Expandindo nossos horizontes:
O mito grego de Dédalo e Ícaro ilustra o caminho em busca da
realidade. É típico de todos os seres humanos o uso das asas da
imaginação. No entanto, quando se voa muito alto e se ultrapassa os
limites do bom senso, se cai com facilidade na frustração ou no
desencanto de viver.
A princípio, Ícaro achou ousado o plano
de Dédalo, seu pai, genial escultor-arquiteto. Mas depois, a seu lado,
começou a procurar um meio de construir as asas que os salvariam do
Labirinto de Cnossos. Primeiro, reuniram penas de aves e as
selecionaram de acordo com o tamanho. Em seguida, amarraram-nas com fios
de linho e as fixaram firmemente com cera, umas às outras. Antes de
partirem, Dédalo recomenda ao filho muito cuidado.
Pede que
ele voe em altitude mediana, para não molhar as asas no oceano nem
derretê-las ao contato com os raios solares. No entanto, Ícaro,
encantado com as nuvens, os céus, os pássaros e o firmamento majestoso,
perde completamente a noção do perigo.
Voa demasiadamente alto, e
o calor do sol lhe queima as asas, dissolvendo a cera que unia as
penas. Assim, ele é lançado nos abismos dos mares.
O pai, que
ia à frente, mostrando o caminho e aproveitando o vento favorável,
quando olha para trás não encontra mais o filho. Vê apenas duas asas
brancas ao léu, flutuando na imensidão azul das águas.
Não compare as faculdades alheias com seus talentos ou predisposições inatas.
A raiz de suas decepções é a necessidade absurda de como você e os
outros deveriam ser, e de como deveriam tratá-lo. Leve em consideração
seu mundo interior e se livre dessas falsas necessidades. Sua essência
espiritual lhe fornece tudo o que precisa para cumprir a missão que lhe
foi destinada.
Somos cegos e surdos acima ou abaixo de
certos padrões vibracionais delimitados pela natureza humana, assim como
temos os olhos e os ouvidos fechados para determinados fenômenos que
ocorrem nas dimensões invisíveis, por não sermos dotados de aptidões
específicas para detectá-los.
As pessoas costumam colocar
suas expectativas num nível excessivo de aspiração, propondo em seus
projetos de vida um anseio desproporcional ou superiora suas
habilidades.
Muitas das metas que estabelecemos baseiam-se em necessidades equivocadas e, por isso, jamais se concretizarão.
Ícaro é o protótipo das pessoas que ultrapassam os níveis de
possibilidade interior. Não aceitam a própria fragilidade de seu
potencial e cedem ao ditador interno, que as constrange a agir acima de
suas possibilidades. Esse déspota interior representa uma auto-imagem
falsa, construída sobre qualidades que você ainda não possui.
Muitas vezes, as asas de cera não são percebidas logo e de forma clara;
porém, quando notadas tardiamente, com certeza já se haviam instalados
os sentimentos de fracasso, frustração e vergonha.
Essas
necessidades criadas artificialmente se revestem de uma aparente
sensação de glória ou triunfo, nascidas só para compensar a vaidade e o
orgulho, mas nunca conseguem atender ao verdadeiro coroamento da vida
interior. Quanto mais a pessoa se exaltar com falsas qualidades e
prerrogativas, mais se sentirá inferiorizada e rebaixada com seus
feitos improcedentes e obras injustificáveis.
O vôo de Ícaro
resulta em uma busca de enganosas realizaçÕes. Ao vencer as alturas,
ele presumiu que tinha consolidado sua idealização efêmera, mas foi
surpreendido pelos raios solares, que desmancharam a cera da ilusão.
Como estavam ainda adormecidas suas reais potencialidades latentes,
perdeu a sensatez e o equilíbrio, destroçando a si mesmo. Voou alto
demais.
O sentido dessa história mística é claríssimo: o sol -
estrela provedora da vida na matéria - representa as leis da natureza
obedecendo à Divina Providência. Esse “astro-rei” (lei natural) guia os
homens em sua marcha evolutiva e corrige suas incoerências; por isso,
queima-lhes as asas idealizadas, conclamando-os os ao equilíbrio e ao
bom senso, e utilizando, sempre que preciso, da decepção ou da
desilusão.
O homem só se liberta através do próprio trabalho
interior. Nenhuma tarefa é maior ou melhor que outra. Somente aquele que
descobriu o seu dever na Terra é que pode ser libertado da cruz da
causa e efeito, à qual a ignorância de si mesmo o pregou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário