sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Atravessando o Portal do Tempo XIX

XIX     “Ninguém se machuca ao fazer a coisa certa” 
                                              (provérbio havaiano)


Em vinte minutos  João Carlos já tocava a campainha.

Quem  lhe abriu a porta foi uma mulher bonita, de cabelos molhados, descalça e vestida de branco. O sorriso em meio às lágrimas que rolavam, era o mais bonito que ele já vira. Era uma mulher renovada pela esperança.

- Querida! O que aconteceu, porque está chorando assim? Está me deixando aflito. Fale por favor!
-  Eu.. .eu queria saber se é preciso ficarmos velhinhos....sabe?

Não sabia como dizer o que sentia. Nunca dissera “aquelas palavras”.

João pegou-a pela mão e levou-a até a poltrona. Ela continuava chorando.
- Querida...o que  está dizendo?
- Que te amo! Te amo muito...Não quero esperar ficar velhinha.

-  Querida.. Finalmente! Pensei que precisaria esperar o resto da vida

Porque demorou tanto para aceitar que o amor está acima do medo, do tempo...O Amor é mais forte que até mesmo a  morte. E o nosso é um sentimento que vai sobreviver a qualquer circunstância, seja ela o que for.

Por que demorou tanto a ver que somos mais fortes que tudo?
- João,  tinha tanto medo de não dar certo e sofrer se te perdesse...
- Te amo tanto...Desde a primeira vez que te vi, naquele dia que vim  aqui com Lúcia, lembra? Meu coração disse que você é a mulher que eu estava esperando. Que eu sabia que haveria de encontrar. Reencontrar!

-  Querido, eu lutei tanto  para não te amar.... Mas é mais forte que a minha vontade. Não posso evitar esse sentimento
- Conte-me como decidiu parar de lutar contra nós...


Entre beijos, ficaram horas falando dos medos de Clara, dos sentimentos reprimidos, e dos sonhos e regressões.

- Não quero mais perder as pessoas que amo. Te adoro e quero passar o resto da vida com você, assim nos teus braços.  Depois....entrego a Deus.

-  Amor, o que nos une, transcende o tempo e o espaço. Você viu na busca ao passado. Eu também vi você em várias  regressões que fiz.... e mesmo em meditação, em regressões espontâneas. Quando te  vi, logo reconheci a mulher que sempre amei, que perdi no tempo. Esperei  ansioso pelo momento em que você descobriria que não é possível  lutar contra o nosso destino.

- Tenho certeza que vamos ficar juntos até a velhice, até o fim. Jura que me ama, assim como te amo? Jura?

Clara acordou e olhou para o lado.   João estava acordado e a olhava. Agora não havia dúvidas ou medos.
– Adoro seus olhos... teu seu jeito de me olhar! Te amo muito!

Haviam passado a noite, melhor dizendo, a madrugada, juntos.

Clara sentia o calor do corpo de João aquecendo o dela  e continuava aninhada nos seus braços.  - - Também te adoro! Tem dívidas disso, minha Sacerdotisa querida?
- Está na hora...temos que trabalhar.

-  Você não quer desmarcar os pacientes? Vamos sair, ficar juntos, caminhar na praia...quero ficar com você! Já esperei demais.

Ficaram na cama até tarde. Depois saíram como se fossem crianças que acabaram de ganhar o presente mais esperado. Na verdade era o que sentiam, que haviam ganho o presente mais valioso, - o futuro.

A felicidade de Clara e João Carlos era total.

Precisavam contar à família e aos amigos.

O Amor deles era perceptível a todos que os viam. Ficavam juntos todo o tempo possível, e telefonavam a todo instante.   Queriam recuperar o tempo perdido!

Todos estavam muito felizes e torciam pela felicidade dos dois.

Marta disse que sabia desde o primeiro momento em que os viu juntos, que aquele era um caso de Amor que transcendia o tempo.

Lúcia estava radiante. Tinha muito carinho pela amiga e não entendia porque ela  recusava todos as propostas que recebia, parecendo fugir de qualquer envolvimento afetivo. Agora estava claro. Esperava João!


Clara estava nos braços dele. Gostava de ficar assim, conversando enquanto se acariciavam. Era a imagem da felicidade. Ele a olhava com amor, quase adoração.

- Vamos passar a  lua de mel em Londres? Queria que conhecesse aquele Castelo onde me vi  lutando ao lado de Artur, lembra? Contei-lhe!

- Claro! Quero que me mostre tudo que é importante para você. Principalmente onde serviu o “seu Rei”.   Com você vou a qualquer lugar.

- Você  vai conhecer o meu  Rei e meu Mestre. O Amado El Morya, a quem tenho a honra de continuar servindo.

- Fale-me   mais de El Morya. Conte-me tudo que sabe sobre ele.

João Carlos olhou para clara e depois desviou o olhar. Parecia estar olhando para algum lugar onde podia ver a imagem do seu Rei. Depois falou sobre o  Mestre do Raio azul, seu templo etérico e o trabalho que vem realizando para ajudar a humanidade e o Planeta.



Adormeceu nos braços do  amor.

Acordou assustada e olhou para o lado. Graças a Deus foi só um sonho. Ele estava ali, ao seu lado.

As imagens estavam ainda na sua mente consciente.

Pareciam estar sobre nuvens brancas em meio ao céu muito azul. As roupas eram de cor bege ou cor de palha.  Ele soltava as suas mãos e a deixava,  afastava-se dela, como se deslizasse ou flutuasse para longe, muito longe....Ainda ouvia a  voz dele dizendo “Nosso Amor sobreviverá ao tempo e à distância! Eu vou agora, mas dentro de pouco tempo você  também reencarnará. Logo nos reencontraremos. Está escrito nas Estrelas! “Te amo, sempre te amarei! Logo estaremos juntos para sempre!”


- Amor! Amor, acorda! Quero te contar o que vi em sonho.

“Logo estaremos juntos para sempre”. Estava escrito nas estrelas. Eles se reencontraram. E agora  estavam unidos com mais conhecimento e força, nada os havia de  separar.

O tempo era pouco para se amar. E não viam a hora do casamento. Logo começaram os preparativos. Para que esperar? Conheciam-se há tempo suficiente, mais que suficiente, claro que ia dar certo.

Resolveram morar algum tempo no apartamento de João Carlos. Depois pensariam numa casa, como sonhavam. Clara estava dando seu toque na decoração, apenas algumas pequenas mudanças, para se tornar mais aconchegante. Estavam felizes, muito felizes.

À medida que os dias passavam,  o amor deles parecia crescer.

Finalmente chegou o dia do casamento. Clara estava vivendo momentos que jamais pensara poder viver. O medo a impedira de sonhar com a felicidade. Agora tudo é muito novo e surpreendente. Lindo!

A  viagem de lua de mel superou todas as expectativas, passaram vários dias percorrendo alguns países da  Europa e depois ficaram duas semanas passeando por Londres, Irlanda e Escócia como queriam.. Juntos, eles viveram  experiências de encantamento e magia.


Quando voltaram ao Brasil e a vida voltou à rotina, procuravam  ficar a  maior parte do tempo possível juntos.

João Carlos ficava o mínimo tempo fora e quando chegava em casa, corria para a mulher. Era sempre assim, quando terminava de fazer o que  precisava ser feito, voltava imediatamente para casa. Sentia saudade quando estava longe dela.

- Amor, morri de saudade !A hora não  passa quando estou longe.


Clara continuava trabalhando na clínica e no consultório mas não fazia mais plantões. Queria  ficar o máximo de tempo com o marido. Às  vezes recebiam a família ou amigos mais íntimos, mas em geral, gostavam de ficar sozinhos, ouvindo música, lendo ou meditando. E se amando!

Depois do jantar, como sempre, colocaram uma música suave e  sentaram no grande sofá  para ler. Continuavam de dedicando ao estudo e à  Espiritualidade.

Ela procurava colocar em prática os ensinamentos que recebia do Mestre. Discutiam as dúvidas e aprendiam mais.

Trocavam experiências e muitas vezes faziam viagens astrais juntos. Descobriam ou redescobriam espaços e esferas que ainda não haviam tomado consciência. Aí, tinham oportunidade de encontrar velhos amigos e  aprender mais. As experiências que podiam ser compartilhadas, eles trocavam com o grupo, como forma de maior aprendizagem

Clara estava feliz, muito feliz. Luminosa!  Nem sombra daquela Clara de antes. 

Num belo sábado de sol, acordou diferente. Nesse dia ela sentia-se estranhamente feliz. Não sabia o porque desse sentimento.  Era apenas uma sensação, uma emoção. Não havia acontecido nada de especial, mas sentia-se dona do mundo.

Pegou na estante  um livro que o marido lhe dera no  dia anterior e leu:



“Um dia um aluno do sábio Professor Maruf Karkhi tornou-se muito famoso porque sabia responder todas as  perguntas. Mesmo na presença de Maruf, todo mundo se dirigia ao aluno e ficava estupefato com tanto conhecimento. Era capaz de dissertar sobre qualquer assunto., dar todas as provas e conclusões deixando as pessoas sem nenhuma dúvida e completamente esclarecidas.

Um forasteiro que havia conversado com  o aluno ficou tão impressionado que disse a Maruf Karkhi:

- Que sorte a sua Ter um discípulo tão brilhante.  É raro encontrar alguém com tanta capacidade. O que acha disso
Maruf  respondeu:

- Isso me preocupa porque ele lê demais e portanto não tempo se saber. Gasta o tempo todo em leitura, quando terá condições de  saber?

Aquele aluno acumulou informações, tornou-se culto, era um aluno, não era um discípulo.  O professor tem alunos, o mestre tem discípulos. O aluno quer ter mais, o discípulo quer ser mais. Aluno e discípulo nunca se encontram porque vão em direções diferentes.

Só se ensina o que se pode  ensinar, algumas coisas não podem se ensinadas,   têm que ser vividas, sentidas, compreendidas.

Quando você diz  “Deus”, você    repete uma palavra vazia, sem significado.  Você pode aprender tudo sobre Deus e tornar-se  doutor em teologia, cheio de teorias.  Isso o professor lhe ensina.  Mas Deus não é só uma  palavra, é uma experiência  a ser vivida: a verdade não se  consegue dizer, tudo que se diz não é verdadeiro.

O aluno procura, o discípulo já encontrou; tem confiança no seu mestre, e dessa confiança ele renasce para a percepção, pois é capaz de entregar-se. O aluno não se entrega, tem necessidade de ser convencido.

O professor é coerente, o mestre é inacreditável porque contém todos os opostos dentro de si. Se você usar a sua cabeça, encontrará seu professor, se usar o coração encontrará o Mestre, porque você precisa apaixonar-se pelo seu MESTRE ”.



Levou as mãos ao peito e sentiu como a energia fluía pelo cardíaco. Hoje especialmente, o amor parecia inundá-la. Era muito feliz!

Pensou no seu  Mestre, o Irmão. Tão generoso!  Como o  amava! Quanto tinha para  lhe agradecer! Com ele aprendeu a alimentar-se e respirar corretamente, o valor da generosidade e da tolerância. E a  cuidar-se mais. A importância de sempre avaliar o estado dos chacras e a fazer uso das cores para limpá-los e desbloqueá-los. Fazer da meditação um hábito para desenvolver a intuição.

Com a prática dos ensinamentos, conseguia manter-se  equilibrada e até ensinar os pacientes a se cuidar melhor e economizar a energia.

Foi o Mestre quem a iniciou no caminho que a levou a encontrar a felicidade e  a realização, tanto  na matéria como no espírito. com ele aprendeu a ser. e com certeza, ele a levou até o Amor.

Lembrou-se das palavras que lhe dissera no último encontrou em corpo astral:

“Quando lê, o homem adquire conhecimentos. Isto pode encontrar em livros e enciclopédias: conhecimentos, apenas conhecimentos. Para encontrar a sabedoria, o caminho a percorrer é outro, é o caminho do coração!”

Pensa no seu aspecto Curador, o Visionário, o Guerreiro e o Mestre. Nunca é demais refletir e meditar a respeito. Buscar um maior equilíbrio entre as diferentes características de cada uma dessas partes em si mesma.

Quando João Carlos chegou do escritório, encontrou Clara deitada. Estava abatida e extremamente pálida. Sentiu-se mal no consultório.

- Talvez seja uma gripe que está chegando. Senti-me fraca, cansada e com  a pressão baixa. Não é nada sério. Amanhã vou estar bem. 

Voltou a pensar na mulher que a procurou pedindo ajuda para a mãe que está com câncer. A senhora mostrava resignação diante da doença.

Resolveu comentar com o marido sobre o caso. Costumava falar com ele sobre os casos  mais sérios. Ele era sempre muito paciente e  generoso.     
- Querido! Atendi uma pessoa que me deixou impressionada.  Uma senhora acompanhando a mãe que contraiu  câncer  e não está reagindo ao tratamento. Diz  que todas as mulheres da família morrem de câncer e que não há nada que se possa fazer a esse respeito. Imagine o sofrimento da filha, coitada! E da família.

- Está explicado porque está assim abatida. Imagino que está pensando numa maneira de ajudar independentemente do lado profissional. Estou certo?  Quer ajudar todo mundo!

- Pensei em fazer irradiação de energia de cura para ela. Trouxe seu nome. Mas não sinto disposição para isso. Estou desenergisada, cansada...

- Não Clara, nem pense nisso. Se está consciente  que não está em boas condições energéticas, não pode fazer isso.  Não basta querer ajudar, nem ter boa intenção. Esse é um trabalho que requer boas condições físicas,  energéticas, estado de serenidade... para doar energia ao próximo é preciso  estar bem fisicamente e psicologicamente.
- Então você faz? Ela precisa tanto.

Todas as noites à mesma hora, eles paravam o que estivessem fazendo e iam para uma pequena sala da casa para fazer meditação e depois irradiação de energia de cura para os homens e para o Planeta. As pessoas do grupo faziam o mesmo. Era a orientação que receberam do Mentor da casa. 

Na sala reservada para o trabalho espiritual, Clara sentou em frente à parede onde haviam colocado  um triângulo de ametistas com uma estrela de citrinas amarelas, dentro. Fez os exercícios que seu Mestre lhe ensinara e sentiu-se melhor. A energia voltou a fluir e logo estava mais disposta. 

Gostava de fazer meditação olhando para a mandala. Fechou os olhos para  falar mentalmente com o seu Mestre. Pediu-lhe  que ajudasse os que sofrem e iluminasse todos os médicos para que vejam os seus pacientes como irmãos que merecem seu amor.. 

Quando terminaram a meditação, voltaram a falar sobre a senhora. João Carlos  tivera  intuição de que ela precisava de  uma Terapeuta

- Podemos pedir a Marta que a atenda. Ela fará isso com prazer. Me parece que a doença dela está  relacionada com algum fator psicológico, qualquer coisa assim. Que acha da idéia?
- Tem lógica. Já havia pensado nisso. Vamos falar com sua irmã.



Clara acordou indisposta.  Fraca e enjoada. Estaria ainda sem energia? Ou talvez doente...

Lembrou-se do sonho que tivera durante a noite. Foi um sonho muito colorido e com muita luz. Estava numa festa com João.  O Mestre e muitos outros amigos de Esferas Superiores estavam lá. Parecia uma confraternização ou algo parecido. E todos estavam muito alegres como se alguma coisa especial estivesse prestes a acontecer.  Ela era tratada com carinho especial. Estava tão contente, feliz! Quando acordou, trouxe a sensação de festa.

Mas e esse mal estar? Estranho! Estaria ainda desenergisada?

Precisava trabalhar. Os pacientes a esperavam. Resolveu não contar ao marido como se sentia. Ele lhe  pediria que não fosse.

Na  clínica voltou a ficar indisposta, sentiu-se mal, fraca. Resolveu falar com a colega que atendia na sala a lado.
- Deve ser a pressão que está baixa.

Estava mesmo. Descansou um pouco e voltou a atender.

Havia combinado de pegar  Marta, que estava sem carro. Não queria deixá-la esperando. Depois poderiam fazer um lanche antes de ir para casa. Depois do casamento, as duas se tornaram amigas inseparáveis
- Nossa! Como você está abatida. O que está sentindo?

-  Não sei o que está havendo. Não comentei com João para não assustá-lo, mas na última semana venho me sentindo tão mal, fraca.. .nunca  fico doente...mas não estou legal, minha amiga.

Clara olhou  a cunhada e desviou o olhar para o lado esquerdo do seu abdomem. Sorriu de modo enigmático.

- Clara! Minha querida, isto não me parece  uma doença.  Você não quer fazer um exame de urina? Menina você está grávida! Vou ser tia!
-  Não, não pode ser. Será?

E se fosse? João ia ficar tão feliz! Ele adora crianças. E ela também.
- Nem acredito! Mas pode ser... Claro! Como não pensei nisso?
- Marta, se for gravidez? Nem sei...
-Vamos lá, cunhada. Temos que  saber isso de uma vez.



Quando João Carlos chegou em casa, havia flores por toda parte.

- Quantas flores! Comprou toda a floricultura? Adoro nossa casa assim linda. Linda como você.

Clara mal conseguia esconder o que sentia. Queria pular nos braços do marido e contar a novidade.

-  Amor, tenho um presente para você sobre a cama! Veja se gosta.  É uma surpresa
  João foi para o quarto e depois de alguns minutos, voltava com a caixa na mão. Da poltrona Clara olhava o marido abrir o presente. E viu seu rosto se modificar quando viu a roupinha de bebê que ela comprou. Os dois estavam emocionados. Ele foi até a poltrona e ajoelhou-se diante dela.

 - Minha querida mulherzinha! Minha Sacerdotisa amada!

 Os olhos dela encheram-se de lágrimas ao ver a alegria que  o marido querido mostrava. O abraço que os uniu selava o seu amor
 Clara agradecia a Deus e aos amigos do Plano Espiritual por tanta felicidade. A felicidade deles era agora abençoada com um filho. Como estava  feliz! Isto só podia ser uma dádiva de Deus e do seu Mestre.

Esta noite no trabalho de meditação, nada foi pedido. De mãos dadas fizeram a Invocação e depois, só havia a agradecer. Lembrou do sonho e contou a João Carlos.

- Querida!. A festa era para você. Para o nosso filho. Para nós. Você é muito querida no lado de lá, nossos amigos estão felizes por nós.

Os dias que se seguiram foram de cuidados e planos.

Clara estava muito enjoada e precisou ficar em casa uns dias.



Quando o trabalho do grupo terminou Marta sentou-se ao lado de  Clara para conversar sobre a paciente que está sofrendo de câncer, que ela pedira que atendesse.

Lúcia e João Carlos, ao lado, ouviam a conversa.

- Esse é  um  exemplo claro de um sistema de crenças negativo. Veja o que alguns valores podem fazer com uma pessoa..

- Mas onde está a relação do sistema de valores com a doença dessa senhora? – perguntou João

- Veja você mesmo: quando perguntei porque se negava a fazer o tratamento, ela me respondeu que todas as mulheres da família morrem de câncer e isto se repete há muitas gerações. Que ela não podia mudar isso. É como se, aceitando o tratamento e uma possível cura, estivesse cometendo uma  traição com as mulheres da família, que morreram com a mesma doença. Compreende a seriedade da situação?
-  E o que pode ser feito nessa situação? – perguntou Clara

-  Perguntei-lhe se podia imaginar-se curada,  livre da doença, e ela respondeu que se via sem receber qualquer atenção. Ficou claro que a doença tem um ganho secundário. Com certeza teme perder o afeto e atenção que recebe por estar doente. Acredita que se estiver bem, não vai ser amada, ou não terão  paciência com ela, como deseja.

- Isto é muito sério.- ponderou Clara, - tenho alguns pacientes que quando vão às consultas acompanhados, gemem o tempo todo, valorizando até um pequeno mal estar. Principalmente os mais idosos que querem chamar atenção para si.

-  Desta maneira, Clara, é preciso rever suas crenças, os valores e princípios. Ela está alimentando a própria doença e se alimenta dela para suprir suas necessidades. Isto faz com que se agarre a ela, tornou-se um círculo vicioso.
- Que situação! Marta, é possível ajudá-la?

- Olha, ela  construiu um sistema de crenças que está minando a sua força e as defesas  do próprio organismo. Precisa de médico e terapia.
- Por isto se diz que não há doenças, há doentes.

- Já marquei o início da sessões de  psicoterapia, vamos ver como reage.
- Que ótimo! Não custa tentar mudar seu modo de ver a vida.
- Esse é o primeiro passo, depois veremos o que é possível fazer.



O almoço foi em casa de Marta. Todos queriam comemorar. A alegria era geral, afinal só faltava um filho para a felicidade do casal estar completa.

À noite, Clara sentou-se para ler o livro que pegara com Marta. Queria saber mais sobre o sistema de crenças. Nunca havia pensado nisso mas agora depois da conversa que tiveram, percebeu que precisava conhecer  mais esse assunto. Quantos pacientes não estariam no mesmo caso?

A abordagem é  muito interessante e mostra que as crenças são a base da estrutura do indivíduo. Cita outros livros e autores que dão ênfase à necessidade de mudanças,  diz que qualquer mudança do homem, passa pela  mudança do sistema de crenças e valores. À medida que vai lendo, ela comenta com o marido, que participa de seu interesse pelo assunto.

Foram  descobrindo, juntos, o quanto somos fruto das crenças.

O caráter da pessoa é formado a partir desse sistema de crenças ou valores. É assim que a  Identidade e personalidade são  construídas.

A maioria das pessoas desenvolve um sistema de crenças a partir das experiências vividas principalmente na infância e na adolescência. Se nessa fase de desenvolvimento da personalidade,  aprender que algo é  certo ou errado, isto passa a ser verdade, está estabelecida a crença. E com certeza, vai levar pela vida a fora esse conceito.

Mudar um sistema de crenças é trabalhoso. Implica primeiro em uma  tomada de  consciência, e depois sim, pode vir a vontade ou  necessidade de mudanças. Mudanças não só no mundo  externo,  mas principalmente nas questões internas e até a  nível psíquico.

Conhecer o seu sistema de crenças é se conhecer. Saber como pensa e sente,  a sua maneira de elaborar o pensamento, e perceber a sensação física que acompanha cada emoção. E como reage a essa emoção.

Aceitar que, o que ainda ontem acreditava ser  certo, hoje pode ser visto como errado ou algo negativo, até pernicioso. Isto é a quebra de padrões e conceitos. A possibilidade e o  direito a fazer escolhas, e mudar de opinião. Repetir ou não, um padrão de comportamento que vem sendo repetido, mesmo sem perceber, através do tempo.

Romper o padrão de comportamentos é difícil, mas é possível e quase sempre necessário para seguir adiante rumo ao próprio destino. Como continuar carregando valores que já não servem mais, que já estão ultrapassados, que não são do indivíduo, mas sim do pai, da mãe, da família?  Vale a pena insistir, levar para diante, ou é hora de romper definitivamente esse padrão que está trazendo dor, limitações, sofrimentos?

- João! Que diz disso? Parece-me Ter tanta  lógica!

- É bem interessante.... Identificar a necessidade ou mesmo o desejo de mudar, é o primeiro passo.  Mas, e  depois, Clara? Será que as pessoas têm  respostas para as  perguntas que surgem?
- Como assim?

- Muitas perguntas vão surgir. É de se esperar.

- Sempre surgem,  quando pensamos em mudar. É natural...o medo do novo. Acredita que é fácil responder a perguntas tais como:

“Posso  escolher   mudar algo que não gosto? O que me aborrece? Basta-me sentir o vento das mudanças de que tanto se fala, para desejar mudar? Estou motivado para mudar o que quero mudar? Tenho coragem para mudar? E se depois houver arrependimento, posso voltar a se a mesma pessoa?

- Com certeza, as respostas vão surgir. Sempre surgem quando fazemos  perguntas. E isso é que é mais importante. Sabemos que transições  podem gerar medo, ansiedade e até conflitos. Enquanto uma parte nossa diz que mudar é preciso, outra parte pode perguntar “e se não der certo? Uma parte diz que você pode, outra diz que você ainda não está preparado para mudanças...talvez mais tarde! A nossa própria experiência diz que é assim. Veja o que o autor diz:

Uma vez você fez algo que não deu certo. Fez mais uma e outra tentativas...., você sabe quantas vezes tentou....mas continuou dando errado. Insistiu acreditando que acabaria dando certo. Será que  percebeu que repetiu um mesmo comportamento, exatamente do mesmo jeito, inúmeras vezes, apesar de ver que o resultado obtido não  era o desejado?

E agora? Continuamos repetindo o mesmo padrão inadequado,  apesar dos resultados negativos? Acreditando que somos incapazes de fazer as coisas dar certo? Quando vamos despertar e ver que fazendo as coisas sempre do mesmo jeito, vamos obter sempre os mesmos resultados?

  O nosso cérebro não sabe a diferença entre uma imagem lembrada e outra criada, imaginada. Ele acredita no que vê como sendo verdade. Ao modificar uma crença, a pessoa muda o modo de ver a vida, muda a sua verdade.  Quanto mais o cérebro recebe imagens positivas de alguma coisa feita corretamente, mais ele aprende a fazer bem.

Criamos expectativas que algo aconteça, seja em nível positivo ou negativo. Acreditamos que pode ser bom ou mau.

É assim que ocorre com a questão da doença, dos medicamentos e do placebo. A reação do nosso organismo a uma doença ou a um  medicamento também está relacionada com a “fé” nesse remédio. Por isso o placebo atua aliviando a dor. É uma imitação, finge-se que é remédio e o paciente acredita. Se acredita, é verdade.   Acreditando no efeito positivo do “medicamento” muitas vezes ele cura a doença. Isto mostra o poder da sugestão no ser humano.

É necessário que a pessoa esteja motivada a ser curada. Poder ver-se curada, para mudar o seu estado de frágil e dependente porque está doente,  para o estado de  uma pessoa saudável. Falamos de mudar e qualquer mudança requer motivação. Aquele impulso que vem do interior.

Seja uma doença, um novo amor, um novo emprego, um filho que nasce... é preciso uma motivação interna ou um grande estímulo externo para acelerar o desejo de mudanças. Muitas vezes precisa acontecer algo forte, uma crise qualquer para nos levar adiante. Sabemos que a crise significa oportunidade de mudar  e melhorar. Mas merecemos isso?

Muitas vezes acreditamos não ser merecedores de nada bom, nem mesmo de receber qualquer ajuda.  Essa crença  torna impossível qualquer sucesso.

- Talvez se todos conhecessem o Tratado de Merecimento pudessem acreditar que pode ser diferente. Veja que poder têm estas palavras:



“Sou merecedor. Mereço tudo que é bom.

Não uma parte, nem um pouquinho, mas tudo que é bom.

Agora me afasto de todos os pensamentos negativos e restritivos.

Liberto e deixo ir as limitações dos meus pais. Eu os amo e vou além deles. Não sou suas opiniões negativas, nem suas crenças cerceadoras.

Não sou contido por nenhum dos medos ou preconceitos da sociedade em que vivo.

Não me identifico mais com limitação nenhuma.

Em minha mente, sou livre.

Agora me transporto para um novo espaço de consciência onde estou disposto a me ver de maneira diferente.

Estou decidido a criar novos pensamentos sobre mim mesmo e minha vida.

Meu novo modo de  pensar torna-se um nova experiência.

Eu agora sei e afirmo que sou Uno com o Poder de Prosperidade do Universo.

Assim, prospero de inúmeras maneiras.

Está diante d e mim a totalidade das possibilidades.

Mereço Vida, uma boa Vida.

Mereço Amor, uma abundância de Amor.

Mereço viver com conforto e prosperar.

Mereço boa saúde.

Mereço alegria e felicidade.

Mereço a liberdade de ser tudo o que posso Ser.

Mereço mais que isso, mereço tudo o que é bom.

O Universo está mais do que disposto a manifestar minhas novas crenças.

Aceito essa vida com alegria, prazer e gratidão, pois sou merecedor.

Eu a aceito, sei que é verdadeira!”



Clara pensa nas muitas pessoas que conhece  que seriam beneficiadas se pudessem  conhecer esta mensagem.- Abençoadas palavras que trazem em si tanto poder de renovação. Tantas pessoas que passam o dias, semanas, meses e anos,  reclamando da vida. Sem perceber o que fazem da sua vida. Não sabem que podem mudar. Como ela mesma não sabia que podia mudar. Agradece mentalmente a ajuda que recebeu do Alto e das pessoas que participaram do seu processo d mudança. Abençoa o momento em que se descobriu e conheceu. A partir daí tudo mudou!

Lembra de quantos não sabem onde querem chegar, e por isso mesmo, não chegam a lugar nenhum. Outros querem mas não sabem que querem e outros ainda não sabem como fazer se chegar onde querem chegar. Essa é uma questão muito importante para refletir. “Quem sou eu, se for desse jeito que quero Ser?

Decide copiar o Tratado de Merecimento e divulgá-lo. Muitos podem ser mais felizes se souberem que merecem todas as maravilhas que  Deus colocou à sua disposição com tanto Amor. O Pai ofereceu tudo a  todos os filhos,  não a este ou aquele. A diferença  está na crença de cada um. Quem acredita que merece, vai lá e assume a sua parte, recebe o que lhe pertence.

“O Universo conspira a meu favor”

Pensar nessas palavras e acreditar nelas, pode fazer a diferença que faz diferença.

Uma maneira de enfrentar a causa da limitação é verbalizar alto a crença cerceadora.  Dizer, por exemplo, conforme o caso:
- Tudo para mim, é difíci
- Não consigo nada do que quero!
- Todas as vezes que como pizza, fico doente!
- Quando encontro fulano, passo mal!

Quando ouve a própria voz, repetindo isto, a pessoa se assusta e percebe o que vem fazendo consigo mesma. São muitas e muitas as crenças limitadoras! Cada um que se sente incapacitado para enfrentar os obstáculos, e cada vítima da vida tem uma ou várias. Não negamos que em alguns casos, pode ser verdade.  Mas é sempre verdade?

Clara pensa nas palavras que ouviu de Lúcia, quando tempo atrás, falava do limites que acreditava ter.

“Você é o que pensa! Cuidado com o que você fala, isso pode tornar-se verdade! Veja bem o que pede, pode realizar-se!

Comenta sobre isso com o marido. Ele aceitou e comentou:

-  Muitas pessoas se queixam  porque as coisas são difíceis. Talvez a explicação dessas dificuldades esteja dentro delas mesmas... conheço algumas que têm dentro de si, um tremendo terrorista, um sabotador  sempre pronto a trabalhar para o fracasso dos empreendimentos. Quem criou esses sabotadores? A sua própria crença de ser incapaz de fazer o algo bom, que dê certo, de ser feliz...

- Que assunto interessante! Estou lembrando de uma aula de expressão corporal e postura que tive há alguns anos  atrás. O  instrutor ensinando a necessidade de andar com o corpo ereto, sentar corretamente, mudar o ritmo da respiração...As palavras dele ainda estão bem vivas: “É impossível alguém continuar sentindo-se deprimido ou zangado se colocar as duas mãos entrelaçadas na nuca e respirar num ritmo tranqüilo, olhando para cima.

- É verdade, pensa Clara. Não dá para deprimir, porque o deprimido olha para baixo, nunca para o céu.

Clara pensa numa paciente, Julia,  com depressão constante. Sempre insatisfeita, ela já criou o hábito de reclamar porque as coisas são difíceis para ela. Realmente a sua vida não tem sido fácil.

Comenta o caso com o marido e pergunta-lhe se sabe alguma maneira de ajudá-la. A jovem tem aproximadamente vinte anos, e culpa a sua realidade de vida,  como causa das dificuldades e  de não conseguir crescer profissionalmente.

João Carlos, atenciosamente pergunta-lhe  detalhes sobre a paciente e sua personalidade. Quer saber como se comporta quando tem que enfrentar as dificuldades, se isso a adoece ou desequilibra emocionalmente.

- Realmente, ela demonstra não saber lidar com a frustração, parece até que de alguma maneira sente alívio quando  pode justificar o insucesso profissional, responsabilizando as dificuldades da infância.

- Foi o que  pensei. Conheço muitas pessoas que apresentam esse comportamento. Sentem-se vítimas da Sociedade, da Vida, do Governo. Mas ficam parados, estagnados porque não sabem que podem transcender as próprias limitações. Não vêm saída. Algum tempo atrás, participei de uma dinâmica na Empresa, que abordou essa questão. O Grupo levou uma mensagem para distribuir, que foi uma bomba na cabeça de algumas pessoas.. Vou pegar para você ler. Vai gostar. Ouça:



“Há vários anos, fui convidado para ouvir uma importante palestra que seria endereçada ao corpo estudantil de uma pequena Faculdade na Carolina do Sul. O auditório estava repleto de estudantes excitados com a possibilidade de ouvir uma palestrante daquele quilate. Depois que o Governador fez a apresentação, ela se dirigiu ao microfone, percorreu a platéia com o olhar, e começou:

- Minha mãe era surda-muda. Não sei quem foi meu pai.  O primeiro emprego que consegui foi numa plantação de algodão.

A platéia estava fascinada.

- Nada tem que continuar da maneira que está. Se a pessoa não quiser que seja assim - continuou. – Não é uma questão de sorte e não são as circunstâncias do nascimento de alguém que determinam o seu futuro. Nada tem que continuar da maneira que está se a pessoa não quiser que seja assim. – repetiu devagar.- Tudo que tem a fazer – acrescentou com voz firme - para mudar uma situação que esteja trazendo infelicidade ou insatisfação é responder à pergunta: “como é que eu quero que seja?” Então deve dedicar todo o seu esforço para atingir esse ideal.

Em seguida, deu um lindo sorriso e disse: Meu nome é Azie Taylor Morton. Estou aqui hoje, diante de vocês, como Secretária do Tesouro dos Estados Unidos da América.”


- Nada tem que continuar da maneira que está, se a pessoa não quiser que seja assim. Que mensagem! ! É linda e profunda. E que mulher  forte!
- Compreende Clara, o quero dizer?
- Naturalmente, e concordo com você. Mas se pudesse fazer alguma coisa por ela...Quem sabe, ela dá uma virada na vida e muda o destino?
- Quer tentar?
- Realmente essa moça  não demonstra muita força de vontade, mas isto pode estar associado à sua infância, com tantas dificuldades e sem qualquer oportunidade. Gostaria tanto de poder ajudá-la! Sinto que é  uma  pessoa boa e sensível, mas quando   olha ao redor,   vê apenas obstáculos... E  como não desenvolveu auto-estima, naturalmente não acredita em qualquer possibilidade de vitória mudar qualquer coisa na sua vida.
  - Acredita que se alguém investisse nela e lhe desse uma oportunidade, poderia mudar isso? Talvez resgatar a autoconfiança e se descobrir
- Acredito. Ela me parece inteligente e ambiciosa. Quer crescer, mostrar que é capaz, só precisa de uma ajuda. Sei que ela tem potencial.  Se pudesse ajudar essa criatura, ficaria muito contente!

-Vamos confiar na sua intuição. Essa moça terá a oportunidade que precisa.  Depois é com ela. Vou conversar com a Lúcia para dar uma atenção especial ao caso. Ela será preparada para desenvolver suas potencialidades; respeitando, é claro,  suas características. Não deixaremos de dar as mãos a quem está pedindo ajuda. Satisfeita?         
Clara sorriu para o  marido e seus olhos falavam o que ela não tinha palavras para dizer. Como o amava! Por mais que vivesse não teria tempo suficiente para agradecer a Deus por tanta felicidade. Como pode perder tempo, fugindo desse homem tão bondoso,  amoroso, tão especial? E agora com a chegada próxima do bebê, a felicidade estava completa. Qualquer um podia ver a harmonia que reinava naquele lar.

           

 continua...
MCCA


Nenhum comentário: