sábado, 3 de novembro de 2012

Sono sem sonhos

Todas as noites, quando entramos na fase sem sonhos do sono profundo, fazemos uma viagem à região do Não Manifesto. É nesse momento que cada um de nós forma uma só unidade com a Fonte. É da Fonte que retiramos a energia vital que nos sustenta quando retornamos ao manifesto, o mundo das formas separadas. Essa energia é muito mais importante do que o alimento: "Nem só de pão vive o homem." Mas não se chega ao sono sem sonhos de um modo consciente. Embora o corpo ainda esteja funcionando, "nós" já não existimos mais nesse estado. Você consegue imaginar o que seria penetrar no sono sem sonhos completamente consciente? E impossível imaginar, porque nesse estado não há conteúdo. O Não Manifesto não nos liberta, a menos que sejamos capazes de chegar a ele de modo consciente. Essa é a razão pela qual Jesus não disse que a verdade nos libertará e sim que "conheceremos a verdade, e a verdade nos libertará". Não se trata de um simples conceito de verdade. É a verdade da vida eterna além da forma, que só se conhece de um modo direto. Mas não tente ficar consciente no sono sem sonhos. E altamente improvável que você consiga. Na melhor das hipóteses, você pode permanecer consciente durante a fase do sonho, mas não além dela. É o chamado sonho lúcido, que pode ser interessante e fascinante, mas que não é libertador. Portanto, use seu corpo interior como um portal de entrada para o Não Manifesto e mantenha-o aberto, de modo que você esteja em conexão com a Fonte em todas as situações. Não faz diferença, até onde interessa ao corpo interior, se o seu corpo exterior é velho ou novo, frágil ou rijo. O corpo interior não tem um tempo. Se você ainda não é capaz de sentir o corpo interior, use um dos outros portais, embora, em última análise, todos sejam a mesma coisa. O Agora pode ser considerado como o portal principal. É um aspecto essencial de cada um dos outros portais, inclusive do corpo interior. Não podemos estar em nosso corpo sem que estejamos intensamente presentes no Agora. O tempo e o manifesto estão indissoluvelmente ligados, do mesmo modo como o eterno Agora e o Não Manifesto. Quando dissolvemos o tempo psicológico através de uma percepção intensa do momento presente, nos tornamos, direta ou indiretamente, conscientes do Não Manifesto. Diretamente, sentimos o Não Manifesto como o esplendor e o poder da nossa presença consciente, ou seja, sem conteúdo, apenas a presença. Indiretamente, temos consciência do Não Manifesto dentro e através do campo dos sentidos. Em outras palavras, sentimos a essência de Deus em cada criatura, cada flor, cada pedra e concluímos que “Tudo o que é, é sagrado”. Essa é a razão pela qual Jesus, falando sobre a sua essência ou a identidade de Cristo, diz nas palavras de Tomé: “Rachem um pedaço de madeira; lá estou eu. Levantem uma pedra e me encontrarão ali”. Um outro portal para o Não Manifesto é a paralisação do pensamento. Isso pode começar de um modo muito simples, ao prestar atenção à própria respiração ou olhar concentradamente para uma flor, em um estado de alerta total, de tal modo que não haja espaço para nenhum comentário mental ao mesmo tempo. Existem muitas maneiras para criar um espaço no fluxo contínuo de pensamentos. É disso que trata a meditação. O pensamento pertence ao campo do manifesto. A atividade mental contínua nos mantém aprisionados no mundo da forma e funciona como uma tela opaca que impede de nos tornarmos conscientes do Não Manifesto, conscientes da inexistência da forma e da eterna essência de Deus, tanto em nós mesmos como em todas as coisas e criaturas. Quando estamos intensamente presentes, é claro que não precisamos nos preocupar com a paralisação do pensamento, porque a mente para automaticamente. Essa é a razão pela qual eu disse que o Agora é um aspecto essencial de todos os outros portais. A entrega, ou seja, o abandono de qualquer resistência mental e emocional ao que é, também é um portal para o Não Manifesto. A razão disso é simples, já que a resistência interior nos isola das outras pessoas, de nós mesmos e do mundo à nossa volta, fortalecendo a sensação de separação da qual o ego depende para sobreviver. Quanto maior a sensação de separação, maior a nossa dependência ao manifesto, ao mundo das formas separadas. E, quanto maior a ligação com o mundo das formas, mais dura e impenetrável será a nossa identidade com a forma. O portal é fechado e somos afastados da dimensão interior, a dimensão do profundo. No estado de entrega, a nossa identificação com a forma se dissolve e se reveste de uma espécie de “transparência” e, assim, o Não Manifesto consegue brilhar através de nós. Depende de nós abrirmos um portal em nossas vidas que nos conduza a um acesso consciente ao Não Manifesto. Entre em contato com o campo de energia do seu corpo interior, esteja intensamente presente, deixe de se identificar com a sua mente, entregue-se àquilo que é. Podemos usar todos esses portais, mas só precisamos de um deles. Assim que um desses portais é aberto, o amor se apresenta para nós como uma “realização da sensação” de unidade. O Amor não é um portal. Ele é o que vem através do portal até este mundo. Enquanto estivermos completamente envolvidos pela nossa identidade com a forma, o amor não pode existir. Nossa tarefa não é buscar o amor, mas sim encontrar um portal através do qual ele possa entrar." Eckhart Tolle em O Poder do Agora

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