrigada por me trazer até aqui. Deus te abençoe!   Se meu bebê for uma menina, posso chamá-la de Maria?
- Você está querendo me homenagear? É isso? Estou mesmo muito emocionada. Vou receber homenagem? É muito bom isso. Gosto muito!
Clara abraçou a menina e confirmou.
-  Então está combinado, se  tiver uma menina vou dar-lhe o seu nome. E que Deus a abençoe minha filhinha,  para tornar-se uma menina linda e bondosa como você.
- Fico tão feliz! Mas e então! Não fique aí parada. Empurre a porta. Veja se abre.
- O que tem do outro lado? Sabe?
-  Claro! Eu entro sempre aí. Sou filha Dele! Por isso sou assim, feliz!
Clara sorriu e empurrou a porta. Esta logo  se abriu, de par em par, dando-lhe passagem.
-  Viu? Que maravilha! Eu sabia, eu sabia que você podia abrir.
A alegria da menina era maior que a de Clara. Ela pulava enquanto falava. Clara deu alguns passos e sentiu que estava dentro de um campo vibratório diferente. A menina se aproximou dela e segurou suas mãos.
- Agora, é só com você. Vou voltar para as minhas crianças. Não posso me afastar durante muito tempo. Compreende, não é?  Um outro dia nos encontramos.  Seja abençoada!
Dizendo isso, se afastou, desaparecendo como por encanto.
Clara estava agora sozinha com ela mesmo. Olhou ao redor e não viu ninguém.   Seu alguns passos mais e caminhou pelo salão observando melhor. Viu diante dela uma outra porta e quando se aproximava, viu-se diante de um Ser de barbas e cabelos brancos que a olhava sorrindo.  Sem saber o que falar, Clara fez o sinal de saudação a um Mestre. Colocou as duas mãos em prece e depois cruzou-as no peito. 
O Mestre sorriu e fez um gesto com a cabeça. A seguir, segurou a mão de Clara, e levou-a até uma cadeira, convidando-a a sentar-se. Ela sentia que estava em outro plano ou esfera, A energia era extremamente sutil. Parecia que ia flutuar.  Clara o olhava  como se esperasse algo.
- Seja bem vinda! Você atravessou o Portal do tempo. Onde não existe passado, nem futuro, apenas o eterno presente.. E não se impressione, com a energia que a cerca. Realmente a energia aqui é sutilíssima. Estamos em outra dimensão, além do tempo e do espaço. Aqui você pode fazer contato com todas as suas experiências, ter consciência das vivências de todas as suas encarnações no decorrer da Vida.  Sei  que já tomou ciência de algumas experiências que viveu no passado. Mas ainda que tenha  viajado ao passado através de técnicas terapêuticas ou da meditação, isso não  se compara ao que pode conhecer a partir daqui.
- Senhor,  não pensei em entrar...
-  Não se preocupe. Sabíamos que viria. Você foi convidada, através de Maria.  Você já aprendeu bastante e está preparada para conhecer aspectos da sua caminhada. Isto pode se tornar mais um recurso para sua evolução. O auto-conhecimento só é completo quando se toma consciência das aprendizagens acumuladas no  decorrer do tempo. Quando ultrapassa as barreiras do tempo.  Lembre-se que a cada encarnação, a pessoa  vai  adquirindo determinadas aprendizagens e conhecimentos. O somatório de todas lições aprendidas nas várias encarnações promovem o conhecimento de si mesma e das Leis que regem o Universo. O conceito do Tempo não é fácil de ser compreendido. Imagine uma linha do tempo. Não linear, mas formando círculos como se fosse um  grande espiral. Agora veja em que em vários pontos dessa linha em espiral, estão acontecendo situações, que fazem parte de  suas encarnações. Cada ponto, uma encarnação. Todas ao mesmo tempo mas em pontos diferentes da espiral. Fácil, não? Agora veja:
Quando disse estas palavras, o Mestre levantou uma mão. Acendeu-se uma luz e uma tela surgiu diante de Clara. Estava tudo ali. Era ela e ao mesmo tempo, era como se fosse outros eus dela, em outras situações. Em tempo e lugares diferentes. Ela estava se vendo e ao mesmo tempo, passando pelas experiências. Tudo diante dela. Pode rever   cenas de experiências que já havia acessado nas regressões e em Meditação. Via tudo com uma maior riqueza de detalhes.  Viu o passado mais distante e mais próximo. As cenas com João Carlos, os momentos de perda, seu trabalho como Sacerdotisa, como curadora, como médica na China...Viu seus pais em outra vida, apaixonados, casados e rejeitando a idéia de ter filhos. Queriam viver apenas um, para o outro. Achavam que uma criança tiraria o tempo que era apenas deles. Viu quando a mãe se submeteu a vários abortos. E o fim deles, velhos, sozinhos e arrependidos da escolha que fizeram. De repente passaram diante dela cenas desconhecidas,  acontecimentos que ainda não foram vivenciados. Via o  seu futuro. Emocionada, pode ver a sua família. Seu lar, seu marido e seus filhos.  E o seu trabalho. Um trabalho de serviço ao próximo. Realizando algo que havia sonhado fazer, mas que via apenas como um sonho que julgava difícil de realizar. Mas podia ser feito. Agora via como fazer. Ela viu-se fazendo no futuro. Viu  momentos de alegria e de tristeza. O Tempo não tinha mais segredos para ela. E quanta coisa a fazer!
- E então, Filha? Compreendeu?
Essa voz ela conhecia bem. Voltou-se para o lado  e viu o seu Mestre. O seu amado Irmão estava ali, olhando-a com aquele jeito tão amoroso.
Aproximou-se  dele, fazendo a saudação de sempre e beijou suas mãos.
- Compreendeu Filha querida, o que esperamos de você? A missão que está à sua espera? Viu-se no amanhã, fazendo. Realizando seu plano para esta encarnação. Tem alguma dúvida a respeito do que fazer, e dos recursos que necessita para realizar  a tarefa que a aguarda, a sua missão? Lembre-se que Estamos sempre aqui, à sua disposição. Sabe como fazer para entrar em contato. Temos certeza que terá sucesso no seu empreendimento. Seu amado companheiro estará ao  seu lado, participando de todo o processo, com amor e o apoio que necessitar. Sabemos que aceitará esta tarefa como mais um serviço espiritual. Afinal também é. Podemos dizer que estarão recomeçando um trabalho que foi iniciado em outro tempo. Reconstruindo algo que se perdeu e que agora terá continuidade. Você pode ver como será feito, porque teve acesso ao Registro Akáshico. Alguma dúvida?
- Não, Mestre. Está claro. Vi como realizaremos a tarefa. Não tenho palavras para agradecer a oportunidade de servir dessa maneira tão especial. Mas quando acordar, lembrarei do que fazer com clareza? Ou tudo estará no inconsciente?
 - Lembrará do que for necessário. As lembranças virão na forma de intuição, no tempo certo.  Por agora deve  preocupar-se apenas com o filho que está chegando. Você viu a família que terá... trabalho não há de faltar-lhe.
Agora vá. Que o Pai Supremo a abençoe!

continua...

MCCA







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