O essencial é invisível para os
olhos”.
Saint-Exupéry
Acordou bem cedo e com fome. Tomou um suco de frutas e comeu algumas
torradas com geléia. Vestiu uma calça bem confortável e uma camisa amarela com
um grande sol estampado num tom mais forte, quase laranja. Colocou os tênis e saiu carregando uma pequena
mochila às costas.
Começou a ficar ansiosa. E se
ele estiver lá?
- Seja o que Deus quiser. Será o que for melhor para mim.
Lembrou-se das palavras da avó. “Não tenha medo, filhinha, Deus mandou
um anjinho só para cuidar de você, só
vai acontecer o que for melhor para minha menina”. Escutou essas palavras
durante toda a infância. Foi ela que lhe ensinou tudo sobre Deus. Sua presença
carinhosa amenizou a falta da mãe.
Sua mãe morreu quando ela nasceu.
Tinha problemas de saúde e não suportou
o esforço do parto. Cresceu ouvindo a avó contar que o coração da sua mãezinha não agüentou de tanta
felicidade, quando a pegou
no colo pela primeira vez.
Amor do pai, não recebeu. Ainda
bem pequena percebeu que ele a culpava
pela morte da mulher que amava. Tornou-se amargo e distante não só da menina,
mas de todos. Passou a beber e dormir
fora de casa. Algum tempo depois conheceu
uma mulher e não demorou muito, mudou-se
com ela, para sua cidade, deixando-a com a avó. Apareceu duas ou três vezes no seu
aniversário e depois parece que a esqueceu.
No início ainda sentiu a sua
falta. Lembrava dos poucos momentos em
que ele a tratara de um modo carinhoso e
olhando seus olhos dizia que ela
era bonita como sua mãe. Gostava de
recordar esses poucos instantes em que sentia que pai a amava. Agora, já
adulta, tentava compreender suas razões.
Da mãe, apenas algumas fotos que mostram a imagem de uma mulher bonita com um sorriso muito doce.
Diante da avó, procurava
esconder a tristeza que sentia
pela falta dos pais.. Ela se dedicou
tanto, era tão amorosa... Por isso sempre fingia ser muito feliz, fingia uma alegria que não era real.
- Não gosto de pensar nisso!
Passa as mãos no rosto como se
quisesse afastar as lembranças A avó foi a única pessoa significativa na sua
vida, até há dois anos atrás quando
também a deixou. Ainda agora, sente falta do seu colo, de chegar em casa e
encontrá-la esperando por ela, da sua voz reclamando que não estava se
alimentando bem .... como ficou vazia a sua vida.
Seu coração começou a bater mais forte.
Tão distraída com seus
pensamentos, nem percebeu que chegou ao destino.
Parou o carro no mesmo lugar, junto a tantos outros que está acostumada
a ver estacionados ali mesmo. Seguiu
pelo mesmo caminho que já se acostumou a percorrer. Caminha devagar
tentando disfarçar a ansiedade. Será
ansiedade mesmo ou curiosidade? Logo,
logo vai saber se ele está lá, à espera dela.
- Clara, pelo amor de Deus, acalme-se. Calma! Repete a si mesma várias vezes enquanto se
aproxima da clareira onde o encontrou na semana anterior.
Mas o coração não obedece e continua num ritmo acelerado.
- Imagina se fosse a um encontro
amoroso, como seria? Que é isso, menina? – continuava repetindo tentando
acalmar-se.
Finalmente estava chegando...já podia ver a araucária e o tronco que
lhe servia de banco. Mas não havia
ninguém......
-
Talvez seja cedo... ainda não chegou!
Continuou caminhando por
ali mesmo, não queria se afastar
muito. - Se ele vier mesmo, vou estar
por perto, mas não posso deixar que
ele pense que
vim para encontrá-lo. Realmente ele
parece saber muitas coisas interessantes, mas sei lá! É, isso mesmo. Nem conheço essa criatura... Bem, se vier,
vou perguntar-lhe alguma coisa
sobre minha vida, só para saber se tem mesmo
algum poder desses que dizem
ocultos...
Assim
estava a cabeça de Clara. Completamente
confusa, sem saber direito o que querer.
O
tempo passou, os minutos pareciam horas e nada, ninguém apareceu.
- Onde andará esse velho? Ora, teria esquecido de mim?
Um misto de tristeza e decepção foi tomando conta dela. Uma sensação muito
desagradável.
Foi ficando cansada de esperar e
resolveu andar mais , ir até mais adiante.
- Vou seguir pela trilha que
leva até a gruta. Quem sabe o encontro pelo caminho?
Caminhou um bom tempo e nem sinal do velho e nem da
gruta.
Resolveu voltar dali mesmo.
- Também não vou procurá-lo! Pode parecer que estou muito interessada e
isso nem é verdade. Melhor ir para casa.
Quero aproveitar o domingo para dar uma organizada nos livros e nas
gavetas.
Voltou chateada. Na verdade,
mesmo não querendo admitir, gostaria de ter encontrar o velho.
- Que pena, foi tão bom conversar com ele. Pensei que tinha encontrado
um novo amigo. E ele me olhou de um jeito tão carinhoso.... Por que não
apareceu? E se tiver adoecido? Bem, no próximo domingo vou saber o que
aconteceu. Ele deve ir.
Logo que chegou ligou para
Lúcia. Precisava lhe contar o que
ele não apareceu. Com certeza ela estava preocupada. O telefone tocou várias vezes mas ninguém
atendeu. Provavelmente estava na reunião
com os amigos. Tentou ouras vezes, nada.
Precisava falar com ela. Estava tão decepcionada... Sorte ter programado
arrumar seus papéis, assim se distraiu e
o tempo passou sem perceber.
Já era noite e ainda não
encontrara amiga. Por volta das sete horas resolveu parar o que estava
fazendo e tomar um banho. Precisava
descansar.
Mal terminou de se arrumar, a campainha tocou. Era Lúcia que chegava
acompanhada de um homem.
-
Desculpe vir sem avisar. - foi
falando a amiga enquanto entrava.
- Este é João Carlos, um amigo. Saímos para almoçar, ficamos
conversando e quando dei conta já era tarde. Mas queria muito que o conhecesse.
Sorriu com seu jeito maroto e continuou:
- Vai gostar dele. Nos
conhecemos há algum tempo.... desde que passei a freqüentar o grupo.
Clara estava um tanto sem graça. Queria estar com a amiga, mas sozinha,
para conversar sobre o assunto que a incomodava. Além disso, não gostava de receber pessoas
que não conhecia. Ainda mais a essa hora
da noite! Tentando parecer gentil, sorriu para o amigo de Lúcia e com um gesto
convidou-o a sentar no sofá diante dele. Beijou carinhosamente a amiga enquanto
sussurrava nos seus ouvidos que “ele” não apareceu.
-
Por favor fiquem à vontade....
O rapaz parecia ser bem simpático.
Aparentava ter trinta e cinco, no máximo quarenta anos. Clara percebeu seu olhar discreto enquanto
sentava.
- É muito agradável a sua casa. Tem muito bom
gosto.
Em resposta, recebeu apenas
um sorriso de Clara.
- E o mais importante. Sente-se
aqui uma energia boa.... – disse com um
sorriso afetuoso, como se fossem
velhos amigos.
Clara não falou nada, apenas
sorriu. O rapaz tinha um olhar franco,
direto, e os olhos....bem os olhos eram de
mistura de cor de mel com um tom de verde bem longe. Clara não sabia se estava mais impressionada
com a cor dos olhos ou com o modo de olhar, assim, tão direto, como se nunca tivesse nada a temer.
- Bem, falou meio sem jeito, não
entendo muito desses assuntos de energia.... Agora há pouco tempo é que comecei
a ler algumas coisas. Não é, Lúcia? – olhou para amiga como se lhe pedisse
ajuda para manter a conversa.
- Realmente, como lhe disse
enquanto vinha-mos para cá, a Clara está dando agora os primeiros passos nos
assuntos do misticismo.
Emprestei-lhe alguns livros e
revistas, mas faz pouco tempo. Ainda não está acostumada com alguns termos usados por nós. Mas é questão de tempo.
Falava sorrindo, enquanto olhava
carinhosamente a amiga.
- Parece que são muito amigas...Dá para sentir uma energia de harmonia
fluindo entre vocês. É muito bom
perceber esse tipo de sentimento entre
as pessoas. Infelizmente hoje em dia
vemos mais competição do que amizade e esta energia de ternura e
cumplicidade que passa entre vocês.
-
Nós somo amigas há muito tempo...disse Clara.
- Desde o segundo grau,
completou Lúcia. E nunca mais nos
separamos. Cada uma seguiu sua vida, fez a sua Faculdade, mas sempre nos falando, nos encontrando em algum lugar...
Clara sorria enquanto ouvia a
amiga. Lembrava do tempo em que eram jovens e sonhavam ainda com o príncipe encantado.
- Bem, ficamos um tempinho
afastadas quando comecei a trabalhar. Era duro trabalhar de dia e fazer
plantão à noite. Quando tinha um tempinho livre era para descansar, nem pensar
em sair.
-
Clara sempre levou tudo muito a sério. Chega a exagerar.
- Não concordo. Não mesmo. Acho
que sou responsável na medida certa.. É
obrigação de qualquer profissional levar o trabalho que faz a sério. Principalmente os profissionais da saúde.
- Concordo plenamente com você.. -
falou João Carlos, sorrindo. Infelizmente muitas pessoas se relacionam
com o trabalho como se fosse um peso e não uma oportunidade de crescimento,
como é na realidade.
A conversa foi se tornando mais agradável e fluindo por vários
assuntos. Dentro de algum tempo Clara
estava relaxada, rindo e demonstrando
satisfação com as visitas.
- Clara, trouxe alguns biscoitos, torradas e geléia. Imaginei que
você faria questão de nos convidar para lanchar...
- Já sei.... pensou que não tinha nada de gostoso nesta casa. Acertei?
Todos riram mostrando se sentir muito bem com o encontro.
- Foi uma ótima idéia! Não tinha mesmo nada especial para receber
vocês. Tenho peito de frango, presunto e manteiga, serve? – falou rindo.
- Foi o que imaginei. Por isso já passei pela padaria antes de vir.
Você sabe... faz muito tempo que parei
de comer carne. Claro que você não tem que se preocupar com isso, tem seus
próprios hábitos alimentares. Ah! Trouxe também um chá delicioso. Vocês vão
gostar.
Quando a anfitriã se levantou do
sofá em frente à amiga, Lúcia riu e
disse:
- Não, por favor, deixe-me
preparar tudo. Fiquem aqui
conversando, vou para a cozinha preparar
o chá. Ou preferem refrigerante?
-
Chá está ótimo, respondeu o amigo.
-
Para mim também, falou sorrindo Clara.
- Vocês são muito amigas....nota-se o carinho
que existe entre vocês.
- É verdade. Lúcia é uma pessoa
muito generosa, muito leal. Merece
toda a confiança. É um
privilégio poder contar com a sua amizade. Em momentos muito difíceis, sua
presença foi como um bálsamo. Nos
últimos tempos, principalmente, ela tem demonstrado tanta maturidade...tem
sempre a palavra certa, na hora certa. Em algumas ocasiões, é preciso ouvir
alguém que não esteja diretamente envolvido na situação, que possa pensar com
isenção de emoção....e Lúcia está sempre por perto. É a pessoa em que mais confio, desde que
perdi minha avó.
João Carlos dirige o olhar para as fotos sobre o aparador que está numa
das paredes e pergunta:
-
Aquela senhora das fotos?
- É, respondeu enquanto seu sorriso se apagava e o seu semblante
ficava pesado.
- Parece que lembrar da sua avó
deixa você triste. É lamentável que lembrar de alguém querido que partiu faça você mostrar tanta tristeza. Tenho certeza
que ela não gostaria que isso
acontecesse. Todos temos algumas perdas pela vida a fora. Dessa realidade
ninguém escapa, infelizmente. Mas gosto
de lembrar de quem partiu com carinho, sem dor. É como uma homenagem a meus
entes queridos que já foram. Pense bem:
se as fotos dela trazem dor, não seria melhor guardá-las.? Tenho certeza que
você teve momentos muito agradáveis, alguns mesmo, maravilhosos, com
sua avó. Lembra-se de algum
desses instantes?
- Ah! Lembro de quando ia me pegar na escola. Adorava vê-la na porta me
esperando.
- Veja!. Fica tão mais bonita quando sorri! Deveria sorrir mais, tem um
sorriso encantador. É assim que deve
ser. Quando lembrar de uma pessoa
querida, que por qualquer motivo não
está mais presente, sorria. Lembre dela com prazer. Guarde a imagem de sua avó
querida no coração. Além disso, o amor
cria um vínculo que não se desfaz com o tempo. Quem sabe um dia se reencontram?
Olhou bem nos olhos de Clara e
continuou:
- Quer saber o que faço com as fotos das pessoas que já foram? Guardo-as numa gaveta, numa caixa...num lugar
legal onde possa pegá-las quando quiser, quando sentir
vontade, quando desejar lembrar. É
diferente de vê-las a todo momento que passo pela sala. Veja você: Pense naqueles dias que está cansada,
triste....ao ver as fotos, a tristeza aumenta.
Estou certo?
- É verdade....responde Clara enquanto parece refletir sobre as
palavras do novo amigo.
-
Então! Sua avó não gostaria que
ficasse triste ao lembrar dela.
Ficaram em silêncio até a chegada de
Lúcia com a bandeja do chá. Chegou sorrindo, como sempre.
- Parece que a conversa estava
bem interessante, sobre o que conversavam?
- O seu amigo me falava que não devo ficar olhando as fotos da vovó a
toda hora. Que deveria guardá-las.
- Claro! Ele está certíssimo. Quantas vezes já falei a mesma coisa?
O amor e a saudade que tem por ela deve
ficar guardadinhos no coração. De nada adianta ficar olhando as fotos a toda
hora e se alimentando de dor, de tristeza, de saudade. Se eu fosse você ouvia o
conselho do meu amigo. Olha! Ele sabe das coisas. Mas vamos ou não vamos tomar o chá? Está
esfriando.
-
Talvez vocês tenham razão. Vou pensar a respeito.
-
Então vamos ao chá? Está exalando um aroma delicioso.
- Gostei que tivessem vindo. Pena que chegaram tão
tarde....
- Havia pensado em almoçar com
você, amiga! Mas a reunião de hoje terminou um pouco mais tarde, e não deu. O
assunto que estamos estudando é tão
envolvente... e não sei praticamente
nada sobre ele. Até já ouvi falar a respeito, mas apenas superficialmente. Já o
João...Bem, ele sabe bem, tem muita experiência, e aí, você sabe como
sou...colei nele para tirar minhas dúvidas.
- Convidei sua amiga para almoçar enquanto falávamos e quando vimos já
era quase noite. – terminou João Carlos.
-
E sobre o que falavam, posso saber?
Lúcia olhou
interrogativamente para o amigo, sem nada responder.
- João Carlos olhou fixamente
para Clara e durante alguns segundos nada respondeu. Parecia distante. Talvez pensando na resposta a dar.
-
Naturalmente. – Falou
finalmente. – Sobre o Tarô!
-
Tarô? Como assim?
- Exatamente. O Tarô é um dos
instrumentos mais eficazes para o
auto-conhecimento. Assim como a Astrologia e tantos outros. Nosso objetivo é adquirir o máximo de conhecimentos
para acelerar a evolução resgatar o
Saber oculto e esquecido no tempo. O
Tarô é um ótimo caminho para isso.
Estamos iniciando o estudo pelos Arcanos Maiores, que são apenas vinte e dois.
Mais tarde veremos os Menores, que são outra etapa do aprendizado. É um assunto
muito interessante mas bastante
complexo. Requer muito estudo
para ser bem compreendido.
- Pensei que o Tarô fosse aquele baralho de cartas que algumas pessoas
usam para fazer previsão dos acontecimentos futuros, as cartomantes.
Lúcia e João Carlos sorriram enquanto a olhavam carinhosamente.
-
Absolutamente. - Respondeu o novo amigo de Clara.
-
Muitas pessoas leigas no assunto confundem o Tarô com o jogo de cartas, mas um
nada tem a ver com o outro. As cartomantes em geral, usam baralhos comuns para
fazer as suas previsões. Já o Tarô,
são cartas, ou melhor dizendo,
lâminas com figuras que têm significados específicos.
- E
como descobriram isso? De onde surgiu esse conhecimento? Pode dizer ou é algum ensinamento secreto?
Agora quem a olha é a amiga
Lúcia. Clara fica sem jeito com esse olhar. E fica se perguntando se teria
feito alguma pergunta indiscreta.
- Sinta-se à vontade, caso não
queira ou possa responder. Sei que
muitas informações são restritas aos estudantes. Lúcia se esquiva a responder a algumas
perguntas que lhe faço, alegando isso. Não é assim, Lúcia?
- Não, não se preocupe. Fique
certa que responderei a todas as perguntas que possam ser respondidas, com o
maior prazer. Afinal se pergunta é
porque quer saber. E isso é ótimo. Se você, que é uma pessoa séria, se
interessa por estes assuntos, vou responder-lhe sempre que for possível. Caso
contrário, peço que me desculpe.
Tomou mais um pouco do saboroso chá e sorrindo continuou.
- Conta a Tradição, os
Sacerdotes antigos, que diga-se de passagem,
detinham todo o Saber acumulado através dos tempos, ao prever a queda das civilizações,
resolveram ocultar todos os seus conhecimentos sob a forma de um baralho de
cartas. Usaram essa estratégia para salvaguardar os mistérios
ocultos. Desenharam figuras e símbolos que aparentemente nada significavam, mas
representavam muitos conhecimentos
Parou por um momento, observando a fisionomia das amigas que prestavam
atenção ao que ele dizia e continuou:
- Eles acreditaram que os homens, habituados a encontrar no
jogo uma fonte de prazer, haveriam de preservar o baralho de cartas.
Estavam certos. Assim, ele foi passando
de mãos em mãos, através do tempo, por muitos lugares, até chegar à Europa, de
onde se propagou o conhecimento do Tarô. Para que tenham uma idéia, posso
dizer-lhes que alguns livros e baralhos de Tarô remontam ao século XV. De outra maneira. Não teriam chegado até nós.
As duas mulheres ouviam o relato com olhar de surpresa e interesse.
Estavam impressionadas com o que ouviam.
Pensavam na dificuldade que o homem sempre teve que enfrentar para
conseguir vencer os limites que lhe eram impostos pelos que detinham o Poder.
Sabe-se que muitas obras de
ocultismo foram queimadas para evitar que os conhecimentos se propagassem. Durante séculos, as autoridades religiosas
mandaram destruir os livros sagrados, para
impedir que a humanidade tivesse acesso ao Saber e ficasse presa aos
grilhões da ignorância. Não fosse pelas
cartas do Tarô, os Mistérios ocultos teriam se perdido no tempo.
-
Posso fazer mais uma pergunta? Só mais uma, juro!
O rapaz sorriu diante do pedido de Clara. Com o olhar fez sinal para
que perguntasse.
-
E Arcanos, o que significam?
- É um termo que significa Mistérios ou Segredos. Seu conhecimento desencadeia, por uma série de associações de idéias, alcançar
o verdadeiro significado de toda a Tradição esotérica. Os Arcanos falam
das verdades da alma, da Força vital, do
Saber Universal, das Leis Divinas, dos acontecimentos cósmicos... enfim,
conhecer o Tarô, é conhecer a história do Homem
e do Universo.
- Bem, não é por acaso que se invertermos a posição das letras,
Tarô, vira Rota, caminho. – completa Lúcia
- O caminho da Tradição
Sagrada, complementou João Carlos.
Agora é Lúcia quem prossegue
comentando:
- É um assunto muito bonito se
estudado profundamente. Infelizmente,
algumas pessoas usam o Tarô, apenas para fazer previsões ou adivinhações, como dizem.
- Mas o Tarô também se presta para essa finalidade, não é João? –
perguntou Clara.
- Com certeza! É um excelente
instrumento nas mãos de alguns Tarólogos, outros, porém, “jogam” para
satisfazer a própria curiosidade e de quem os procura. Os
verdadeiros estudiosos, “lêem” o Tarô.
Estes poucos já sabem que o Tarô é um livro que contém sabedoria antiga.
Como vê, pode tanto servir de instrumento
divinatório como ser mais um
caminho de auto-conhecimento.
- Nossa, como é lindo! - Clara estava encantada com o que ouvia. Nunca
podia pensar que esses assuntos esotéricos fossem tão envolventes. Sempre pensei que fossem chatos e cansativos,
mas que nada....Estou impressionada, juro que estou!
- Mas Clara, quantas vezes
disse que é muito bonito?
- Desculpe, Lúcia, você tem razão. Mas agora vejo que perdi a
oportunidade de aprender muitas coisas
bem interessantes.
- Sabe o que é? – falou olhando diretamente para João Carlos – Pensei
que se tratava de reuniões espíritas, e isso me assusta um pouco.
- Compreendo. A falta de conhecimentos faz com que algumas questões
fundamentais para a evolução do homem, ganhem uma má reputação. Mas nunca é tarde para descobrir que estamos errados. O problema é que a rigidez de pensamentos
impede as pessoas de aceitar o óbvio.
- Mas sempre é tempo de
recomeçar por outro caminho.
Felizmente temos escolhas. É só querer.
Você pode a qualquer momento recuperar o tempo perdido.
- Clara, comentei com João que
você se interessou em conhecer o nosso grupo.
-
É mesmo? E aí, o que você acha,
João? É possível?
João olhou as duas e
respondeu com um jeito muito sério:
- Aconselho você a refletir um pouco mais a respeito Uma decisão desse tipo precisa ser bem
pensada. Se ainda não têm total
convicção de que é isso que quer, talvez seja melhor aguardar mais um pouco
antes de propor a sua entrada no grupo. O caminho esotérico é muito sério e de
grande aprendizado, pode levar você a
querer mudar toda a sua vida. É melhor ir devagar, pensar bem, desse modo,
não corre o risco de começar e mais
adiante, já em plena caminhada, chegar à
conclusão que não quer continuar.
Algumas pessoas até fazem isso. Mas
uma vez lançada a semente, esta
nunca mais pode ser recolhida. Ao se
afastar do caminho da busca, essas pessoas ficam com uma desagradável sensação
de haver perdido algo importante.
João Carlos falava, olhando
fixamente a fisionomia de Clara. Fez silêncio como se quisesse
avaliar o efeito de suas palavras sobre ela. Depois continuou, dessa vez
se dirigindo às duas:
- Já está tarde, mas se desejar, podemos conversar mais sobre o
assunto. Que tal marcar um novo encontro? Talvez no próximo sábado, aqui mesmo ou na casa de
Lúcia, como acharem melhor. Falaremos mais sobre o que estudamos no grupo, o
que fazemos lá... . Então você talvez já
possa decidir alguma coisa, mas com condições de escolher, não às cegas.
Bem... É a minha proposta. E então, o
que pensam?
Já passava de meia noite. A conversa foi tão interessante, que não
perceberam as horas passarem.
Despediram-se como se fossem
velhos amigos. Já na porta, Lúcia
abraçou a amiga avisando que ligaria no dia seguinte.
Clara, guardou a bandeja com as xícaras, o que restou do lanche e se preparou para
deitar-se. Estava se sentindo muito bem.
Gostou de conhecer aquele homem. Bonito e interessante.....
MCCA
continua...
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