XX "Luz e sombra são opostos. No entanto, uma depende da outra como o passo da perna direita depende do passo da perna esquerda." Doutrina Zen
Os dias passavam rápido e logo chegaria o filho tão
esperado. A casa estava preparada para recebê-lo. Tudo muito bem estruturado.
Clara pretendia se afastar algum tempo do consultório para se dedicar inteiramente ao filho.
Felizmente a situação financeiramente deles permitia isso.
Clara pensava com tristeza, nas
mulheres que não podiam cuidar dos filhos por necessidade de logo voltar ao
trabalho. Logo depois do casamento,
pediu ao marido para oferecer mais oportunidade de emprego para mulheres com filhos pequenos, e aumentar a
capacidade da creche da Empresa. Era uma maneira de promover maior
tranqüilidade às mulheres que trabalham.
Clara
e João Carlos saíram para escolher o berço e ver alguma coisa de última hora.
Provavelmente era a última saída antes do parto.
Tudo resolvido, e Clara
andava tranqüila pelo Shopping, com o
marido ao seu lado. Estava feliz. Que bercinho bonito o do seu bebê! O quarto
ia ficar lindo. Não via a hora dele chegar. Nos últimos meses da gravidez, o tempo
parece não passar e estava sentindo-se muito cansada e indisposta com o peso da
barriga.
Quando saía de uma Livraria,
viu quando uma mulher segurando uma
criança pela mão, veio se aproximando do local onde estavam. Os olhos de Clara
se fixaram no menino.
Sempre gostou de crianças.
Principalmente as que estão aprendendo a caminhar. É difícil deixar de parar
para brincar ou fazer um carinho. Ela sorriu piscando um olho para o menino e
este logo se soltou da mãe e veio na sua direção. Quando o menino se aproximou, ela viu que
aparentava três ou quatro anos e era portadora da síndrome de Down. Clara se abaixou e abraçou, ou melhor
deixou-se abraçar pela criança. Ficou alguns segundos ali recebendo o carinho
daquele pequeno ser, que de uma forma tão amorosa, a acariciava. Quanto amor
naquele olhar infantil! Depois de um
beijo, a criança se afastou com a mãe, mas ainda se voltou alguma vezes para
abanar as pequenas mãosinhas, e acenar para Clara. Depois que ele se afastou, o sorriso
desapareceu do rosto de Clara. João Carlos percebeu a mudança no seu olhar e
sorriu, amorosamente.
- Que bonita missão a dessa mulher! Não é fácil receber um bebê
portador de qualquer deficiência.
- É verdade. Todas as famílias estão preparadas para a
chegada de um filho lindo e sadio. Durante a gravidez fazem planos, sonham
com o bebê forte e saudável, que lhes dará muita alegria e orgulho. No entanto, Deus na sua
Sabedoria lhes envia um ser que necessita passar por determinadas experiências
para continuar sua evolução. E aí? O que fazer? Se os homens compreendessem as
Leis Cósmicas, poderia aceitar todas as situações difíceis sem tanto
sofrimento.
-
Amor, você acredita que ter um filho deficiente é sempre um resgate cármico?
- Não. Algumas vezes, sim,
mas não sempre. Mas com certeza, esta
família está tendo uma grande oportunidade de evoluir e aprender. Sabemos que para receber uma criança assim,
que requer cuidados especiais para viver,
e tanta dedicação, é preciso uma maior disponibilidade de amar.
- Conheço muitos pais
que rejeitam os filhos que apresentam
qualquer deficiência, principalmente, a Down. Alguns nem chegam a perceber essa
rejeição, mas ela fica clara, se observarmos o comportamento de muitos pais que
chegam a esconder os filhos com vergonha das suas limitações. Outros para não
ter que enfrentar a situação, começam a
sair de casa com mais freqüência, chegam
a inventar algo a fazer fora de casa. Para eles é difícil lidar com um filho
que foge ao padrão do bebê perfeito.
Esquecem que é seu filho.
- Você tem razão. Conheço
alguns casos de pais que chegaram a
abandonar o lar. As mães, ficam sozinhas com toda a responsabilidade de cuidar
do filho. Isto sim, é covardia e falta de responsabilidade. Não há dúvida que
as mulheres estão mil anos luz adiante do homem, quanto à capacidade de amar e
se entregar a uma tarefa tão bonita.
- Se essas pessoas
conhecessem as Leis de Carma e Dharma, com certeza, agiriam diferente, e
agradeceriam ao Pai, a possibilidade de dar um salto evolutivo e acelerar a caminhada. Por falta de
conhecimento das Leis, perdem a oportunidade de crescer e aprender muito. Sem
falar que em muitos casos, esse filho pode ter sido uma vítima sua, alguém a
quem podem ter feito muito mal no passado. Se agora, pudessem dedicar-lhe o seu
amor e cuidados, poderiam pagar suas dívidas antigas, que continuarão a existir até ser totalmente
pagas.
- É verdade. O homem tem
direito à Lei do Livre arbítrio. Pode fazer a sua escolha e seguir o caminho
que deseja, mas depois dessa Lei vem a Lei da Responsabilidade
que cobra pelos nossos atos. Causa e
efeito.
-
Mas, e se não for Carma? Se não houver dívida a resgatar?
- Nesse caso, talvez seja o Dharma se manifestando. A mãe ou o pai,
pode ter aceitado essa tarefa como uma missão. Podem ter sido velhos amigos ou, quem sabe até pais desse ser, em outra encarnação. Em
alguns casos, são espíritos evoluídos que,
sabedores das dificuldades que esse ente querido tem que passar nesta
etapa da sua evolução, podem ter pedido a oportunidade de estar junto para
aliviar o seu sofrimento. Que doação de
amor!
Agora se calavam como se
arrumassem as idéias. Clara fixou os olhos no marido e o pegou de surpresa
quando perguntou como seria se o bebê fosse uma criança com alguma deficiência.
Ele sorriu e beijou a mão da mulher.
-
Por quê essa pergunta? Você sabe a resposta.
-
É claro. Você é tão especial que essa pergunta só teria uma resposta.
- Não, pelo contrário creio que
até gostaria. Se pudesse ajudar alguém a enfrentar a sua provação, gostaria.
Mas estarei preparada para essa tarefa?
Isso é sério. Não sei se estou pronta para tal prova de amor. Será que estou
evoluída para levar uma missão desse nível a bom cabo? Se me fosse dada a oportunidade de escolher,
creio que pediria para receber em meu lar uma criança que precise de muito amor
para vencer as suas provas. Ter uma experiência assim, servir, contribuindo com
o Plano divino, seria uma boa forma de agradecer tudo de bom que Deus me
deu. E estar de novo com você! Mas
estarei pronta para servir assim?
- Tenho certeza que está preparada. Vamos entregar a Deus. Ele sabe o
que é melhor para que nossa caminhada se tornar mais frutífera. Seja como for,
estou pronto para receber e amar do mesmo modo, nosso filho, seja ele uma
criança saudável ou carente de cuidados. É o nosso filho de qualquer maneira.
- Que bom que você é assim, tão bondoso. Eu te amo muito.
João Carlos apertou suavemente a mão da mulher. Ela entendeu a
mensagem, Sabia que ele também a amava do mesmo jeito. Com o físico e com o
Espírito.
Antes de adormecer lembrou do
menino que encontrou no Shopping. Do jeito amoroso com que a olhou e beijou.
Passou as mãos pela barriga, enviando uma mensagem para o filhinho. Fazia
sempre isso, desde que soube que estava grávida. Gostava de conversar com o bebê,
contar-lhe coisas. Falou mais uma vez, que era um filho muito querido, que
estava sendo esperado pelos seus pais e por todos da família com muito, muito amor. “Pode vir tranqüilo,
meu querido bebê. Você está sendo aguardado com
muito carinho. Vem, estou te esperando, meu filhinho querido”.
Mudou de posição e olhando o rosto do marido, falou:
-
Amor, você preferia saber o sexo
do neném?
-
Quero o que você quiser. Se você prefere não saber, eu concordo.
- Quero viver a surpresa. Ver a
carinha dele ou dela. Quando chegar a hora, com você do meu lado, vou saber se é menino ou menina. Você não acha
melhor? Vai ser lindo!
O marido a beijou sorrindo. Claro que ele concordava. Só queria vê-la
feliz.
- Durma, querida. Durma com os anjos.
Clara adormeceu nos braços de João Carlos. E, como ele disse, sonhou
com anjos.
Estava num prado enorme onde crianças e pequenos animais brincavam. O
verde ali era mais verde e o céu mais azul. Havia crianças de todas as
idades. Desde bebês até aproximadamente dez a doze anos. Os mais velhos
cuidavam dos pequeninos. Tudo ali era harmonia e felicidade. Clara tentou se
aproximar de um grupo de crianças menores, mas foi impedida por algo que
parecia um campo de energia ao redor do lugar. A alguma distância, uma menina de
mais ou menos dez, onze anos olhava tudo. Parecia ser sua, a responsabilidade
de manter tudo em ordem. Clara a olhava com admiração. Tão calma e segura
enquanto acalmava uns, ajudava outros, estimulava outros a brincar e a cooperar
com os amiguinhos, a compartilhar as brincadeiras e os brinquedos. “ Talvez seja a dirigente do grupo. Que menina bonita.
Que olhar esperto e quanta bondade passa na maneira de
falar. Mas que lugar é esse? ”
Como se lesse seus pensamentos, a menina veio na sua direção. Olhou
para a barriga de Clara e sorriu. Que sorriso!
O sorriso da menina era capaz de iluminar tudo ao redor. Sem qualquer
dúvida, era um Ser de muita
luminosidade. Seus olhos pareciam dois sóis, de tanto brilho. Aproximou-se de Clara, e sem dizer qualquer palavra, tocou sua barriga com as duas mãos. Uma
sensação estranha inundou Clara. Era um misto de paz e
felicidade máxima. Clara olhou para as mãos da menina na sua barriga e viu que
uma luz saía das mãosinhas e a inundava, deixando ver o feto também iluminado. A menina sorria com
olhar travesso. Pegou a mão de Clara, que agora parecia flutuar com tanta
emoção, e a levou para o outro lado, atravessando o campo energético.
Agora Clara estava no que parecia um jardim encantado das
crianças. Podia vê-las de perto e até
tocá-las. A menina ao seu lado, iluminava todo o ambiente. Seus cabelos
dourados chegavam até as costas e os olhos eram de uma pureza difícil de descrever.
Então fez um sinal para que Clara se sentasse, e fez o mesmo. Logo
muitas crianças vieram sentar ao redor delas. Só então Clara pode perceber que
havia ali algumas crianças que pareciam frágeis e até doentes, e outras
mostravam ser portadoras de diferentes deficiências. Algumas eram cegas, outras
surdas, mudas, aleijadas... enfim, nem todas as crianças eram saudáveis, mas
todas pareciam estar felizes. Quando se perguntava que lugar era aquele, ouviu a voz da menina.
-
Aqui, estamos esperando a hora de encarnar. Não eu. Elas!
Clara se encanta com a menina:
Que jeito puro e natural de falar!
Que olhar lindo enquanto fala. Clara estava gostando de estar ali.
- Eu ajudo as crianças a se preparar enquanto esperam a hora. As que
vão nascer num berço bom, não me preocupam, mas e as outras? Sabe como é,
muitas vão enfrentar algumas dificuldades quando chegarem lá, no novo lar.
Muitas mamães e muitos papais não sabem o que fazer quando seus filhinhos
nascem doentes. Nós compreendemos. É mesmo muito difícil cuidar de crianças que
requerem cuidados especiais. Isto dá muito mais trabalho que atender as
necessidades de um menino com saúde perfeita. Mas que fazer, se às vezes os
filhos e outras vezes os pais precisam passar por essas lições? A vida também
tem momentos difíceis, não é? Quando isso acontece as “minhas crianças” sofrem
muito. Sentem-se rejeitadas e intrusas numa família que não as deseja. Isto
está certo? Você acha certo magoar as minhas crianças, só porque elas estão
precisando de um pouquinho mais amor e de compreensão? E nem é por tanto tempo assim! O tempo passa
tão rápido na Terra. Não concorda comigo?
A fala da menina deixa passar um pouco de tristeza, mas muita
compreensão e Clara se emociona. Sorri sem saber o que responder. Nesse
momento, algumas crianças que brincavam
a uma certa distância, vieram sentar perto da menina. Um dos meninos se aproximou mais de Clara e tocou o seu
rosto, e a acariciou. Logo depois, sentou-se no seu colo e aninhou-se. Clara se enterneceu com o carinho e o
aconchegou mais no colo, enquanto fazia-lhe carinhos. A menina sorriu e continuou, docemente:
- Sei que concorda, futura mamãe. Você não magoaria meus meninos
e minhas
meninas. Por isso deixei você passar para este lado do jardim. Vê-se logo que
tem um coração bonito. O seu filhinho vai ser muito feliz no seu lar. Por isso
está esperando ansioso, para ser colocado no seu colo e mamar o seu leitinho.
Você vai dar o seu mamá para ele, não
vai? Claro que vai! Você ama seu filhinho! Sabe que muitas mamães não dão o
mamá só porque não querem perder o tempo
e a beleza? É! Algumas mulheres acham até que vão ficar feias de corpo, se
derem o seu leitinho aos filhinhos. Não acredita no que estou dizendo? Mas é
verdade! Imagine se alimentar um
filhinho pode deixar uma mulher feia!
Não é um absurdo? Diga! Não é um absurdo?
Clara apenas ouvia a menina que falava sem parar e demonstrava tanta
emoção nas suas palavras. Na sua pureza ela não podia conceber que uma mulher
pudesse deixar de alimentar seu filho.
Continuava aninhando o menino que parecia estar gostando de estar ali.
- Até os animaizinhos fêmeas amamentam suas crias. E elas não sabem
pensar. Não entendem de sentimentos. Como então uma mamãe pode fazer isso com
sua criancinha? Não entendo, não posso entender. Você entende?
Naturalmente Clara entendia as razões das mulheres, que optam por não
amamentar. Não concordava, mas respeitava os motivos de cada uma. Lamentava as que sacrificavam seu papel de
mãe por razões tão tolas. E principalmente lamentava pelas crianças, que
perdiam tanto com isso. Essas crianças eram lesadas, tanto na questão da saúde,
como no aspecto do equilíbrio emocional.
Não falava, apenas ouvia o que a menina dizia e sorria. E imaginava
quantas experiências ela teria passado para chegar a esse estado de
evolução. Porque estava claro, que essas
eram palavras de um ser bem evoluído,
ainda que se manifestasse na forma de
uma criança.
Depois de algum tempo, a menina começou a cantar e logo depois era
acompanhada por todas as crianças. Suas vozes ecoavam longe. “Um coro de
anjos”, pensou Clara. Quando pararam de
cantar, ela fez um sinal e cada um foi brincar do seu modo preferido. O menino
no seu colo relutou em sair dali, mas a um sinal da menina levantou-se e saiu
na direção das outras crianças, olhando para trás, onde elas estavam. As
pequenas mãos acenavam para Clara. Ela jogou um beijo e perguntou à menina:
-
Esse menino está aqui há muito tempo?
- Não. Chegou há poucos dias e
já vai embora. Ele já viveu muitas encarnações e aprendeu muito. Está só se
preparando, sabe como? Para fazer a transição... ele vai para outra dimensão...a terceira,
você sabe. Mas ele não nos preocupa, vai
ficar muito bem! Tem uma missão, sabe? Tem um trabalho a fazer com crianças e
jovens. Muito bom!
Enquanto conversavam, caminhavam pelo imenso espaço florido. Andaram por todo o jardim até pararem diante
de uma bela construção.
-
Como é o seu nome?
-
Eu? Você quer saber o meu nome?
Que gentil! É bondade sua se
interessar por mim. Meu nome é Maria. Mas as minhas
crianças e meu Mestre me chamam de Mariazinha. Pode-me chamar assim, se gostar.
Eu gosto mais.
-
Mariazinha. É muito bonito.
Eu também acho! Gosto muito
mesmo.
-
E quem é o seu Mestre?
- Isso não posso lhe dizer. É
segredo. Só Ele pode dizer seu nome. Entende? Não me cabe falar algo assim,
segredo de outro. É por respeito!
Clara estava absolutamente
encantada com o modo dela falar. Tamanha era
a sua pureza e ingenuidade, a sua autenticidade. Um anjo em forma de criança.
A menina ficou alguns momentos em silêncio. Parecia estar em
concentração ou fazendo contato telepático. Depois segurou a mão de Clara e
falou:
- Veja que lugar lindo! Quer
entrar aí? É muito lindo lá dentro.
Dizendo isso, começou a subir os
degraus até a grande porta, Clara segurou firmemente a mão que a menina lhe
estendia e a seguiu. Ao chegarem diante da grande porta, parou.
-
Não quer entrar? - Mas não é certo entrar sem ser convidada. Não fica bem.
- Não! Não é assim. A pessoa se
aproxima mais e se a porta abrir é porque a pessoa pode entrar. Entendeu? A
porta abre sozinha quando a pessoa está
pronta. Quer tentar?
Como Clara podia deixar de fazer o que a menina pedia? Aproximou-se e
mais até tocar a porta.
Imediatamente ela se abriu, como
por encanto.
- Viu como foi fácil? Eu sabia que ia abrir! Pode entrar. Eu vou com
você. Cofie em mim. Vem!
Clara deu mais alguns passos e já se viu num espaço de grande beleza. Um
grande salão com muitas cadeiras formando um meio círculo. E lá adiante, no
centro, uma mesa com outras doze cadeiras que mais pareciam tronos. Tudo muito
bonito e iluminado. Estava num Templo,
com certeza!
-
Não é lindo aqui? Sabia que ia gostar! Mas entrar não é fácil, só poucas
pessoas vêem aqui. Eu entro, porque me comporto muito bem e trabalho com amor.
Gosto de ajudar e ensinar às crianças tudo que
aprendi. Está vendo aquela porta lá em frente? Passar por ela é muito
mais difícil. Só quando somos chamados por Ele. Ali é mesmo um Portal. Difícil
passar! - Ele? Quem é Ele? Seu Mestre?
- Não! O Mestre deste Templo. Aqui é uma Escola
Iniciática. Só os que Ele chama de Discípulos podem atravessar aquela porta.
Ele a chama de Portal. Não é porta.
Portal é mais importante
-
Então, eu não posso passar para o outro lado. – falou sorrindo. - Isso não sei! Experimente. Vamos até lá. Vamos ver.
Clara sabia que não passaria pela porta. Mas o jeitinho da menina...não
podia decepcioná-la. Acompanhou-a até a porta que se mantinha fechada.
Diante da porta, a menina parou.
Sorriu amorosa e falou:
- Agora dê um empurrãozinho.. e
tente abrir. Quem sabe, Ele deixa você entrar? Nunca se sabe.
Clara estava gostando da experiência. A menina, Mariazinha, parecia
desafiar a sua coragem. Chegou mais perto da menina e beijou-a carinhosamente.
- Você é muito querida e especial. Seu coração transborda de bondade.
Não importa que não passe pelo Portal, obrigada por me trazer até aqui. Deus te
abençoe! Se meu bebê for uma menina,
posso chamá-la de Maria?
- Você está querendo me homenagear? É isso? Estou mesmo muito
emocionada. Vou receber homenagem? É muito bom isso. Gosto muito!
Clara abraçou a menina e confirmou.
- Então está combinado, se tiver uma menina vou dar-lhe o seu nome. E
que Deus a abençoe minha filhinha, para
tornar-se uma menina linda e bondosa como você.
- Fico tão feliz! Mas e então! Não fique aí parada. Empurre a porta.
Veja se abre.
-
O que tem do outro lado? Sabe?
- Claro! Eu entro sempre aí. Sou
filha Dele! Por isso sou assim, feliz!
Clara sorriu e empurrou a porta. Esta logo se abriu, de par em par, dando-lhe passagem.
-
Viu? Que maravilha! Eu sabia, eu sabia que você podia abrir.
A alegria da menina era maior que a de Clara. Ela pulava enquanto
falava. Clara deu alguns passos e sentiu que estava dentro de um campo
vibratório diferente. A menina se aproximou dela e segurou suas mãos.
- Agora, é só com você. Vou voltar para as minhas crianças. Não posso
me afastar durante muito tempo. Compreende, não é? Um outro dia nos encontramos. Seja abençoada!
Dizendo isso, se afastou, desaparecendo como por encanto.
Clara estava agora sozinha com ela mesmo. Olhou ao redor e não viu
ninguém. Seu alguns passos mais e
caminhou pelo salão observando melhor. Viu diante dela uma outra porta e quando
se aproximava, viu-se diante de um Ser de barbas e cabelos brancos que a olhava
sorrindo. Sem saber o que falar, Clara fez
o sinal de saudação a um Mestre. Colocou as duas mãos em prece e depois
cruzou-as no peito.
O Mestre sorriu e fez um gesto com a cabeça. A seguir, segurou a mão de
Clara, e levou-a até uma cadeira, convidando-a a sentar-se. Ela sentia que
estava em outro plano ou esfera, A energia era extremamente sutil. Parecia que
ia flutuar. Clara o olhava como se esperasse algo.
- Seja bem vinda! Você atravessou o Portal do tempo. Onde não existe
passado, nem futuro, apenas o eterno presente.. E não se impressione, com a
energia que a cerca. Realmente a energia aqui é sutilíssima. Estamos em outra
dimensão, além do tempo e do espaço. Aqui você pode fazer contato com todas as
suas experiências, ter consciência das vivências de todas as suas encarnações
no decorrer da Vida. Sei que já tomou ciência de algumas experiências
que viveu no passado. Mas ainda que tenha
viajado ao passado através de técnicas terapêuticas ou da meditação,
isso não se compara ao que pode conhecer
a partir daqui.
- Senhor, não pensei em entrar...
- Não se preocupe. Sabíamos que
viria. Você foi convidada, através de Maria.
Você já aprendeu bastante e está preparada para conhecer aspectos da sua
caminhada. Isto pode se tornar mais um recurso para sua evolução. O
auto-conhecimento só é completo quando se toma consciência das aprendizagens
acumuladas no decorrer do tempo. Quando
ultrapassa as barreiras do tempo.
Lembre-se que a cada encarnação, a pessoa vai
adquirindo determinadas aprendizagens e conhecimentos. O somatório de
todas lições aprendidas nas várias encarnações promovem o conhecimento de si
mesma e das Leis que regem o Universo. O conceito do Tempo não é fácil de ser
compreendido. Imagine uma linha do tempo. Não linear, mas formando círculos
como se fosse um grande espiral. Agora
veja em que em vários pontos dessa linha em espiral, estão acontecendo
situações, que fazem parte de suas
encarnações. Cada ponto, uma encarnação. Todas ao mesmo tempo mas em pontos
diferentes da espiral. Fácil, não? Agora veja:
Quando disse estas palavras, o Mestre levantou uma mão. Acendeu-se uma
luz e uma tela surgiu diante de Clara. Estava tudo ali. Era ela e ao mesmo
tempo, era como se fosse outros eus dela, em outras situações. Em tempo e
lugares diferentes. Ela estava se vendo e ao mesmo tempo, passando pelas
experiências. Tudo diante dela. Pode rever
cenas de experiências que já havia acessado nas regressões e em
Meditação. Via tudo com uma maior riqueza de detalhes. Viu o passado mais distante e mais próximo.
As cenas com João Carlos, os momentos de perda, seu trabalho como Sacerdotisa,
como curadora, como médica na China...Viu seus pais em outra vida, apaixonados,
casados e rejeitando a idéia de ter filhos. Queriam viver apenas um, para o
outro. Achavam que uma criança tiraria o tempo que era apenas deles. Viu quando
a mãe se submeteu a vários abortos. E o fim deles, velhos, sozinhos e
arrependidos da escolha que fizeram. De repente passaram diante dela cenas
desconhecidas, acontecimentos que ainda
não foram vivenciados. Via o seu futuro.
Emocionada, pode ver a sua família. Seu lar, seu marido e seus filhos. E o seu trabalho. Um trabalho de serviço ao
próximo. Realizando algo que havia sonhado fazer, mas que via apenas como um
sonho que julgava difícil de realizar. Mas podia ser feito. Agora via como
fazer. Ela viu-se fazendo no futuro. Viu
momentos de alegria e de tristeza. O Tempo não tinha mais segredos para
ela. E quanta coisa a fazer!
- E então, Filha? Compreendeu?
Essa voz ela conhecia bem. Voltou-se para o lado e viu o seu Mestre. O seu amado Irmão estava
ali, olhando-a com aquele jeito tão amoroso.
Aproximou-se dele, fazendo a
saudação de sempre e beijou suas mãos.
- Compreendeu Filha querida, o que esperamos de você? A missão que está
à sua espera? Viu-se no amanhã, fazendo. Realizando seu plano para esta
encarnação. Tem alguma dúvida a respeito do que fazer, e dos recursos que
necessita para realizar a tarefa que a
aguarda, a sua missão? Lembre-se que Estamos sempre aqui, à sua disposição.
Sabe como fazer para entrar em contato. Temos certeza que terá sucesso no seu
empreendimento. Seu amado companheiro estará ao
seu lado, participando de todo o processo, com amor e o apoio que
necessitar. Sabemos que aceitará esta tarefa como mais um serviço espiritual.
Afinal também é. Podemos dizer que estarão recomeçando um trabalho que foi
iniciado em outro tempo. Reconstruindo algo que se perdeu e que agora terá
continuidade. Você pode ver como será feito, porque teve acesso ao Registro
Akáshico. Alguma dúvida?
- Não, Mestre. Está claro. Vi como realizaremos a tarefa. Não tenho palavras
para agradecer a oportunidade de servir dessa maneira tão especial. Mas quando
acordar, lembrarei do que fazer com clareza? Ou tudo estará no inconsciente?
- Lembrará do que for
necessário. As lembranças virão na forma de intuição, no tempo certo. Por agora deve preocupar-se apenas com o filho que está
chegando. Você viu a família que terá... trabalho não há de faltar-lhe.
Agora vá. Que o Pai Supremo a abençoe!
continua...
MCCA
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